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PROJETO FAZENDA ESCOLA FUNDAMAR /
MONOGRAFIAS SOBRE EDUCAÇÃO
Revelação de uma experiência de 10 anos
Escola Estadual Fudamar
Cadernos Estudos Sociais
por Maria Lúcia Prado Costa 1994
C/ dados atualizados em 2003
Há quase 20 anos, o Projeto Escola Fundamar vem teimando contrariar alguns mitos
sobre educação rural em Minas Gerais. Instalado no Sul do Estado, numa área de
90 ha., às margens da rodovia MG-453, que liga Machado a Paraguaçu, a Escola
Estadual Fundamar atende diariamente cerca de 500 alunos de 1 1/2 a 16 anos de
idade, filhos de trabalhadores rurais. As famílias dessas crianças compõem um
mosaico que bem retrata a situação de expropriação do homem do campo: 30% das
famílias são de pequenos proprietários descapitalizados que prestam serviços
eventuais às fazendas próximas; 40% das famílias são de trabalhadores empregados
de Fazendas de café e 30% das famílias que trabalhavam na área rural próxima à
Escola e emigraram para a periferia de Paraguaçu.
Contrariando o tabu de que o trabalhador rural prefere ter o filho trabalhando
na lavoura do que na escola, a Fundamar mantém estas crianças numa jornada de 8
horas de escolarização entre atividades formais de ensino e atividades em
oficinas de artes e ofícios, cerâmica e cestaria, fiação e tecelagem;
marcenaria; horta e viveiros. Para subsidiar este projeto de nucleação do ensino
rural, da creche à 8ª série do 1º grau, a Fundação 18 de Março - Fundamar, em
convênio com seus parceiros - SEE-MG, SETAS CAD - mantém cursos de formação de
professores, serviços de alimentação, de assistência médica e odontológica e
ainda serviços de transporte para professores, funcionários e todos os alunos da
Escola Fundamar, sendo que o transporte gratuito é tido como fator decisivo para
o sucesso do projeto.
Contrariando ainda a idéia de que a criança da roça só vai para a escola depois
de completar 7 anos de idade, a clientela da Fundamar está na faixa etária de 1
1/2 a 6 anos de idade é a que mais tem crescido nos últimos três anos, são 140
crianças com freqüência regular na educação infantil.
Mitos
Mais do que quebrar velhos mitos que rondam a educação em termos genéricos, a
Fundamar vem amadurecendo um modelo pedagógico a partir do enfrentamento de
antigas questões que sempre permearam o ensino da criança da zona rural.
Na visão tradicional - tradicional e nem assim superada - são questões
recorrentes: um conteúdo diferenciado da escola pública urbana, significando
esta diferenciação um reducionismo à realidade imediata; a inclusão no currículo
da escola rural de técnicas de trabalho manual, principalmente agrícola; a
extensão dos serviços educativos da escola rural para as áreas de saúde,
saneamento, formação técnica, etc, junto à comunidade atendida.
Estas questões têm como pano de fundo a concepção de que o aluno da roça tem um
universo mental mais afeito às coisas do que às idéias; seu espaço de interação
no mundo estaria restrito à zona rural, sendo esta sempre entendida em
contraposição à zona urbana; sua função no espaço rural se limitaria ao
trabalho, e este é preconcebido num mundo idílico do homem em harmonia com a
natureza.
É evidente que, a tecnologia alterou profundamente os processos produtivos; as
relações sociais no campo mudaram; a televisão levou para a roça os padrões
estéticos e comportamentais da sociedade de massa. Mesmo frente a este universo
em profunda transformação, a educação rural mantém-se em geral com os mesmos
pressupostos da década de 30.
Neste contexto de quebra de antigas "verdades" e de fomento de um outro tipo de
demanda pela educação rural, evidenciado por múltiplas evidências práticas, é
que a Escola Fundamar vem estruturando seu projeto pedagógico.
Um de seus projetos em andamento é a produção de Cadernos de Estudos Sociais
pelos alunos das séries iniciais do ensino fundamental. A idéia é que a criança
seja levada a falar, problematizar e elaborar seus próprios conceitos sobre sua
realidade concreta: a família, resistindo contra o processo de desagregação; a
casa, onde se mora provisoriamente; a fazenda, que gera riqueza pouco repartida
Estes temas e os outros subseqüentes são conteúdos do programa regular de ensino
público, mas aqui são pesquisados sob a ótica da criança e não sob o padrão
estandardizado das cartilhas de estudos sociais. Neste trabalho tem-se também
como objetivo investigar - na perspectiva da teoria construtiva - como as
crianças elaboraram seus conceitos de tempo e de espaço, neste contexto de
superposição entre tempos e espaços diversos: roça e cidade.
Para oferecer subsídios à elaboração dos cadernos de estudos sociais pelas
crianças, as oficinas da FUNDAMAR vem elaborando um banco de dados sobre a
história e a geografia da comunidade atendida pela Escola. Artesãos de diversos
ofícios, graus de escolaridade e historias de vida bastante distintas, vêm
pesquisando sobre os seguintes temas: ocupação e estrutura fundiária; café;
gado; pequena produção; educação e saúde; religião e lazer. Para cada tópico
pesquisado elaboram material didático de fácil assimilação: estórias em
quadrinho; mapas; textos ilustrados; peças de teatro para atores e para
fantoches; maquetes; jogos, etc. Este material, depois de registrado em fotos,
fitas de vídeo e editorado em fascículos, compõe o Banco de Dados para consulta
de alunos e professores e de toda a comunidade.
Este trabalho de levantar e recuperar fontes de consulta - sempre escassas e
dispersas -; questionar dados dos compêndios de história e de geografia de
Paraguaçu e de Machado; relacionar a história local com os processos sociais
gerais do Sul de Minas; criar novas hipóteses de pesquisa; preencher lacunas;
registrar o espaço rural e seus movimentos: a arquitetura, a moda; criar uma
literatura sobre estes temas - enfim, fazer da realidade, objeto de estudo
permanente da escola tem sido bastante instigante. Equipar alunos e professores
para a prática do raciocínio histórico e geográfico tem sido um dos desafios de
nossa pedagogia.
Acreditamos que este e outros desafios pedagógicos, em construção na Escola
Fundamar, mereçam ser objeto do interesse de educadores e políticos interessados
em desvelar a nossa cara da educação rural em Minas Gerais. |
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