FAZENDA ESCOLA FUNDAMAR
 / HISTÓRICO
I) Enfoque no desenvolvimento comunitário - 1984/85
II) Enfoque na supervisão não formal - 1986/87/88
III) Enfoque na proposta pedagógica escolar - 1989/92
IV) Convivência de várias pedagogias - 1993/...

I) Enfoque no Desenvolvimento Comunitário - 1984/85
A Escola Fundamar surgiu com expectativas bem modestas, bastante aquém da amplitude que veio a ter posteriormente.

A Fundamar - Fundação 18 de Março foi criada em junho de 1978 na capital do Estado. Em 1981, em convênio com a Associação das Damas de Caridade de Paraguaçu, a Fundamar realizou um trabalho de horta comunitária para os alunos da cidade no Parque Municipal Olinto Oliveira Leite, local também denominado "Bomba". Neste projeto, os alunos recebiam uma bolsa de estudo da Fundamar para aprenderem o trabalho de horticultura em um turno após a escolarização formal (realizada em escolas públicas da cidade).(1)

A experiência, de poucos resultados significativos, trouxe como ensinamento para a Fundamar a idéia de que qualquer projeto na região deveria vir a ser promovido e administrado pela própria Fundamar, restringindo a ação gerencial das entidades locais.

A idéia de uma escola rural, contudo, surgiu como decorrência do trabalho dos instituidores e coordenadora da futura Escola, como proprietários e gerente, respectivamente, da Fazenda Santa Rita em Paraguaçu. Preocupados com a falta de perspectivas das crianças, filhos de seus empregados, decidiram investir na educação básica da infância da área da fazenda e das áreas a ela adjacentes.

Sem estímulo das autoridades locais, conhecedores dos altos índices de evasão das escolas rurais do município, a Escola Fundamar iniciou seu trabalho como denominação provisória de Escola Anexa à E.E. do Bairro do Chico dos Santos(2).

O Jornal “A Voz da Cidade” de 24.01.84 noticia:

"A Fundação 18 de Março - Fundamar - está implantando no município de Paraguaçu a primeira Fazenda-Escola de Minas Gerais, visando à aprendizagem e o desenvolvimento de técnicas agrícolas para trabalhadores rurais e pequenos produtores dos municípios de Machado e Paraguaçu, e a formação integral do homem do campo." (grifos nossos)

Em 1984, matricularam-se 27 alunos para um único turno de escolarização em sala multisseriada, mas já integrando o ensino formal ao pré-profissionalizante.

Também neste ano, a escola obteve seu decreto de autorização para funcionamento e a Fundamar firmou com a SETAS - Secretaria do Estado do Trabalho e Ação Social de MG, à época sob coordenação do Secretário Ronan Tito, convênio de apoio para a Escola Fundamar, onde se incluiu elaboração do projeto técnico; ajuda de custo e transporte para viagem dos técnicos.

Em 1985 a rede física é ampliada, com recursos da Fundamar, cada turma tem sua sala, inclusive o pré de 6 anos. O funcionamento do pré de 6 anos é autorizado em 31.01.85 (autorização nº. 62/85).

No 2º semestre de 1985 a jornada escolar foi duplicada para que os alunos (120 crianças matriculadas), à tarde, freqüentassem as oficinas de pré-profissionalização. Inicialmente os alunos de 1ª a 4ª série faziam o rodízio por todas as oficinas em módulos de 50 minutos: palha e retalho / fiação / cerâmica/ horta.

Posteriormente se percebeu a necessidade de fixação dos alunos por maior tempo numa oficina, eliminando-se o rodízio.

A definição das oficinas de trabalho não obedeceu a nenhum critério prévio, nem à observação de experiências afins. Em linhas gerais, procuravam-se ofícios ligados à matéria-prima disponível no meio rural e com alguma tradição na região. Mas a instituição da oficina e seu desenvolvimento sempre dependeram da disponibilidade da mão-de-obra artesã, bastante escassa na região.

Neste período de implantação os objetivos do Projeto Fundamar eram muito amplos: além das crianças, pretendia-se atingir também as famílias dos trabalhadores rurais. O trabalho era norteado por slogans, como: "Fixação do homem no campo", "Agricultura orgânica", "Geração alternativa de renda".(4)

Para tanto se previa com o trabalho direto na comunidade (clube de mães; time de futebol; conjunto musical) a divulgação de normas corretas de plantio; higiene; educação para o lar; direitos trabalhistas; história de vida, etc.

A expectativa de que a comunidade se organizasse e superasse os entraves a sua emancipação era evidenciada na proposta de que o Projeto Fazenda Escola Fundamar viesse a ser gerenciado por um conselho Comunitário quando então a Fundação 18 de Março sairia do Projeto.

Analisando este período de implantação percebemos que na falta de uma proposta pedagógica própria, o Projeto Fundamar incorporou a ideologia do senso comum sobre educação para a classe trabalhadora rural. Nesta visão, a escola tomaria para si o encargo de superar os entraves para a emancipação dos trabalhadores rurais.

Diz o projeto elaborado pela Secretaria de Estado do Trabalho e Ação Social de MG, em 1984, como proposta para a Fazenda-Escola Fundamar:
(...) “A curto prazo procurar estancar os problemas atuais de região: êxodo rural da força jovem em particular e a alta taxa de evasão escolar”. (grifos nossos)(5)

O funcionamento da escola como unidade autônoma foi autorizada pelo decreto estadual 24.541 de 22.06.85.

II) Enfoque na Supervisão Não Formal - 1986/88
Preocupada com a eventual distorção entre suas propostas e a supervisão eventualmente disponível nos quadros da SEE-MG, a Fundamar opta neste período por evitar a contratação de supervisores da rede oficial de ensino.

O esforço da Fundamar se concentra na formação de um administrador local do Projeto, para suprir a ausência de D. Creusa, coordenadora do mesmo, ainda residente em Belo Horizonte.

Para tanto, é contratada Cândida Prado, no 2º semestre de 1985. Com o insucesso da experiência de contratação de uma pessoa da cidade de Paraguaçu, é convidada uma professora de Belo Horizonte, Vilma Avelino, que exerce a função de administração da Escola no período do 2º semestre de 1986.

Após a experiência das duas administradoras, uma de Paraguaçu, outra de Belo Horizonte, é forjada a transferência da coordenadora do Projeto, D. Creusa, para Paraguaçu em maio de 1987.

Paralelamente a estas tentativas administrativas, experiências pedagógicas foram sendo testadas neste período. Procurando-se uma supervisão mais adequada aos amplos objetivos do projeto, é contratada uma pedagoga de Belo Horizonte, Maria Auxiliadora Franco, que trabalhou aqui somente durante o mês de agosto de 1986.

Nova tentativa é esboçada com a pedagoga Sônia de Oliveira, então residente em Machado, mas a experiência não deu bom resultado.

Em novembro de 1986 foi firmado o convênio com o FNDE - Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (MEC) para a construção das oficinas de fiação e cerâmica (hoje Artes e Ofícios).

Persistindo no objetivo de se atingir a comunidade, houve a experiência de aula noturna para os adultos como Curso de Educação Integrada. Os resultados não foram bons, e a experiência durou de 1985 a abril de 1986.(6)

Já nesta época é introduzido na Escola o material didático do Programa MG-II, projeto de desenvolvimento comunitário para o pequeno produtor rural de Minas Gerais. A cartilha "Vivina e Fafau" elaborada com temas da zona rural por este Programa é adotada, mas de forma superficial e sem grande adesão da professora de 1ª série.(7)

Já em 1987, iniciou-se o ciclo básico de alfabetização, procurando integrar o 1º e 2º ano do 1º grau e com isto diminuir os índices de evasão.

Neste período, procura-se suprir a ausência de supervisão pela reciclagem de pessoal: cursos para monitores de oficinas com artistas plásticos de Belo Horizonte (Amílcar de Castro; Edmar Almeida), estágio de cerâmica no Salão do Encontro em Betim; cursos com o pessoal da Delegacia Regional de Ensino (Sandra Zava); palestras de especialistas de educação da SEE-MG (Luzia Ribeiro Pereira); os cursos na escola com professores de Belo Horizonte (Mirian Machado - recreação e Annie Rosestaian - tecelagem), etc.

As reuniões de "reciclagem" têm como preocupação a divulgação da proposta do Projeto Fazenda Escola Fundamar e a superação dos problemas de convivência através de técnicas de dinâmica de grupo.

Em 1988 iniciou-se um trabalho de aulas de português com os professores com a orientação da Alzira Umbelino, professora em Belo Horizonte.(8)

Também em 1988 cria-se a oficina "Classes Preparatórias" definindo como objetivo de pré-profissionalização para o CBA - Ciclo Básico de Alfabetização - a feitura de um objeto útil com matéria-prima do meio rural.(9)

Em 1988 inicia-se o atendimento à comunidade do Macuco somando-se uma matrícula de 250 alunos.

Para a pré-escola (pré de 6 anos criado em 1985, ampliando sua matrícula até a criação do maternal em 1988) é contratada a supervisão mensal da psicóloga Isa Teresinha Rodrigues, com experiência em creches comunitárias da periferia de Belo Horizonte.(10)

Neste período pouca coisa é concretizada em termos de integração oficinas e escola formal. Os objetivos propostos em agosto de 1985 com base na expectativa de que a oficina seria o local ideal de verificação e teste da adequação de ensino formal para os alunos não se realizaram.

A proposta de que um professor da escola formal alocado em cada oficina fizesse a "ponte" entre o conteúdo da educação e o trabalho realizado não frutificou.

Muitas experiências foram testadas para integrar oficinas e escola formal. A mais extremada delas foi um painel quinzenal afixado no quiosque resumindo o programa de cada turma na sala de aula e na oficina.

Analisando este período, constatamos a inconstância das propostas pretendidas por diversos motivos convergentes:
- indefinição do calendário oficial para o trabalho de formação dos professores;
- ausência de equipe técnica local capacitada para realizar este trabalho;
- e, ainda e principalmente, a pouca ressonância da linha de pensamento dos técnicos convidados "de fora" sobre a prática concreta dos professores da Escola.

III) Enfoque na Proposta Pedagógica Escolar - 1989-1992.
O período iniciado em 1989 é marcado por uma reorientação da linha de ação da Fundamar em relação ao Projeto Fazenda Escola Fundamar.

Em primeiro lugar, firmou-se o primeiro convênio entre a Fundamar e a SEE-MG dando forma jurídica à cooperação que já vinha acontecendo desde o início.

Em 17.10.83 um termo aditivo ao convênio assegurou a contratação de dois professores para cada turma de creche, pré-escola e professora para parte diversificada do currículo dos alunos de 5ª a 8ª série, que estudavam na cidade.

Em segundo lugar, procedeu-se ao recrutamento para compor a equipe técnica da Escola, de professores do seu próprio quadro funcional. Em 1989, a professora Assunta Maria Valério Pereira exerceu a função de supervisora e a professora Aparecida Araújo de Brito, a Doca, a função de auxiliar de serviço social, cargo que ocupou até o final de 1990.

Procurava-se integrar o trabalho de ambas as professoras em suas novas funções com debate de temas relacionados às questões sociais da região.

Em 1990, a professora Assunta Valério, por licença médica, foi substituída pelo professor José Roberto Tomé na função de supervisão. Em 12.11.90 é firmado novo termo aditivo com a SEE - MG fixando a lotação das turmas de creche na faixa etária de 0 a 3 anos, em no mínimo de 10 e máximo de 15 crianças por turma, mantendo pessoal em número adequado para atendimento em 8 horas diárias.

Este período é marcado pela divulgação da proposta de nucleação do ensino rural em nível nacional.(11)

Fortalecida a idéia de "escola" em detrimento da idéia de desenvolvimento comunitário, a Escola Fundamar centra sua ação na pesquisa de uma pedagogia escolar propriamente dita.

Neste novo contexto, a comunidade passaria a ser atingida não pela Escola diretamente, mas pelos alunos da Escola no projeto de extensão real, expressão retomada (e revista) da prática da EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural.

Caberia aos alunos extensionistas rurais promover em seu grupo de convivência a organização comunitária em torno de questões de saúde, saneamento, cultura, lazer, memória e direitos sociais.

Em 1989 são criadas as oficinas de costura, culinária, datilografia. A proposta de extensão comunitária norteou o convênio entre a Fundamar e o BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Através deste convênio se montaram além das oficinas novas, o refeitório e o barracão de almoxarifado. Cláusula também importante do acordo com o BNDES era a obtenção de capital de giro para os plantios de milho e batata.

Em 1991, criou-se a oficina de marcenaria.

No esforço de se aprimorar uma pedagogia à Escola Fundamar são introduzidos os módulos temáticos.
A proposta dos módulos era de que a escola discutisse um mesmo tema durante um determinado período, com profundidade e visão crítica. Pretendia-se levar o aluno, através da experiência concreta, a elaborar conceitos próprios e críticos sobre o tema estudado. A proposta incluía a integração de conteúdos da língua, da natureza e da sociedade. Procurava evitar os temas e a forma da escola tradicional (datas cívicas, valores padronizados, estética pasteurizada, repetição de slogans, etc).

Os módulos foram produzidos no período de 1989/90 e 91. Depois disto, com a "redescoberta" dos livros do Programa MG-II, principalmente dos livros didáticos, os módulos são propositadamente reservados a uma posição secundária. Com isto se pretendia dar prioridade absoluta à cartilha "Novos Caminhos".

Visando descentralizar a supervisão das diversas áreas da Escola há, a partir de 1992, um supervisor para a pré-escola; um para 1ª a 4ª série, um para oficinas e um para os bolsistas (alunos matriculados no ginásio na escola urbana e com um turno de oficinas na Fundamar).

Foram eles, na mesma ordem: Berenice Sant'Ana, Assunta Valério, Maria Lúcia Prado Costa e José Roberto Tomé.

IV) Convivência de várias pedagogias - 1993/....
O ano de 1993 marca dois fatos importantes. A Fundamar obtém da SEE-MG autorização para abrir turmas de 5ª a 8ª série. Inicia-se também, nas turmas de 2ª a 4ª série, o Projeto Cadernos de Estudos Sociais.

Este, patrocinado inicialmente por VITAE - Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social, e pela SEE-MG, foi testado paulatinamente nos anos de 1993 (2ª série), 1994 (2ª e 3ª séries) e 1995 (2ª, 3ª e 4ª série) em três frentes de trabalho, a saber: a produção do caderno de Estudos Sociais pelo próprio aluno; a formação de um Banco de Dados sobre o Tempo e o Espaço da Comunidade; e ainda o desenvolvimento de um grupo de estudos com as supervisoras de todos os setores da Escola. O objetivo do projeto é fazer da realidade do aluno o objeto constante de problematização, investigação e sistematização pedagógica.

Desde então, este programa se incorporou à pedagogia do 1º ciclo do ensino fundamental da Escola, passando por diversos professores e supervisores e já sem o fôlego dos anos de teste, mas sempre sob a mesma coordenação. As referências teóricas deste programa incorporam a preocupação em investigar o desenvolvimento intelectivo das crianças de zona rural na construção dos conceitos de tempo e espaço e ainda os objetivos de uma pedagogia de politização dos alunos na construção do que então chamávamos de "cidadania", expressão hoje já caída em descrédito, mas cujo significado em sentido amplo ainda norteia nosso trabalho.

Este período infelizmente foi marcado por constantes mudanças no quadro de supervisores da escola formal. A exceção das oficinas que, desde maio de 1991, se mantém sob a mesma supervisão, os demais setores vêm sofrendo intensa rotatividade de supervisores, fator por certo desastroso para solidificação de uma pedagogia consistente.

Além da rotatividade dos postos-chave da pedagogia da Escola, este período também coincide com intensas e controversas mudanças nos fundamentos e estruturas do ensino fundamental.

A lei de Diretrizes e Bases da Educação - L.D.B., nº. 9394 de 20.12.96, e os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) vieram propor, verticalmente, novas concepções de educação, novos critérios de enturmação, distribuição do tempo escolar, progressão automática e avaliação de alunos, hierarquização de conteúdos - estes relegados a segundo plano em favorecimento aos Temas Transversais: Ética, Meio-Ambiente, Saúde, Pluralidade Cultural, Sexualidade, Trabalho e Mercado de Consumo.

A justificativa destas reformas é que "na pedagogia tradicional, os conteúdos são desvinculados da realidade social e, apresentados sequencialmente nos programas curriculares; são transmitidos aos alunos por meio de atividades que não levam a uma reflexão mais aprofundada sobre o seu uso social e funcional, não contribuindo, portanto, para a formação de sujeitos autônomos, construtores de seu projeto de vida e de sua cidadania”. (16)

Quanto à estruturação do ensino em si, a proposta inicial da SEE-MG na gestão do governador Eduardo Azeredo (1995-1998), de aglutinação em ciclos flexíveis, é questionada por seu sucessor, Itamar Franco, que lança para cada escola da rede pública do estado de Minas Gerais a opção de escolher pelo sistema de ciclos ou de se manter o sistema de seriação, ou - ainda para espanto de todos - optar por um sistema híbrido de seriação e ciclos. Evidentemente estas marchas e contramarchas do órgão central trouxeram para dentro de cada escola, e entre elas a Fundamar, questões muito complexas que vêm sendo pouco ou mal assimiladas pelo corpo docente, com repercussões desastrosas junto aos alunos e pais. A opção da Fundamar pelo sistema de ciclos se fez mais para atender à demanda do órgão central; não foi resultado de uma escolha consciente e coletiva. Portanto, a partir do ano 2000, a Escola se estruturou formalmente em ciclo básico (1ª, 2ª e 3ª série); ciclo intermediário (4ª, 5ª e 6ª série) e ciclo avançado (7ª e 8ª série).

Assim, muito do que se pretendia como flexibilização, agilidade, diversidade, na prática vem resultando em confusão, contradição e autoritarismo.

Exemplo radical deste ambiente confuso viveu a Escola por ocasião da municipalização do atendimento da pré-escola preconizada pela L.D.B. - Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Em fevereiro de 1997, a orientação da 41ª S.R.E. era para que o atendimento de nossa pré-escola (141 crianças) fosse assumido pelas Prefeituras Municipais de Machado e de Paraguaçu e, na impossibilidade deste compromisso, a SEE-MG não mais arcaria com a manutenção deste setor. Com o desinteresse das Prefeituras e o não pronunciamento da própria Fundamar - Fundação 18 de Março diante do impasse, a coordenação da Escola se posicionou pela manutenção da pré-escola como pré-requisito para funcionamento da Escola como um todo, enfrentando resistências e pressões de toda ordem. Restabelecido o atendimento da pré-escola - fator decisivo para garantia de frequência dos irmãos mais velhos matriculados nas séries subsequentes do ensino fundamental, além de constituir em si direito assegurado pela Constituição Federal (1988) e referendado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a Escola se fortaleceu não só junto à comunidade escolar, mas também em relação a seus parceiros - inclusive a própria Fundamar - Fundação 18 de Março.

Mas, paralelamente a estas graves questões de ordem institucional, este período vem sendo marcado pela maturidade das relações entre a Escola e a comunidades. A Fundamar vem conseguindo demarcar e criar canais de participação da comunidade na Escola, à altura da capacidade e interesse dos pais. As reuniões de pais, até o 2º semestre de 1999 realizadas à noite e desde então transferidas para as tardes de domingo, três vezes por semestre, organizadas por setor, têm por objetivo principal levar os alunos a demonstrar para seus pais o que e como aprendem aqui na Escola. A presença maciça dos alunos, professores, monitores e pais do setor transformam estes momentos em "festa" de confraternização e lazer para a comunidade escolar.

A incorporação da comunidade, portanto, vem se centrando no conhecimento de algumas atividades do fazer pedagógico da Escola, sendo este fazer o elo real entre a Escola e a comunidade.

Contudo, a qualidade das relações entre Escola e Comunidade tem que ser avaliada com reservas, conforme adverte o deputado Márcio Moreira Alves, em reportagem no jornal "o Globo" de 11.01.1997 sobre a Escola Fundamar:
(...) "Mas há um obstáculo, como o nível educacional e econômico dos pais e alunos é muito baixo, o seu nível de exigência é praticamente nulo. Acham que estão recebendo mais do que merecem”.
Em junho de 2003, a Escola Fundamar ganhou o Prêmio Criança 2002 da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, na categoria Educação Infantil. De junho de 2001 a junho de 2003 o Programa Crer para Ver da Fundação Abrinq patrocinou a revitalização do Projeto Cadernos de Estudos Sociais.
Nesta retrospectiva histórica dois fatores parecem dificultar a maturidade pedagógica da Escola Fundamar: a rotatividade das supervisões e as alterações na organização formal dos ciclos do ensino fundamental.

Os dois últimos mandatos da Direção da Escola são nitidamente marcados por esses dois fatores. No mandato de Altaíde Xavier Junqueira (2000-2003) e Cibele Ercília Pinto Costa (2004-2007) houve quatro supervisoras na Educação Infantil; três supervisoras no 1º Ciclo; duas supervisoras no 2º Ciclo.

Novas reestruturações do ensino também marcam o período destes dois últimos mandatos da diretoria da Fundamar, promovidas pela Secretaria de Estado da Educação. A Resolução nº. 151 da SEE-MG, de 18.12.2001, prevê a organização do ensino em ciclos ou séries. Optando pelos ciclos, estes passam a ser organizados da seguinte forma, já em 2002: Ciclo Básico (3 anos - antigas 1ª, 2ª e 3ª séries); Ciclo Intermediário (3 anos - antigas, 4ª, 5ª e 6ª série) e Ciclo Avançado (dois anos - antigas 7ª e 8ª séries). Esta foi a opção da Escola Estadual Fundamar.

Em 2004, o governador Aécio Neves ampliou o Ensino Fundamental para 9 anos, incorporando as crianças de 6 anos completados até 30 de abril daquele ano e as crianças que completassem 7 anos no período de 1º de agosto a 31 de dezembro daquele ano. Opositores dessa decisão governamental acusaram o Governador de querer açambarcar mais recursos do FUNDEF - Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental, então restrito à população de 7 a 10 anos.
Assim o antigo Primeiro Ciclo foi subdividido em Ciclo Inicial de Alfabetização (3 anos) e Ciclo Complementar de Alfabetização (2 anos). O Ciclo Inicial se divide em três fases: Introdutória; Fase I e Fase II. O Ciclo Complementar compreende por sua vez a Fase III e a fase IV. O antigo segundo Ciclo volta a ter as velhas nomenclaturas: 5ª; 6ª; 7ª e 8ª série.

Em suma, novos arranjos para a tradicional seriação.

Assim, se vínhamos tentando traçar a nossa história pedagógica tomando como linha-mestra as expectativas que a Fundamar - Fundação 18 de Março manteve em relação à Escola desde a sua instituição, talvez possamos dizer que este último período demonstrou duas verdades - que aqui como tais permanecem até serem desmentidas.

A primeira delas é que a construção de uma pedagogia única, monolítica, coesa e coerente para todos os setores da Escola é uma utopia. A ciranda de supervisores, o descompasso dos órgãos centrais, a alta rotatividade de nossa clientela e a nossa limitada competência como educadores nos obrigam a conviver com diversas pedagogias, ou melhor dizendo, diversas ações de ensino não necessariamente constituintes de uma corrente pedagógica. Assim, tais ações de ensino vêm se contrapondo, se superpondo e, às vezes, por acaso, até se complementando.

A outra convicção é a de que a Escola já responde por si própria. Pelos mitos que derrubou, pelo trabalho que implementou, pelo respaldo que conquistou junto à comunidade, pelo prestígio com que é reconhecida pela opinião pública, e pela força que demonstrou nos momentos de ameaça de ruptura institucional, já não lhe cabe mais atender as expectativas de outrem.

Resultado do esforço de muitos, da generosidade da entidade instituidora, da persistência de sua coordenação local, a Escola se firma pelo compromisso diário de adesão de seus mais de 500 alunos.

Maria Lúcia Prado Costa

Agosto/2006.
Atualizado em maio/2008.




1 O jornal "A Voz da Cidade" de 11.04.1981 dá destaque ao fato, informando sobre o convênio firmado entre a Fundação 18 de Março e o PRODECON - Programa de Desenvolvimento de Comunidades, do governo estadual (gestão Tancredo Neves).
2 A área para funcionamento da Escola foi cedida em comodato à Fundamar pela Fazenda Santa Rita S/A. Em outubro de 1988 foi feita a doação em caráter definitivo.
3 A orientação desta época era dada pela professora Maria Consuelo Costa, Conchita, futura diretora da Escola no período de 1987 a 1991, inclusive.
4 A horta era coordenada à época pelo pesquisador Sr. Franz Lener, austríaco especializado em agricultura orgânica, e pelo engenheiro agrícola Flávio Barcelos de BH. A cerâmica era coordenada por Pierre Fatosi, artista plástico francês. A oficina de fiação e tecelagem era coordenada por Francisca Martins e Alzira Mendes, da cidade de São João da Mata, todos residentes na Escola.
5 SETAS-MG. Projeto Fazenda Escola. Pg. 14. Banco de Dados Fundamar
6 O curso de educação integrada era ministrado pelo Prof. Júlio César Souza, pela Profª. Maria Helena Junqueira e Profª. Cláudia Viana.
7 A cartilha "Vivina e Fafau” convive com a cartilha já adotada na escola "Caminho Suave".
8 Relatórios arquivados no Banco de Dados Fundamar.
9 Para divulgação do Projeto é feito um boletim mensal de agosto de 1987 a dezembro de 1988, também arquivados no serviço social.
10 Em 1989, esta supervisão é cancelada após avaliação dos poucos resultados decorrentes da inconsistência do atendimento "in loco". Em 1991, novo convite é feito, agora através da AMEPPE - Associação Movimento de Educação Popular Paulo Engler, vinculada à Fundação Fé e Alegria - instituição de trabalho da mesma psicóloga. Por esse novo contrato pretendia-se maior assiduidade da supervisão e a ampliação da equipe de supervisores.
11 O jornal Estado de Minas de 17.07.92 noticia outras experiências de nucleação de ensino rural inspirados no exemplo da Fundamar, com destaque para o projeto Vila Rural, do município do Carmo do Rio Claro, Sul de Minas.
12 Jornal "A Voz da Cidade" 14.01.1989.
13 Este projeto foi objeto de divulgação em vídeo no módulo sobre "Produção do Conhecimento" do PROCAP - PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO DE PROFESSORES da SEE-MG financiado pelo Banco Mundial, na gestão do governador Eduardo Azeredo.
14 Em 1994, a supervisora de 1ª a 4ª série, Assunta Valério, saiu da Escola sendo substituída pela então supervisora da pré-escola, Berenice Sant'Anna. A supervisão da pré-escola passou a ser exercida por Izabel Coelho. Neste mesmo ano, Dayde Campos Prado, supervisora do ginásio, foi substituída por Clariselma Carneiro. Em 1997, por restrição da SEE-MO, o quadro é limitado a duas supervisoras no ensino formal: Bernadete Selicani Tavares atende a pré-escola e as 1ª e 2ª séries (Ciclo Básico de Alfabetização) e Maria da Conceição Morais Taglialegna atende da 3ª à 8ª série do ensino fundamental. Em 1999, a supervisão da pré-escola ficou com Lourdes Brito, a de 1º ciclo com Bernadete Selicani e a de 2º ciclo com Cibele Ercília Costa. No ano 2000, novo arranjo é feito ficando Cibele Ercília Costa na pré-escola, Bernadete Selicani Tavares no 1º ciclo e José Roberto Tomé, diretor da Escola nos mandatos de 1994 - 1999, no 2º ciclo.
15 Em 1996, as oficinas lançam o documento MEMORIAL DE UM PROJETO DE ARTE-EDUCAÇÃO PARA CRIANÇAS DO MEIO RURAL. No período de 1997 e 1998, 6 monitores conseguiram se graduar no Curso de Suplência em Magistério, oferecido pelo Projeto Chama da SEE-MG.
16 PROCAP - Reflexões sobre a Prática Pedagógica. SEE-MG. 1998. Pg. 17. Relatórios dos Cadernos de Estudos Sociais são editados neste mesmo ano pela Fundação 18 de Março.
17 Esta questão foi objeto da Resolução nº. 006 de 20 de janeiro de 2000 da Secretaria de Estado da Educação.
18 Em 1996, a comunidade do Ouvidor passou a ser atendida.
19 Na Educação Infantil foram supervisoras: Cibele Pinto Costa (2000-2003); Margarida Castilho Vigato (2004); Marcela Reis e Silva (2005) e Lourdes de Brito Souza (2006). No primeiro Ciclo foram supervisoras Bernadete Selicani Tavares (1999-2003); Zilene dos Santos Junqueira (2004); Cláudia Alves Cabral (2005), voltando Bernadete Selicani Tavares em 2006. No segundo ciclo, foi supervisor José Roberto Tomé no período de 2000 a maio de 2001, quando abandonou o cargo deixando o setor acéfalo até agosto do mesmo ano, quando assumiu provisoriamente a função Maria Goretti Vinagre Junqueira, para exercê-la oficialmente a partir de outubro de 2001.
20 Informativo MAI de Ensino. Nº. 313 de janeiro de 2002. Pg. 21.
21 O FUNDEF foi substituído pelo FUNDEB - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica - Valorização dos Profissionais da Educação - incorporando crianças desde a creche.
FUNDEB - Lei nº 11.494 de 20 de junho de 2007.
22 Idem. Resolução. Nº. 469 de 22 de dezembro de 2003. Pg. 31.
< Voltar

 
 
HyperLink
 
HyperLink
 
HyperLink
 
HyperLink
 
HyperLink
 
 
   
 
 
   
 
 
     
 
© 2007 Fundação 18 de Março. Todos os direitos reservados.  
Sede: Rua Manoel Couto, 105 - Cidade Jardim
Belo Horizonte - MG - CEP 30380-080
Tel.: 3282-4363 - Fax: 3281-2015
Fazenda Escola Fundamar: Rodovia MG 453 - Km 7
Paraguaçu - MG - CEP 37120-000
Telfax.: (35) 3267-2309