Carlos Lacerda de A a Z
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ABOLIÇÃO - “Seu marido, Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, o Barão do Pati, na minuciosa memória que escreveu sobre o modo de formar e manter uma fazenda, falando da relativa improdutividade e absoluta carestia dos escravos, na terra escalavrada, chega a recomendar que para evitar a quebra na produção é conveniente fazer os moleques que descascam amendoim assobiarem durante o trabalho, para não comerem demais aquele grão. E já plantavam amendoim e mandioca porque, com escravo ou sem ele, a terra já não dava café, e o café já não dava o que dera. Esta realidade, ignorada muito tempo pela história oficial para a qual foi a Abolição que desorganizou a agricultura, desvendou documentadamente o jovem mestre americano Stein, que fez o que no Brasil fizeram os Varnhagen, os Capistrano de Abreu, os Rodolfo Garcia, os Gilberto Freyre, os Otávio Tarquínio e poucos mais: foi às fontes. A renovação estava no ar, todos a sentiam. A escravidão já estava liquidada, antes de acabar. Não sem antes atrasar o Brasil, ao sobreviver além de toda expectativa”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 46/47). ACASOS – “É mais difícil acreditar no mero acaso, numa série infinita de coincidência, do que naquilo que os gregos chamaram fatalidade, o sentido do destino e os cristãos chamam a Providência”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 195). AÇÕES AO PORTADOR - "Abolir ações ao portador, é salvaguardar os interesses da economia nacional e permitir que se conheçam a origem e a propriedade do capital das empresas". (Justificativa Projeto 360 em 14.905.55 – apud Maria Atayde Albite Ulrich in "Carlos. Lacerda e a UDN – 1955-1965" – Dissertação de Mestrado - PUC/RGS/1984, página 79)(*) ADOLESCÊNCIA - "Letícia costuma dizer que tem muita pena da juventude, de suas indecisões e perplexidades. Não sei se é caso de pena, mas certamente não há maior estupidez do que invejar a adolescência, essa maravilhosa idade da vida em que as pessoas sofrem a infelicidade de não saber o que são. Dizem que conselho não se dá nem a quem pede. Eu dou porque vivo recebendo outros." (“Rosas e Pedras”, edição 2001, página 128). ADVOGADO I - "Gosto do advogado que resolve, não do que cria dificuldades". (Manchete de 18.07.77. p. 53 e em “Rosas e Pedras do Meu Caminho”, ed/UnB-Fundamar, 2001, página 94). ADVOGADO II – “Mas tenho muito respeito pelo jurista que se incumbe de pôr ordem na liberdade, desde que não a sufoque em nome da ordem. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 63). AGOURO – “o meu agouro consistiu em prever, por intuição e experiência de quem aprendeu a própria custa avaliar o resultado dos erros de boa ou má fé, na sorte do País. Creio estar em condições de prever sem precisar de adivinhação planejante, o que vai acontecer ao país, se a dureza de uma política econômica sem flexibilidade persistir sem contrate e sem crítica válida”. (“O Brasil entre a Verdade e a Mentira”, edição Bloch, 1965, página 81). AMBIÇÃO I – “Sou dos querem tudo. Por isso é que não sou ambicioso no sentido vulgar do termo, dos que aspiram alguma coisa em particular, uma só, consagradora e definitiva. Não tenho a ambição da legião de honra ou a de ser troço na vida. Tenho ambições bem maiores. E um temor considerável de me deixar esmagar pelo êxito, medalhar-me, consolidar-me na mesquinharia”. (“Crítica e Autocrítica”, ed/Nova Fronteira, 1967, página 13). AMBIÇÃO II - ”A mediocridade predominante na política brasileira desde o seu esvaziamento pela ditadura tende sempre atribuir miseráveis ambições a quem tem altas aspirações. Permita dizer-lhe, Senhor Presidente, que ao lado de muitos erros que não escondo, e dos quais sempre procuro corrigir-me, tenho dado exemplos de desambição que me autorizam nesta matéria, dar e não receber lições de quem quer que seja.” (Carta ao Presidente Castelo Branco, apud Cláudio L. de Paiva, “Carlos Lacerda – 10 anos Depois”, editora Nova Fronteira, 1987, página 142). AMIZADE I – “Confesso que sou amigo incerto, nas horas certas, embora nas outras horas, as incertas, procure acertar. O culto superficial de amizade que consiste em visitinhas, cartões e telegramas, não é o meu forte. Muito ao contrário. Tento às vezes, mas em vão”. (“Crítica e Autocrítica”, ed/Nova Fronteira, página 15/16). AMIZADE II - "Amigos de infância, companheiros de profissão, colegas, por imposição de disciplina partidária, por decisão órgãos superiores do Partido Comunista, passaram a difamar-me, a mim e à minha própria família. É claro que não lamento a perda desses amigos que não o eram. São esses mesmos que fazem a conspiração do êxito de semi-literatos, de uma "cotérie" literária, artística, jornalísticas, etc., conforme o maior ou o menor grau de submissão de seus elementos ou interesse à "linha" do comunismo" ("Palavras e Ação", editora Distribuidora Record, 1966, página 98). AMOR E ÓDIO - "Um italiano, o mesmo que recriou "A megera domada", deu agora à tragédia de "Romeu e Julieta" a dimensão que talvez Shakespeare lhe quisera atribuir. Franco Zefirelli, ao dirigir esse filme na adaptação de Franco Bussati e Massolino d’Amico, não somente criou uma obra de insuperável beleza como deixou marcado, sem nenhuma deformação, o sentido revolucionário dessa obra: o drama do amor que pelo sacrifício pacifica uma povo no qual o ódio dominante mantém a opressão e o medo. Até agora vi cinco vezes essa obra" (Carlos Lacerda, "O CÃO NEGRO", edição Nova Fronteira, 1971, páginas 25/26)”. AMOR PRÓPRIO – “A distinção entre prazer e sofrimento é muito sutil e às vezes imperceptível. Por isto mesmo, viver não é para mim apenas contemplar a vida, mas multiplicá-la pela participação. Quase diria, se não fosse o pudor de parecer exagerado, que o principal sintoma de estar vivo é ser útil. Mas ser útil, é uma obra que exige paixão. Até porque, no meu entender, o amor ao próximo é a mais alta forma, a mais requintada, do amor próprio; é o máximo de perfeição que o egoísmo pode chegar”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, 1966, página 25). ANALISTAS - “Posso dar outro exemplo: a esquizofrenia. Melhor dito, as esquizofrenias, pois é no plural que se deve tratar do assunto. Temos visto analistas tratarem esquizofrênicos como vitimas do pai e da mãe, ou de ambos. Isto durante anos e a peso de ouro. (Aliás um dos truques mais freqüentes da psicanálise é o de tomar ao pé da letra velhas recomendações de Freud, segundo as quais o analisando tem que pagar o analista – e pagar em dia – sob pena do seu tratamento ir para o brejo; o que faz do analista, talvez, o profissional que inventou um ritual de defesa contra o calote. Não pagou não se trata. Fiado nunca). (“Em Vez ...”, 2a edição da Nova Fronteira de 1975, páginas 63/64). ANGÚSTIA – “Sei que Tom(Jobim [1]) não quer parecer um magoado, um ressentido. Nem tem razão para o ser, esse criador, esse vitorioso. Não é questão de mágoa, é de angústia. Não é ressentimento, mas apenas sentimento do mundo nesta alma delicada, neste coração aflito. Queira ou não, isto ninguém evita, simplesmente assume porque tem boca, dois olhos e um nariz. Olhos curiosos que me interrogam. Angústia de ser, de viver, que resolve seu transe, seu trama e se liberta, em música”. (“Em vez”, editora Nova Fronteira, segunda edição de 1976, páginas 147/148). ANJO DE BIBLIOTECA - "Acaso? Pois sim. Chego a divertir-me, quando tenho um assunto a estudar, deixando que ele venha a mim ao mesmo tempo que eu vou ao seu encontro. Dei ao fenômeno um nome, pelo qual é conhecido lá em casa. Chamo-lhe meu anjo-bibliotecário. Raramente ele atrasa: e nunca falha". (Carlos Lacerda, "O Cão Negro", editora Nova Fronteira, 1971, página 51). APARTE I ao deputado JOSÉ PRESIDIO: "a julgar pelo partido que representa (PTB) e as companhias com quem anda, está com o sobrenome carregado de destino". (apud Carlos Alberto de Barros Santos, em “Nos descaminhos da Memória” de Carlos Alberto de Barros Santos, ed/imprensa oficial, 2002, páginas 12/14). APARTE II à deputada Ivete Vargas - "Agradeço à nobre Colega o elegante aparte com que honrou e constrange-me dizer que se o meu discurso é um purgante, o aparte da nobre aparteante é o efeito". ("Fatos e Fotos" de 06.06.77, pagina 18 )(*) APARTE III à deputada Ivete Vargas - "V. Excia. é muito jovem para ser minha Mãe" ( aparte à mesma deputada que ingressou no plenário o chamando f.d.p. segundo Carlos Brickmann in Jornal da Tarde de / / ). APARTE IV – ao deputado ÚLTIMO DE CARVALHO - "Acordar cedo para chefiar um Governo desonesto (de Juscelino) é pior do que dormir até tarde". (Discurso pronunciado em 06.12.57 e publicado no DO de 18.12.57, Seção I apud Maria Alayde Albite, fls. 228/220). APARTE IX - a quem lhe escreveu, usando palavrões, queixando-se de que tinha sido tratado como cretino, devolveu a carta com o bilhete: “Cretino não precisava provar que o é. Eu já sabia”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 79). APARTE V – Ao General Costa e Silva que pretendeu cortar a palavra dos Governadores revolucionários no Ministério da Guerra: “Bem General, o problema é o seguinte: eu não sei onde o senhor estava em 1945 e nem sei aonde o senhor estava em 1954, mas sei onde o senhor estava no onze de Novembro, o senhor estava ao lado do General Lott. De maneira que eu não preciso pedir licença para lhe falar no Palácio da Guerra. Quer o senhor queira ou não vou dar o recado que lhe trouxemos”. ( Cláudio L. de Paiva, “Carlos Lacerda e os Anos Sessenta – Oposição”, editora Nova Fronteira, 1988, página 72). APARTE VI – no Aeroporto de Orly ao ser indagado como se sentia a saber que era conhecido na França como derrubador de Presidentes: “Conheço outros mais ilustres. O general De Gaulle derrubou um presidente antes de mim”. (Cláudio L. de Paiva, “Carlos Lacerda e os Anos Sessenta – Oposição”, editora Nova Fronteira, 1988, página 79). APARTE VII - Em Orly ao ser indagado como explicar uma revolução sem sangue no Brasil, respondeu: “Foi uma revolução como os casamentos na França”. (Cláudio L. de Paiva, “Carlos Lacerda e os Anos Sessenta – Oposição”, editora Nova Fronteira, 1988, página 79). APARTE VIII - a um deputado que o aparteou com a expressão “V. Excia. é que é ladrão!”, Carlos Lacerda indagou “Ladrão de que ?” Da “honra alheia”. “Neste caso fique tranqüilo porque nada tenho a furtar de V. Excia.”. ( Carlos Alberto Santo, “Nos Descaminhos da Memória”, ed/imprensa oficial, 2002, página 14). APARTE X - Em Orly em 24 de abril de 1964 ao ser indagado sobre o apoio americano ao golpe de 64: “Nós não tivemos o apoio do Plano Marshall como vocês tiveram aqui. Ainda não.”. (Cláudio L. de Paiva, “Carlos Lacerda e os Anos Sessenta – Oposição”, editora Nova Fronteira, 1988, página 79). APARTE XI - Em Orly em 24 de abril de 1964 ao ser indagado sobre a depurações que estavam havendo no Brasil: “Não houve depuração. Houve algumas prisões, cassação de alguns mandatos. As Forças Armadas fizeram isto para manter o Congresso aberto. Nós fizemos muito menos do que vocês após a Libertação. Não raspamos cabeça de mulheres, não fuzilamos ninguém”. (Cláudio L. de Paiva, “Carlos Lacerda e os Anos Sessenta – Oposição”, editora Nova Fronteira, 1988, página 72) APARTE XII – Ao líder da maioria Vieira de Melo: “Tenho sempre muito prazer em dar a V. Excia. o meu tempo, já que V. Excia. o perde comigo”. (“Discursos Parlamentares”, edição Nova Fronteira 1982, página 322 na Sessão do dia 4 de Setembro de 1957). ARITMÉTICA - "Não sei até hoje extrair uma raiz quadrada. A cúbica então é uma ficção científica". "Trato com bastante cerimônia as frações. Não saberia distinguir as próprias das impróprias". (“Rosas e Pedras do meu caminho”, edição Fundamar-UnB, 2001, página 95). ARMANDO SALLES DE OLIVEIRA - "Estava, porém, diante de um homem - talvez o único (Júlio Mesquita Filho), hoje, no Brasil - ao qual dou o direito de errar, pois, se um erro existe, é baseado unicamente no sofrimento e no patriotismo. Quantos anos perdeu de sua vida, se a isto se chama perder, na prisão e no exílio, para salvar a honra, e com ela, o que ficou da pátria sob a ditadura? Seu cunhado, Armando Salles de Oliveira entregou-lhe a execução da sugestão que lhe dera, e no governo de São Paulo ele lançou as bases da universidade - o maior serviço até hoje prestado ao Brasil, em matéria de formação séria de um corpo dirigente, e cuja existência fez com que o surto industrial do governo de Juscelino Kubstcheck pudesse ter o apoio e não ser apenas uma transplantação de dinheiro, técnica e pessoal de fora para cá". (“Rosas e Pedras”, página 179). ASSESSORES – “Nada há mais perigoso do que uma política conduzida por assessores através de homens do Estado que se convertem em meros executivos e, portanto, deixam de ser estadistas para serem porta vozes de seus assessores. É preciso cuidado para não confundir condução de negócios de Estado com gerência de uma casa comercial. O melhor economista, o melhor construtor de barragens, só por isto, não se transformam em estadista”. (Carta ao jornal O Estado de São Paulo, apud Cláudio L. de Paiva, “Carlos Lacerda – 10 anos Depois”, editora Nova Fronteira, 1987, página 170). AUSÊNCIA – “Porém o próprio desses períodos, senão deles, dos que lhes sofrem as conseqüências, para não dizer os eflúvios ou emanações, a decisão de marcar a presença, pela ausência. Uma delas é a de se recusar a existir numa competição de mediocridades pressurosas, de concorrências espúrias. Menos espetaculosas do que outras, exige mais firmeza, dessa espécie rara e difícil das firmezas sóbrias e honradas, que tiram partido de si mesmas porque visam a, simplesmente, não ceder, não capitular; sem esperar sequer o reconhecimento público dessa difícil arte que é a de abster-se”. (“Em vez ...”, 2a edição de 1975, Nova Fronteira, página 13). AUTOBIOGRAFIA I – “A mim me espanta ver como é vazia a minha biografia. O que dá, às vezes, uma confortadora sensação de mocidade, embora perturbadora sempre por uma fonte renitente de imaturidade. Mau pintor, mau político, mau jardineiro, amigo incerto e fugaz, escritor bissexto e sem sucesso, orador cansativo embora sensacionalista, o que salva é uma certa capacidade de emoção que nasce de um defeito maior do que todas as deficiências: só sei dizer o que sinto”, (“Crítica e Autocrítica, editora Nova Fronteira, s/d, páginas 21/22). AUTOBIOGRAFIA II - "Ao longo de toda a minha experiência de luta, combatendo governos durante mais de trinta anos, governando cinco anos, trabalhando como parlamentar durante seis anos, escrevendo mais de cinco mil artigos políticos, afora outros, em cerca de 37 dos meus 52 anos de idade, tudo o que me faz parecer mais velho do que me sinto, tenho o direito de ser acreditado, ao afirmar que os erros no Brasil são, substancialmente, os mesmos e decorrem, fundamentalmente, das mesas e poucas razões". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 115). AUTOBIOGRAFIA III – “Muito moço ainda para entrar nos assuntos existenciais de minha geração, tive que fazer opção entre três posições: uma de inconformismo para virar o mundo de cabeça para baixo – necessariamente de esquerda; outra para colocar o mundo de cabeça para cima – e também de inconformismo – um mundo altamente hierarquizado, em que as estruturas tradicionais se cristalizavam e que era obrigatoriamente uma posição fascista ou semi-fascista e um mundo que seria eternamente uma “belle époque” em termos sociais, em que nada havia a alterar e em que uma grande massa de pessoas continuaria inteiramente ignoradas e abandonadas à própria sorte”. (Entrevista nas páginas amarelas da Revista Veja de 8 de maio de 1974). AUTODEFINIÇÃO – “Sou feliz, sem nenhum ressentimento, com alguns arrependimentos e um ferocidade superficial, que me defende da ingenuidade nativa e dessa incansável alegria de viver ” (...) “Meu destino, parece, é fazer às pressas o que requer vagar e de vagar, o que a rigor, demanda pressa”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 32). BANCOS - "Assim esse Cosme de Médici que projetou o Banco tal qual conhecemos hoje, com a invenção de um sistema pelo qual se deposita dinheiro numa cidade para receber noutra bem distante, livrou a nascente burguesia européia da ameaça constante dos saques nas estradas, dos assaltos em que se compraziam os bandos feudais em perpétua disputa, todos mobilizados contra a formação de um Poder Nacional. A concessão papalina das jazidas de alúmen, usado para as nascentes tecelagens européias, com o nome de bauxita que depois lhe outorgaram, por causa da bela região provençal de Les Baux, deu aos Médici, além da posição de banqueiros na Europa, a de fornecedores privilegiados da indústria nascente". ("O Cão Negro", 2a edição Nova Fronteira, 1971, página 65). BANDEIRA, MANUEL - "Demos, sem vergonha nenhuma um grande abraço. E começou o que Bandeira, num verso único, chamou o lado cabaré da vida comunista. Tenho horror a essa exibição de sentimentos íntimos.... Minha admiração pelo poeta só não é maior do que minha ternura por sua pessoa, sua grande valiosa pessoa; eu queria ser humano como ele é, como um pardal que vê um "tiê-sangue" voar. Não é inveja, é boquiabrir o coração de toda obrigação perante o espírito. Dizia Sthendal que tudo que é ético, quando atravessa a fronteira da Itália se transforma em estético. A ética se confundiu com a estética. Éramos os trânsfugas dos nossos próprios sentimentos, tínhamos o preconceito de não os ter, afrontávamos nossas próprias convenções, intencionalmente exageradas pela emoção a desafiar". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, página 204). BANQUETE DA VIDA – “Penso que o povo brasileiro tomou consciência das coisas boas da vida. Acho que a grande maioria do meu povo está ansiosa para participar desse banquete da vida. É por isto que penso que a luta de classes não terá sucesso no Brasil, que a revolução social tornou-se um anacronismo e que há uma revolução tecnológica. A tecnologia fará por nós o que Karl Marx queria fazer para o mundo”. (“Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, 1966, página 148). BÁRBAROS I – “A civilização do império romano, afinal diluída ao mesmo tempo que salva pelo que erradamente se chamou a “invasão dos bárbaros, ou seja fecundação de culturas em crise por culturas intactas, e ainda que estouvadas, jovens e prontas a aceitar a influências como foram as dos celtas e dos árabes”. (“Em vez”, 2a edição da Nova Fronteira, 1975, página 172). BARBAROS II – “O Império Romano que não se fez só pela conquistas de terras, também não caiu só pelo que chama se chama “invasão dos bárbaros”. A invasão dos bárbaros muitas vezes promovidas pelos próprios romanos, como preço a pagar pela sua própria prosperidade e grandeza, por sua paz e opulência, diluiu o império e barbarizou os romanos, enquanto romanizava os bárbaros. Indro Montanelli, que compõe a história em compasso de crônica, mostra isto lindamente. Falta alguém que faça isto com o Império Americano. Lá estão, nos guetos e nas universidades, os eruditos “bárbaros” que corroem o império”. (“Em vez...”, página 215/216) BENEDITO VALADARES - "José Américo vai a Minas Gerais e promete dar a Minas a siderurgia que era a grande reivindicação dos mineiros. Benedito Valadares faz o famoso improviso, saudando José Américo como candidato das forças revolucionárias de 30. E diz: O nosso grande candidato Ministro José Américo promete a Minas o aço. E começou a improvisar sobre o aço: O aço com que se fazem as locomotivas. O aço para fundir os nossos canhões. Quando falou em canhões lembrou-se que isto poderia parecer estranho nos ouvidos de Getúlio Vargas. Então parou e ficou pensando para que serviriam os canhões. Canhões sim, mas não para matar. ("Depoimento", editora Nova Fronteira, 1977, páginas 32/33). BERNARDES - "Quando mais uma vez, ele já morto, acusaram-no de ter impedido o Brasil de exportar minério de ferro pelo contrato com o grupo representado pelo inglês Percival Farqhuar, pedi a Bernardes Filho que me desse as provas, que alegava ter, justificativas da atitude do pai. Publiquei-as. Na realidade, o Presidente Artur Bernardes não foi contra a exportação de minério de ferro. Apenas, o contrato Farqhuar continha uma cláusula pela qual esta se obrigava a construir uma usina para exportar minério. Ao ser publicado, o contrato não continha a cláusula primitiva. Bernardes cobrou a usina. Teria feito a siderurgia no Brasil muito antes de Volta Redonda. Foi acusado, a vida toda, de ter impedido, por mero capricho e falta de visão, a exportação de minério". ("Rosas e Pedras", página 132). BERNARDES, Arthur - "Fez um gesto solene, mandou-me sentar defronte da sua poltrona e disse, presidencialmente: "Quero lhe agradecer a generosa referência". Fez um gesto majestático, com quem encerra a audiência. Ouvi-o falar algum tempo. Todo o seu ser vivia política, um amante do espírito público. Fora daí, pouco sabia das encrencas do mundo, aquele homem que levou às últimas conseqüências a certeza de que encarnava a Lei, a ponto de prender e de ser preso, de fazer sofrer e de sofrer, para defendê-la. Um homem sem nenhuma experiência da vida, pois sua vida foi do Colégio Caraça, dos jesuítas da serra à polícia, dentro da qual viveu. Era o senso da missão que ele tinha? Em todo caso não mistificação". ("Rosas e Pedras", página 111). BOA FRASE – “A esta altura devo dizer: reconheço que gosto de uma boa frase, de uma piada justa e isto faz-me parecer, por vezes, cruel. Até a pressa de terminar o discurso ou o artigo. E desagrada ver que com isto divirto a platéia. Tanto mais quanto, a crueldade alheia me tem ferido muito, e disto parece que poucos se apercebem, pois nunca me creditaram o sofrimento e a decepção. (“Critica e Autocrítica”, edição 1966 da Nova Fronteira, página 35). BOI DE PIRANHA – “Gente que se elegia a custa de outros. A UDN, por exemplo, viveu muito às minhas custas neste terreno. É por isto que continuo dizendo que fui o boi de piranha da UDN. Quer dizer, aquele boi atirado ao rio para que as piranhas o comem para que o resto da manada possa passar incólume. Eu sugeri uma mudança na profunda da lei”. (“Depoimento”, editora Nova Fronteira, página 157). BOM SENSO - "Não tenho medo que me considerem medíocre ou estúpido, pois tenho tranqüilidade a esse respeito. Sei ler e escrever, e até falar sem muitos solecismos. Por isso mesmo posso me dar ao luxo de dizer que o que mais falta no Brasil é o bom senso. E assim como a política não é incompatível com a inteligência, esta não se opõe necessariamente ao senso comum. Resignei-me a não ostentar minhas angústias como é próprio do intelectual. Não arvoro um otimismo demagógico epidérmico, como é próprio do político sem idéias. Sei quanto custa fazer as coisas, quando se quer fazer o certo. O senso comum, a inquietação e a ansiedade dos brasileiros não decorrem de um impulso revolucionário das massas. (“Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, 1966, página 182 e em "Lacerda, Idéias sim, Ideologia não", Manchete n. 607 de 7/12/1963, página 15). BOSSA NOVA – “A música popular brasileira anda ressentida do que Ari Vasconcelos chama “o esforço”. No teatro, na serenata, na gravação mecânica, “os cantores tinham necessidade de gritar”. A bossa nova, em vez, é em surdina. É a música do microfone abafado. A musica no tom confidencial, mais ou menos do gênero “meu neguinho”, doçuras de cafuné, mas igualmente ironias suaves, um tanto ou quanto gordurosas, toucinhos-do-céu. A sua batida conquista o mundo. E Tom? Que fará Tom, agora, com o Tropicalismo, o samba afro-brasileiro, a música do terceiro mundo?”. (“Em vez”, editora Nova Fronteira, 2a edição 1976, página 135). BRASIL CAPITALISTA – “O que se assiste no Brasil é uma revolução capitalista. O povo adquire hábitos de consumo, deseja ser proprietário, percebe que a autoridade é essencial à liberdade. A maior parte dos intelectuais que simpatizam com o comunismo são anarquistas que não ousam dizer seu nome. Simpatizam com as criticas dos comunistas às estruturas. Mas abominam o comunismo como solução quando o conhecem”. (in Revista Manchete n. 607 de 7 de dezembro de 1963, página 115). BRASIL EM 1947 - "O Brasil está, por seus problemas, no segundo dia da criação. A Europa está crepuscular. Não tenhamos dúvida, ela irá renascer de tudo isto - e se não soubermos, se não quisermos agir, há de ressurgir precisamente à nossa custa. O maior brasileiro será, hoje, aquele que compreender a necessidade de mobilizar consciências e braços para a mais rude das tarefas: criar rapidamente uma Nação na grande terra comum que hoje é apenas o esboço de uma nação; tornar consciente um povo que, por dois terços de suas almas, é apenas vegetal. Vamos, vamos, não temos tempo a perder". ("Como foi perdida a Paz - Estudos e Crônicas” editora Ipê, 1946). Paz", edição Ipê - Instituto Progresso Editorial S.A., S.P., 1947, página 31)(*) BRASIL GRANDE - "Se me perguntarem porque prevejo essa crise terei de escrever outro capitulo que esta história não comporta mais nem entra nos propósitos que levam a escrevê-la. Creio que poderia definir o problema, à luz de uma experiência sincera dizendo que o Brasil cresceu mais do que os homens que o dirigem e esses homens, com raras exceções, perderam essa medida. Quando o Brasil era pequeno, uns poucos grandes homens lhe bastavam; quando não os havia fazia-se de conta, como se fossem. (...) Ultimamente o Brasil foi governado por um certo tipo de mentalidade diante da qual o País continua a ser pequeno e débil a ponto de não poder se mover por seus próprios pés. Não conseguindo voltar ao Tejo para embarcar ali um novo Dom João VI, esse tipo de mentalidade voa para o Potomaque, e às suas margens proclama o seu horror à independência. Agora dir-se-ia que o Brasil se sente independente, mas não sabe o que fazer com esse sentimento. Deseja afirmar-se, mas não sabe bem o que diga. Deseja crescer mas tem certeza que esse crescimento não será acompanhado pelas calças e continuam preocupado com que não apareçam as canelas. Fez-se uma revolução, mas tem-se receio de dizer que a fez e a entrega à guarda dos que nem a fizeram, nem a entenderam, nem sabe o que ela virá a ser. Defendem o adjetivo, entregam o substantivo, desperdiçam o verbo". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, páginas 299/300). BRASIL I - "A grande batalha do Brasil é contra a miséria, contra o seu atraso, contra o desperdício de oportunidades, de energias, de recursos e de vida. O nosso ódio, devemos concentrá-lo nisso, não é necessário odiar para isso. O nosso amor, devemos concentrá-lo nisso, e não no culto a este ou àquele herói". (“O que há por de traz da Frente Ampla, "Carlos Lacerda, O Sonhador Pragmático" de Mauro Magalhães, página 330). BRASIL II - “O Brasil cresceu mais do que os homens que o dirigem e estes, há muito tempo, com raríssimas exceções, perderam essa medida. Quando o Brasil era pequeno, uns poucos grandes homens lhe bastavam; quando não os havia, fingia-se de conta, como se fossem”. (Carlos Lacerda, “Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 299). BRASIL III – “Em poucos anos se pode fazer do Brasil uma nação moderna e do povo o seu instrumento e o seu único herdeiro. Pois o povo que herdou a terra chamada Brasil não pode viver nela como se fosse um intruso apenas tolerado pelos que em vez servi-la apossaram-se dela e julgam poder salvá-la quando nem justificar-se conseguem”. (“Crítica e Autocrítica”, edição Nova Fronteira, sem data, página 30) BRASIL IV - “O Brasil ainda é atrasado de mais para pretender ser uma democracia adiantada. Mas é um país adiantado demais para se conformar a viver sob tutela. É melhor ter uma democracia atrasada e melhorá-la do que não a ter, e não a melhorar. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 115). BRASIL V - "Mais grave é essa omissão quando se considera - poderia estar disto convencido - que o Brasil, como toda América, tem uma grande função neste mundo de ódios visguentos, de agudos desvarios e depressões monstruosas. Somo realmente uma nação de paz, temos a vocação de cordialidade e neste sentido poderíamos ser hoje, no mundo, juntamente com umas poucas nações, mais um fator de equilíbrio, depósito de esperança latente. A nossa humanidade recebeu, por via dos portugueses que hoje Salazar procura deformar, o legado da convivência, o segredo da infância permanentemente assegurada". ("Palavras e Ação", editora Distribuidora Record, 1947, página 12). BRASILEIRA, CIVILIZAÇÃO - "Como é hoje esse fundo de cultura ameríndio e africano sobre o qual se forma a civilização mestiça tropical de que somos, no Brasil, a primeira grande e positiva demonstração, tal como na zona temperada foram os ingleses e os franceses, ou na Ásia, absorvendo o que a China, Portugal e as universidades americanas ali desembarcaram, veio ser o Japão. Por isto o Brasil entrará no século XXI como um novo fator de civilização mundial, capaz de absorver toda novidade porque não tem muito lastro a retê-lo senão o medo do seu próprio destino". (Carlos Lacerda, "Em vez", 2a edição, Nova Fronteira, 1975, pagina 173/174). BRASILEIROS – “Somos um povo sem rancores, cuja alegria nada consegue destruir, cuja esperança nunca esmorece, cuja bravura ninguém domou, cuja honra ninguém escarneceu, cuja fibra ninguém destroçou, cujo entusiasmo ninguém abateu. Somos o povo que rechaçou o invasor e a coligação de nativos com ele. Somos o povo que fez a luta da independência, completando os esforços dos mineiros, antecipando-se aos dos baianos, consolidando os dos paulistas do Ipiranga. Somos o povo que fez as lutas da Maioridade e da Regência, apoiando e dando ressonância aos dos nossos irmãos do Pará, do Maranhão, do Rio Grande do Sul. Somos o povo dos movimentos liberais, que resgatou o sacrifício dos heróis de 42, de São Paulo e Minas Gerais (...) Nosso pensamento profundamente brasileiro, é internacional – porque somos um povo ecumênico, voltado para o nosso tempo, abraçado com o futuro”. (Coligido por Luis Carlos Lisboa, Jornal da Tarde de 03/05/1978, parte tirada de “Uma Rosa é uma Rosa é Uma Rosa”, 2a ed/Record/1966, página 145/146). BRIGADEIRO – “Eduardo Gomes que até hoje é símbolo de dignidade na firmeza com que sustenta, sem nunca renegá-los, os ideais daqueles dias distantes (*); basta saber, como um dia se saberá amplamente, a atuação que tem tido para conter desatinos e violências, covardias e barbaridades que desonrariam instituições inteiras não fora a sua inabalável força moral”(**) . (“Em vez”, editora Nova Fronteira, 2a edição 1975, página 39). página 04) BUSTO DESCONHECIDO - "Pois bem, é o único túmulo que existe dentro da Faculdade de Direito de São Paulo. Lá existem dois estranhos. Um é o de Julius Frank que está enterrado num daqueles pátios internos sem nunca ter sido professor catedrático, ou aluno, nem funcionário. Foi criador da Bucha. Outro estranho é a minha cabeça: posei para uma escultora chamada Adriana Janacópolis, que era cantora. Encomendaram a ela uma cabeça de estudante paulista morto na Revolução Constitucionalista e, como não havia nenhum estudante morto paulista disponível no momento, no Rio de Janeiro ela pediu para posar. Eu posei e ela fez a minha cabeça em bronze dourado que está lá no pátio da Faculdade de Direito. Somos os dois estranhos. Só que ele fundou a BUCHA e eu não fundei nada". ("Depoimento", edição Nova Fronteira, 1977, página 88). CÂNCER – “Mas havia qualquer coisa a crescer no seu (de José Lins do Rego) corpo. Uma sombra como essas que no crepúsculo começam a descer sobre a fulguração do céu. Ele mudava de cor e me parecia como esses estanhos antigos que nos antiquários marcam, no fundo das prateleiras, a presença de uma forma cujas cores, já não distinguimos bem. Esse homem exuberante, das gargalhadas homéricas, dos risos sacudidos, das histórias, das anedotas, dos casos contados em seqüência, trazia pela primeira vez a timidez de quem se cuida e as cautelas de quem pressente o inimigo à porta”. (“Em vez ...” , 2a edição da Nova Fronteira em 1975, página 22). CANDIDAURA JANIO QUADROS - "Qual o perigo da candidatura Juracy? A UDN oficial, os políticos da UDN, iria adorá-la. Juscelino, instado por Juracy, poderia apoiá-la. Jango, sem saída, talvez a recomendasse, se não preferisse apoiar Jânio e ganhar com Jânio, contra nós. O resultado dessa conjunção seria a manutenção de tudo que o Brasil precisa abolir e o atraso de tudo o que o Brasil não precisa admitir. Não seria uma aliança de forças em torno de qualidades das forças aliadas e sim exatamente, em torno dos seus defeitos. E ainda o perigo do Jânio ganhar a eleição só com o povo, contra essa coligação política, aparentemente invencível. Neste caso somente uma ditadura populista poderia resultar daquele desafio e da vitória. Muito melhor era dar a Jânio um instrumento político e fazê-lo vencer dentro dos quadros normais do processo democrático, não apenas na hora de votar, mas igualmente na hora de governar". (“Rosas e Pedras”, páginas 275/276). CAPITALISMO SEGUNDO FREUD – “O capitalismo passou a ser explicado pela permanência, no homem, da fase infantil anal, do prazer da retenção das fezes – pois não é certo que elas têm a cor do ouro? Não, não é certo, mas isto não importa para quem faz conta de chegar com excrementos. A prisão de ventre passou a ser a precursora da acumulação de capital – eis a engenhosa teoria que numa espécie de delírio de generalização e explicação, o dogmatismo freudiano pôde chegar”. (“Em Vez ...”, 2a edição da Nova Fronteira em 1975, página 59). CARAVAMA DA LIBERDADE EM 1960 1 - "Em 1960 estávamos diante de uma sucessão presidencial decisiva e perigosa para as nossas idéias. Juscelino Kubstcheck havia acumulado um capital de popularidade praticamente invencível. Juracy Magalhães procurava se impor à UDN como o único udenista que podia ser apoiado pelo Presidente Juscelino e pelo Vice-Presidente João Goulart. Como presidente da UDN, havia-me recrutado para as caravanas da liberdade, nome sob o qual percorremos juntos todo o Brasil, em experiência memorável que lamento não poder evocar aqui. Do território do Rio Branco (que mudou de nome) onde corremos risco de vida, até Santa Maria da Boca do Monte, o Exército, comandado por Osvino Alves, dispôs soldados para evitar o choque com os homens do Governador Leonel Brizola, a quem se atribuía à promessa de que não sairia com vida do Rio Grande do Sul, fizemos comício em todos os Estados". (“Rosas e Pedras”, 275). CARISMA – “A idéia que se criou, muito devido ao nazismo e ao fascismo, de que carisma seja sinônimo de fenômeno de uma mística autoritária, é absolutamente falsa. Não conheço nenhuma liderança democrática que não tenha carisma, que não tenha também por isto mesmo um efeito carismático”. (“Depoimento”, página 223). CARTA BRAND I - "Nessa fase um jornalista de Campos trouxe-me, através de um companheiro da Tribuna, um argentino que dizia possuir carta de João Goulart a um peronista de nome Brandi, falando de legações entre o peronismo e movimento getulista no Brasil. As ligações entre os dois grupos, o argentino, existiram. Ficou provado na Argentina, depois da queda de Peron, que certas transações foram feitas mediante comissão empregada no custeio de operações políticas no Brasil. A carta relatava fatos, cuja substancia era verdadeira. E tinha todo aspecto de carta autêntica. Tanto que as primeiras apurações do grafólogo e do IPM então instituído, sob a presidência do General Maurell Filho, se inclinaram pela sua autenticidade. O argentino não pedia dinheiro por ela e trazia apresentações razoavelmente idôneas. Trouxe a carta a público, então e pedi um inquérito para apurar se era ou não autentica. (...) Consumada a eleição de Kubstcheck, e como vice, João Goulart, a comissão militar chega aa conclusão de que a carta era falsa". (“Rosas e Pedras”, pagina 262). CARTA BRAND II - "Ao denunciar a existência da carta e a reclamar para ela um inquérito sério, estava sob a impressão de que os fatos relatados na carta eram semelhantes a outros que sabia verdadeiros. Tinha o direito a essa impressão pelos antecedentes, pelas ligações entre João Goulart e o ditador argentino Perón, que eu conhecia, numa afinidade, que ele próprio não negou quando nos encontramos, pela primeira e única vez (*), em 1951. Se o governo brasileiro não tivesse interferido junto ao argentino, que derrubou Peron em 1956, para evitar que este confirmasse as provas que vi nas mãos de alta personalidade argentina; se a maioria, na Câmara, não houvesse abafado o Inquérito Parlamentar sobre a venda do pinho brasileiro (…) Argentina como fonte de receita para o custeio de campanha política no Brasil, como ficou provado em inquérito do governo militar argentino, que negou diplomaticamente o fato" (“Rosas e Pedras”, paginas 262/263) (*) – (Equívoco do narrador. Duas vezes, pelo menos. Uma em 1951 quando foi convidado para escrever o Estatuto do PTB e outra em 1967, no URUGUAI, para formar a Frente Ampla). CASSAÇÕES - “Afinal, liberto do compromisso imediato com o povo, você poderá cuidar da sua família e conviver, livre e desembaraçadamente, com os seus amigos. Este é o benefício da sua cassação. Quantos aos efeitos maléficos, são piores para os outros, os cassadores, do que para você. E pior, também para o Brasil, pois fica assim provado que a honestidade, a fidelidade, a coragem, são crimes punidos pelas autoridades que, mais do que todas, por sua origem militar, deveriam prezar e preservar tais atributos. A injustiça só diminui o injusto, não a vítima. Esta cresce e avulta na planície. Você sai maior do que ao entrar na vida pública. Pode ser que ela volte. Enquanto isto não ocorrer, fique certo de que deixou um exemplo”. (Carta de Carlos Lacerda ao deputado Mauro Magalhães de 30 de abril de 1969, em “Minhas Cartas e as dos Outros”, edição Unb-Fundamar, 2004). CASTELO BRANCO I – “Preferia que o senhor Castelo Branco fosse ladrão de dinheiro, pois poderíamos eventualmente perdoar ou obrigá-lo a devolvê-lo. Mas como poderá devolver o que roubou ao Brasil? A oportunidade perdida, a união malograda, a confiança dispersa, a decepção consagrada, a astúcia convertida em ideal revolucionário, a rotina como norma de renovação, a institucionalização da indignidade, a oficialização da intriga, a morbidez da delação e o estimulo à adulação substituindo a dignidade, o estímulo, a esperança e aquela eminente qualidade dos brasileiros, a tolerância?” (“Critica e Autocrítica”, edição Nova Fronteira, 1966, página 35). CASTELO BRANCO II - "Antes de ir para o Poder nunca vi Castelo Branco protestar, mas se agachar - sempre, recusando-se a participar de todo protesto até o dia em que o protesto serviu à sua vaidade e à sua ambição, que são patológicas porque não são uma afirmação, mas uma compensação. A dubiedade é o traço dominante do caráter desse homem que simulou, a vida toda, o que agora já não esconde, o seu horror à lealdade, o seu gosto pela intriga, o seu fraco pela adulação". ("Crítica e Autocrítica e Carta a um Amigo Soldado”, edição 1966, página 50). CENSURA I – “Abomino toda censura porque toda censura é abominável na medida que em que cultiva a irresponsabilidade discricionária de uns e habitua à irresponsabilidade , à alienação total a maioria das pessoas, assim privadas do seu dever de tomar partido e tomar decisões”. (Seleção publicada pela revista Manchete n. 824 em 06 de junho de 1977). CENSURA II – “Para mencionar um só exemplo: daquele jornal que me denunciou à Sociedade Interamericana de Imprensa por uma censura imposta aos jornais, nas horas que sucederam à renúncia de Jânio Quadros, pelo Coronel Golbery do Couto e Silva, então Secretário do Conselho de Segurança Nacional – e hoje, caro amigo, informante e por vezes esclarecido orientador da imprensa amiga. Não cobro as injustiças que sempre me são cobradas. E muitas vezes pago, para me ver livre dos credores. Tenho horror das pessoas que gostam de aparecer sempre como credores”. (“Crítica e Autocrítica”, Nova Fronteira, edição de 1966, página 35). CÉREBRO I - "A única vez que o assunto me preocupou deveras foi ao ler um livro que recebi, em português, com o título, "O Despertar dos Mágicos". E ali o que mais me impressionou foi a confirmação que não sabemos ainda, para que servem cerca de duas terças partes do cérebro humano. No entanto têm esses dois terços a mesma composição". (Carlos Lacerda, "O Cão Negro”, 2a ed/Nova Fronteira/1971, página 48). CÉREBRO II – “Que faz aí essa maior parte, estes dois terços do cérebro cuja função se desconhece? Têm a mesma natureza, a mesma consistência, forma semelhante, e aspecto e cor, do pequeno terço cujas funções mais ou menos se conhece: a memória, a palavra, o movimento, etc. Será aquela engenhosa e insuperável precursora do computador eletrônico que acumula os dados do real e do supra real e nos fornece resposta inesperadas, como a transmissão de sensações e pensamentos, a impressão de já ter visto, mistura de passado e futuro, premonições?”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, página 21). CHALEIRISMO – “Se alguma coisa me dá medo é o incondicionalismo. Medo é pouco. Devo dizer: pavor. Já o experimentei em todos os degraus da vida. É envolvente, vertiginoso, abissal. Comporta toda sorte de desenvolvimento. No plano pessoal, chamou-se no Brasil, “chaleirismo”. Dizia-se, pegar na chaleira o fenômeno pelo qual uma pessoa se prostra diante de outra e a adula, a incensa, a corrompe pela lisonja. ( Haverá nada mais corruptor do que a lisonja? ) Hoje o fenômeno tem a denominação local de “puxada”. Chama-se “puxa” ao gajo que destrói a resistência moral do seu superior, ou do seu igual, pela erosiva ação do adjetivo laudatório, dos substantivo que afaga a vaidade, lambe o ego e transforma em narciso qualquer criatura enfraquecida pelo incessante desmerecimento da modéstia”. (“Em Vez...”, 2a edição da Nova Fronteira, em 1975, página 15). CINEMA – “Onde está o limite da arte e o limite da sordidez? Não é assim tão difícil distinguir; mas muitos acham. Entretanto quando se trata auxílio do Estado, quando se trata de dinheiro da comunidade – pois o dinheiro que o Estado dá é do povo – é então necessário que o cinema contribua para melhorar e não para piorar o povo. Não é preciso que o cinema seja moralizante, que o cinema seja angelical, que o cinema seja um substituto da missa. Trata-se de impedir que o cinema seja um sucedâneo do bordel. Trata-se de permitir que os filhos do cidadão possam ir ao cinema sem voltar para casa querendo matar seus mais ou violentar a sua primeira namorada”. (“Palavras e Ação, editora Distribuidora Record, 1966, página 158). CIVILIZAÇÃO CRISTÃ - "a noção de que existe em cada ser humano uma Pessoa e intocável, é em sua essência, a grande contribuição do cristianismo, desde sua origem mosaica à iluminada civilização, grandiosa mas pouco generosa, fascinante mas injusta, que nos legaram a Grécia e de sua primeira filha de fala latina e pretensões mundiais, a civilização do império romano". (Carlos Lacerda, "Em vez", 2a edição, Nova Fronteira, 1975, pagina 172). CLONAGEM - "Ignorante como sou em eletricidade, custa-me muito menos atribuí-la a Deus do que ao eletricista que, juntando dois fios, produz um faísca apenas menor do que a que fulgura entre nuvens no espaço. Por que hei de acreditar que o eletricista é capaz do prodígio de ligar o positivo e o negativo e fazer luz, e não em Deus, que produziu o eletricista? Pode-se gerar um ser em laboratórios, é quase certo. E daí? Com isto conseguimos muitos resultados, até o de tornar desnecessário o esforço atualmente despendido para gerar novos seres. Mas não se terá demonstrado a inexistência de Deus. Tantas têm sido as provas testemunhais, entre as quais algumas fizeram de mim, testemunhas vivas - nas quais - por força - tenho de acreditar que já é habitual conviver com o fenômeno." (Carlos Lacerda, " O Cão Negro", editora Nova Fronteira, 1971, páginas 49/50). CNBB - "E então aparece aqui ou ali uma voz cristianíssima que diz: não devemos mais salvar as almas por enquanto, as almas não se salvam sem o corpo, devemos sim, fazer cooperativas! Recém chegados da casa dos ricos, tomaram um susto ao descobrir a pobreza, e a renegam a pretexto de a protegerem". ("Palavras e Ação", Editora Distribuidora Record, 1966, página 91). COISA PÚBLICA – “A incapacidade de distinguir entre os sentimentos particulares e a função pública é a parte do nosso subdesenvolvimento moral e político que faz muita gente confundir suas conveniências particulares com o interesse público”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 53). COMEÇO DE TUDO - "Tudo isso começou há muito tempo, na madrugada de 5 de agosto de 1954, na rua Toneleros. Ali começou uma verdadeira revolução. É por isto que ninguém pode me silenciar. É por isto que tenho autoridade para dizer que, de tantos sacrifícios, há que aproveitar a lição, com grandeza, com inteligência e dedicação. É impossível nos limites de algumas páginas o relato de um episódio que tem origem muito antes e se projeta muito anos adiante. Nem o simples relato seria possível, tantas retificações tenho a fazer a versões facciosas, a acusações sem fundamento, a interpretações funambulescas. O que interessa no relato sumário de 1954, no atentado da Toneleros, no suicídio de Vargas, é mostrar que de tantos sacrifícios, de parte a parte, têm que resultar algo útil para o povo. Não pode ser demagogia e nem saudosismos. Não pode tudo isto tratar-se de um encontro de contas de ódio e o ressentimento. Se alguma coisa pode tudo isto deixar de útil, é na lição de compreensão, de união, de esforço conjugado para libertar o povo brasileiro da ignorância e da miséria. É ensinar-nos a ensiná-lo a identificar, sob os nomes que os jornais publicam, os interesses que sob tais nomes se escondem, e que movem tantos acontecimentos e comandam tantas omissões". (“Rosas e Pedras”, paginas 257/258). COMUNICAÇÃO – “Comunicação quer dizer, também, comunicação de e não apenas participação a. Não se trata de dizer: povo, estamos fazendo isto e aquilo e sim dizer ao povo: sem você não podemos fazer isto nem aquilo. Comunicação não é aviso e nem portaria para forçar aceitação. É aliciamento e mobilização para obter participação”. ((Seleção afirmações de C.L. publicada pela revista Manchete n. 824 em 06 de junho de 1977). COMUNIDADE AFRO-LUSO-BRASILEIRA – “Está na hora do Brasil mostrar que é amigo de PORTUGAL. O Brasil pode e deve assumir a posição de líder da grande comunidade de países de língua portuguesa. Uma comunidade afro-lusa-brasileira, em termos nacionais e internacionais trará incalculáveis benefício”. (Páginas amarelas da Revista Veja de 08 de dezembro de 1974). COMUNISTA I – “Como pecado, não, pois não me arrependo de ter sido simpatizante. Aprendi muito com os comunistas e, ainda, hoje, emprego contra eles práticas que eles me ensinaram. Não se pode chamar um homem a vida toda de comunista só porque ele o foi na juventude. Isso me dá um ar de juventude e eu fico muito honrado”. (“Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, edição 1966, página 144). COMUNISTA II – “Não sou anti-comunista, como dizia Prestes, por ódio zoológico. O que não admito é a complacência com os comunistas, dessa gente que quer medir o seu grau de “convicção” democrática por sua maior ou menor aceitação dos comunistas. Como considero o movimento comunista anti-democrático, não meço o meu grau de amor, de dedicação e sinceridade democrática, pela maior ou menor complacência que eu tenha pelos comunistas, como da mesma forma, sempre agir com os fascistas. Evidentemente acho que incompatíveis com a democracia, o que não os impede de viver, de ter as suas idéias e tentar convencer o povo de que as suas idéias são as melhores” (“Depoimento”, página 224) COMUNISTAS III – “Um comunista democrático é um bicho que não existe. Todo comunista é, por definição, totalitário. Tolerá-lo é necessário. Mas obrigá-lo a nos tolerar é indispensável. É preciso que ele não se apresente nem como o único e nem como o melhor campeão da liberdade, pois, o regime comunista é incompatível com a liberdade”. (Seleção publicada na Revista Manchete de 6/06/1977, n. 824) COMUNISTAS IV – “ Que fará o senhor com os comunistas? – Não os aprisionarei no comunismo. Dar-lhes-ei oportunidade de deixarem de ser comunistas. Na maior parte dos casos eles o são sem saber bem o que seja, ou sabendo o que ele é, não sabem o que é democracia. A impaciência e o desespero levam pelo menos muita gente para o comunismo quanto o ceticismo e a disponibilidade”. (Revista Manchete n. 607 de 7 de dezembro de 1963, página 115). CONFISSÕES – “Tenho pudor das confissões completas. Não deixa de ser uma forma de hipocrisia, acusar-se em público do que se fez e não se fez, apenas para que se saiba quanto se é humilde. Prefiro ser mal julgado mais por falta do que por excesso de explicação, será talvez uma forma encabulada de meu orgulho”. (“Critica e Autocrítica”, edição Nova Fronteira, sem data, página 31). CONGRESSO - "O povo não é melhor do que o Congresso e o Congresso não é melhor e nem pior do que o Exército. Pense um pouco para ver que tenho razão. Somos o que somos porque ainda não pudemos ser o que devemos ser. Portanto em vez da intolerância passiva e da brutalidade ativa, ponha as armas a serviço da inteligência, em lugar da tolice, ainda mais do que o erro, de pretender coagir a inteligência pelas armas. Você precisa explicar aos demais que a inteligência é invencível - e que é melhor aliar-se a ela do que desonrar-se contra ela". ("Crítica e Autocrítica - Carta a Um Amigo Soldado”, editora Nova Fronteira, 1966, página 58). CONVENCIMENTO - "Faz parte do meu testemunho esta convicção que assim exponho. Se morresse amanhã, gostaria que fosse este o resumo do que justifica a minha vida pública. Entendo que é necessário aproveitar tudo o que de útil foi feito em todos os governos. Mas a razão pela qual combati os do meu tempo não está nos homens nem nas instituições, nem mesmo nas leis e nos costumes, está na estrutura da vida e da sociedade nacional. Ela assenta na ignorância e na improdutividade. Ela se rege pela minoria, seja esta a oligarquia política ou a tutela militar, ou uma e outra combinadas, mas sempre minoria que mais atende a interesses de terceiros do que aos interesses, não apenas imediatos, mas permanentes, do povo. Este designa representantes, não procuradores com plenos poderes. O povo precisa de líderes, não de mentores. Disto me convenci cada vez mais. A origem dessa convicção está na observação dos fatos e na convivência com a realidade, à qual me abracei como quem se atira numa sarça ardente. ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", página 117). CONVERSÃO I – “A conversão é o grande fato novo e fecundante numa vida que se esterilizava nas falsas certezas, na pseudo tranqüilidade, no conservantismo que se considera revolucionário só porque é contra o lucro sem ser contra a desumanizarão da vida ou conservador porque defende a livre iniciativa mas não defende a liberdade”. (Júlio Tavares (pseudônimo de Carlos Lacerda, no prefácio de “Deus existe. Eu o encontrei” de André Frossard). CONVERSÃO II - "Sem saber, quase sem sentir, estava preparado para a conversão. O meu catolicismo de menino não resistira às primeiras leituras e às primeiras pretensões. A desarmada fé dos simples era pouca e se acabou. A pompa dos complicados, com a sua armadura de argumentos e seu orgulho, de transformadores do mundo ("os filósofos têm tentado explicar o mundo, trata-se agora de transformá-lo"), tomou o lugar daquela devoção meio monótona, meio automática, mas constante e pura, como cheguei à primeira comunhão. Desaprendi de ajoelhar. Ia percorrer um longo e difícil caminho para reaprender este gesto simples - em que doem os joelhos desabituados, mas ainda mais a alma a que negamos o direito de existir e clama em nós, do fundo do portão em que a deixamos prisioneira". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", página 206). COQUETEL – “Não faço questão, por exemplo, de ir a coquetéis. Confesso que raramente me diverti em um deles e assim mesmo só quando ele resulta em um jantar com os retardatários geralmente melhores do que os que saem primeiro, ao menos na opinião dos que ficam. O coquetel é uma forma cansativa de falar muito sem dizer nada, ver muita gente sem conhecer ninguém, conhecer estranhos desgostando os amigos e sem as efusões, cuidados e vagares que o brasileiro exige como prova de amizade”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, página 15). CORÇÃO - "A certa altura, Gustavo Corção apareceu-me como um guia fraternal. No dia em que escrevi estas linhas: "É difícil voltar sozinho, com os pés sangrando, para a casa de Deus. Sem apoio. Sem a companhia dos avançados". Corção replicou: "Eu quero dizer que aquelas três linhas me abalaram como um soco". Ficamos assim como dois combatente, quase como dois inimigos. Desconfiados. Cerimoniosos. Admirativos. Circunspetos. Cavalheiros. Como antigos combatentes que de longe ficam a decifrar as cores e os símbolos dos brasões antes de se decidirem pelo bom combate." (Rosas e Pedras, páginas 182/183). CORRUPÇÃO I - “Por falar em corrupção nunca entendi o desprezo que os progressistas e evoluídos manifestavam pela nossa preocupação moralista. Pois a corrupção, sobre ser uma força desagregadora que desmantela todos os programas, é o mais grave dos desperdícios e por isto os regimes realmente progressistas a punem”. (“Crítica e Autocrítica”, ed/Nova Fronteira, sem data, página 28). CORRUPÇÃO II – “Pois a corrupção existe no governo da revolução. Pior do que antes, porque disfarçada e agora protegida pela falsa virtude e pela censura virtual que coage o País. O menos que se pode dizer é que este governo é também subversivo. Pois o Congresso e as leis dependem de sua vontade pessoal. E não há maior subversão da que coloca 80 milhões de criaturas à disposição da vontade de um só. O poder pessoal é a subversão e, além disso, podridão moral”, (“Carta a um Amigo Soldado em Crítica e Autocrítica”, edição 1966, Nova Fronteira, página 41/42). COSTA E SILVA - "Soube que junto ao senhor Costa e Silva há cretinos pensando que estou falando na necessidade de sua posse imediata como manobra política para me aproximar dele. É preciso parar com esse mau costume de confundir as pessoas. Você bem sabe que não preciso me aproximar de ninguém, pois sei dizer a distância o que preciso que ouçam os poderosos deste mundo instável - que já vi rodar tantas vezes. Não tenho confiança no senhor Costa e Silva. Acho-o leviano com as suas relações, deslumbrado e despreparado. Terei uma grata surpresa se ele receber a "graça de Estado" e melhorar. Mas acho-o até aqui muito ruinzinho, ambicioso e oportunista: receio que o seu governo seja o jubileu da corrupção" ("Crítica e Autocrítica - Carta a Um Amigo Fardado", editora Nova Fronteira, 1966, páginas 56/57). CRISES ECONÔMICAS – “Exemplos mais expressivos de empirismo e pragmatismo de ação no combate de crises econômicas se encontram nos líderes que enfrentaram as duas maiores crises do século: o dr. Schacht e Roosevelt. A imaginação do primeiro inventando fórmulas mágicas, é que livrou a Alemanha da inflação que a desagregara (e ele conta a proeza no livro que se chama significativamente “Memórias de um Mágico”). E o New Deal foi essencialmente uma política empírica, oportunista, improvisada – conduzida genialmente por Franklin Roosevelt para reerguer os Estados Unidos do fundo do abismo da depressão”. (“Brasil entre a Verdade e a Mentira, edição Bloch de 1965, página 75). CRÍTICA – “Não são meras palavras. Recuso-me à linguagem da nova retórica que consiste em usar algarismos com a leviandade com que os demagogos usam adjetivos. Não brinco com os números fazendo malabarismo com das estatísticas. Não me limito a condenar. Analiso e concluo. Não faço crítica pessoal. Mostro fatos. Sou obrigado também a mostrar a impropriedade do pretensioso “Programa de Ação Econômica do Governo, o PAEG. Sim, o programa econômico do governo não existe porque desmentidos pelos seus próprios executores e destruído pelos fatos, como provarei”. (“Brasil entre a Verdade e a Mentira”, editora Bloch de 1965, página 22). DANTE - "Era um mundo no qual esse político oportunista e fraco, o Dante, na Comédia que "os pósteros chamaram divina" (como dizia meu mestre Afrânio Peixoto) num dos Cantos do Inferno condenava ao suplício eterno os faltos de inteligência; mas não chegou a perceber a irrupção de um mundo novo naqueles feudos a que serviu e que afinal o baniram". (Carlos Lacerda, "O Cão Negro", 2a Ed/Nova Fronteira, página 61). DAVID NASSER - "O que o leva a julgar-me sem amigos, é a circunstância, esta sim, realmente rara e difícil, de ter sido um homem que se decidiu a perder amigos para conservar aquilo que justifica a amizade. Não é uma frase, David, é uma experiência dolorosa e profunda. Quando me afastei dos comunistas, junto aos quais passei grande parte da minha adolescência, vi-os voltarem-me a cara, deliberadamente, por ordem do Partido Comunista, odiarem-me por ordem superior, passarem a me difamar, a inventar versões que até hoje, periodicamente reeditam, toda vez que pretendem destruir as idéias que defendo e os princípios que represento". ("Palavras e Ação", edição Distribuidora Record, 1966, páginas 97/98). DECARTES - “Até hoje estou convencido de que um dia o mundo ocidental vai fazer com Descartes o que os chineses estão fazendo com Confúcio. Vai destruir a lógica cartesiana. Porque a única lógica que pode reger a sociedade é a lógica hegeliana, que dizer, o mundo dá saltos e as coisas de fazem por teses, antíteses e sínteses. E não por meras armações de silogismos. Descobri essas coisas na minha solidão”. (Entrevista nas páginas amarelas da revista Veja de 8 de maio de 1974). DECISÃO – “Deixo os assuntos repousarem até que surge a solução, ou se criam as soluções para constrói-las. É essa decantação que alguns chamam, impropriamente, de impulso. A precipitação existe, mas não é isto. É apenas imprudência. Divina imprudência, que dá gosto de vida até a hora da morte. E prudência consiste em ser corajoso bastante para parecer até temerário, nunca omisso. Omitir-se é uma qualidade invejável. Como não sou invejoso, deixo essa qualidade a outros”. (“Critica e Autocrítica”, edição 1966, Nova Fronteira, página 38). DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS – “declaro a convivência um exercício de paciência. A dor, uma certeza, senão a única, pelo menos a que mais se faz sentir. O dia seguinte, uma experiência nunca aprendida. A decepção uma possibilidade, de todas a mais provável. A experiência, uma lição sempre esquecida. Declaro a nostalgia a única fonte de alegria genuína, porque feita de sabedoria e prudência, impregnada de moderação e cautela. Declaro a ingratidão o mais constante, o mais freqüente, o mais certo prêmio da dedicação. E a traição o único título de glória a que se pode almejar quando se é vítima, o de que se pode vangloriar quem a pratica, pois, neste caso, paga o prêmio”. (“O Cão Negro”, editora Nova Fronteira, 1971, página 13/14). DEFENSORES DA CIILIZACAO CRISTÃ - "A maioria do povo, desiludida desde a renúncia de Jânio Quadros e brutalmente chocada com o rumo que tomou o Governo Castelo Branco, nem por isto deseja voltar ao passado. O choque que esses dois bons governos, de gente considerada honesta e razoável, defensora da civilização cristã, deram nos brasileiros, atordoou-os. Agora é que está passando. Então se compreende de todos os lados, o alcance e a importância do entendimento que fizemos, Kubstcheck e eu, desarmando o que poderia ser o revanchismos e também desarmando a estupidez de uma revolução encarada como mera expedição punitiva. Esse ato de um novo Brasil só produzirá todos os seus efeitos quando os ruminantes de sempre se deglutirem ou a sua espécie se extinguir. (“Rosas e Pedras do Meu Camnho”, página 296). DEMAGOGIA I – “É preciso dizer que a pior tirania é a demagogia e, pois, não haverá maior tirano do que o demagogo. É preciso dizer que a democracia só sobreviverá quando acabar com a demagogia, pois esta é a doença que a destrói. Mais do que foi o nazismo, na década de 30 a 40, quando parecia tomar conta do mundo; o comunismo é uma ameaça mundial que se faz sentir dentro de cada nação”. (seleção de Luiz Carlos Lisboa, Jornal da Tarde de 03.05.1978). DEMAGOGIA II - "Se morresse antes da hora e tivesse que deixar uma receita para outros a aplicarem melhor do que eu, esta seria dividida em duas partes, como os remédios dos quais se toma primeiro a pílula branca e depois a cor-de-rosa. Ao povo diria: "Desconfie do democrata que não se prepara para a responsabilidade de governar. Ou é demagogo ou incapaz; ou nem sequer é democrata". Para que não haja equívocos, acrescentaria: e desconfie ainda mais dos ditadores nessas mesmas condições. Pois estes, se chegarem a ser, nunca passarão de ditadores. Aos que pretendem governar, diria: "No se esqueçam de levar na bagagem a imaginação; e de combinar o senso de autoridade do cargo com a humildade da pessoa que o exerce". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho”, paginas 295/296). DEMOCRACIA I – “Continuar. Insistir. Quem disse que a Democracia é fácil? Quem disse que a luta e a vitória dependem de um só homem, de uma só campanha? Continuar. Estas palavras, pois, não são finais”. (“O Poder das Idéias”, página 337). DEMOCRACIA II – “um verdadeiro democrata não tem ideologia. A democracia comporta exatamente uma variedade de soluções para os problemas, que vai das medidas socializantes às do liberalismo, conforme as circunstâncias, o tempo histórico, as necessidade e as limitações. Há, neste sentido, no democrata, uma disponibilidade, uma disposição de procurar as soluções sem preconceitos nem prevenções, que é precisamente o contrário do que se enquadra num sistema, numa ideologia”. (in Revista Manchete n. 607 de 7 de dezembro de 1963, página 114 e em Luiz Carlos Lisboa, Jornal da Tarde de 03.05.1978). DEMOCRACIA III – “Creio que a Democracia não é compatível com a ideologia. Pode-se ter uma doutrina, deve-se ter um programa, mas é necessário guardar, diante dos problemas, uma disponibilidade em relação às soluções, sejam elas socializantes ou liberais, de acordo com os dados do problema especifico, de acordo com a conjuntura, e visando ao bem publico e não segundo premissas ideológicas que nos prendam ou nos tolham os movimentos”. (“Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, 1966, página 140). DEMOCRACIA IV - “A rigidez da ideologia retira à democracia, que não é um sistema acabado, mas um processo de evolução social e político, o seu melhor instrumento, a flexibilidade no estudo e solução dos problemas nacionais e mundiais”. (Discurso proferido na Convenção da UDN aceitando a sua frustrada candidatura à Presidência da República)”. DEMOCRACIA V – ´ “A democracia é um processo em constante aperfeiçoamento ao qual o povo ascende à medida que se educa e adquire condições para se governar. Daí a importância de se educar o povo, para fazer progredir, e não regredir a democracia” (...) “Escola para todos é o único meio válido de se chegar a uma democracia e de promover o desenvolvimento verdadeiro.`para a prosperidade de todos e não apenas o enriquecimento de alguns”. (Trechos do discurso na convenção da UDN para aceitar a sua frustrada candidatura à Presidência da República). DEMOCRACIA VI - "Entendo que uma democracia só vive quando o povo a estima e a defende. Entendo que o Povo só estima e defende o regime democrático na medida que o conhece, tudo o que se arma contra ela e tudo que pode ser preparados a seu favor. (....) Não pretendo impor coisa nenhuma, mas não abdico do meu direito de propor. Não pretendo humilhar ninguém, nem desafiar autoridade superior ou igual ou inferior. Mas tenho neste país autoridade para falar; tenho-a porque a conquistei com sangue e sacrifício, meu, de meus companheiros, dos meus concidadãos. Tenho, atrás de mim, antes de ser governo, 16 anos de oposição, sem a falta de um dia. Tenho, portanto, algum lastro e algum direito de ser ouvido, antes que isto se transforme numa ditadura". (“O Poder das Idéias”, Distribuidora Record, página 317). DEMOCRATA – “Começo por sustentar que um verdadeiro democrata não tem ideologia. A democracia comporta, exatamente uma variedade de soluções para os problemas, que vai das medidas socializantes às do liberalismo, conforme as circunstâncias, o tempo histórico, as necessidades e as limitações. Há, neste sentido, no democrata, uma disponibilidade, uma disposição de procurar soluções sem prevenções e nem preconceitos, que é exatamente do que se enquadra um sistema, numa ideologia”. (“Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, 1966, página 178 e Revista Manchete n. 607, página 114)). DEMOGRAFIA – “A explosão demográfica, isto é, o nascimento de grande número de crianças, num país que não pode contar com legiões de imigrantes, esses beneméritos que precisam ter, quando naturalizados, direitos iguais aos de seus filhos, é uma benção e não uma ameaça”. (Trecho do discurso na convenção da UDN para aceitar a frustada candidatura à Presidência da República). DERRUBADOR DE PRESIDENTES – “Derrubar presidentes? Eis uma acusação que decorre da necessidade de sínteses a que se vêem obrigados os repórteres internacionais, para dar no menor número de linhas, o maior número de informações tumultuadas sobre este país tumultuoso. Por imitação alguns brasileiros tomaram a deixa. Derrubar presidentes? Neste caso reconheça-se que não os derrubei sozinho. Foram meus cúmplices as três corporações militares, numerosos cidadãos pacatos, provectos beneficiários dessas derrubadas. Fiquei eu só com a fama e sem sequer o respeito, quanto mais o proveito. Os sujeitos que subiram à minha custa, ou à custa de me traírem, são os meus piores senão os únicos inimigos”. (“Crítica e Autocrítica”, Editora Nova Fronteira, 1976, páginas 33/34). DESENVOLVIMENTO I - "Cria-se, assim, o círculo vicioso. O país não se desenvolve porque não o deixam desenvolver-se livremente, nem o ajudam suficientemente para tanto. E como não se desenvolve, permanece em estado de menoridade. Sua elite política torna-se cada vez mais escassa e incapaz. Em conseqüência, perde até a capacidade de contornar e resolver, mesmo a título precário, as crises provocadas por sua incapacidade e subserviência a tais interesse" ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", páginas 115/116). DESENVOLVIMENTO II - "O Brasil, por suas responsabilidades e exigências tem de ser um país de imediato desenvolvimento, não apenas de fábricas e negócios, senão e ainda mais rapidamente, de um povo cuja formação para cidadania seja intensificada. Isto não se faz somente pela alfabetização, mas somente quando a alfabetização for apenas parte e conseqüência de um processo educativo básico, que forma personalidade do indivíduo, a capacidade do produtor, a consciência social do cidadão, a formação moral do homem, para a qual os governos têm de contribuir sobretudo com o exemplo". (“Rosas e Pedras”, pagina 116). DEUS I - "Por exemplo, a existência de algum poder superior e primeiro, a que se dá o nome de Deus. Não sei provar, e não acho fácil alguém provar a existência de Deus. Mas ainda mais difícil é comprovar a sua inexistência". (Carlos Lacerda, "O Cão Negro", ed/1971/Nova Fronteira, página 49). DEUS II – “Acredito Nele principalmente por causa da vida, muito mais do que pela morte pela qual tenho muito mais desamor do que temor. O que Deus realmente criou foi a vida, principalmente a vida eterna. A morte é um curto intervalo só para mostrar que a vida ainda não acabou”. (“Crítica e Autocrítica”, edição Nova Fronteira, s/data, página 24). DEVER I– “Não perdi o senso lúdico, isto é, o gosto de fazer por gosto o que os outros chamam simplesmente cumprimento do dever. Dever sim, mas por gosto, quase diria, por divertimento.” (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, página 17). DEVER II – “Procurei, mas sei que em vão, fixar essa noção do sentimento do dever apesar da inutilidade do seu cumprimento. Ou até por causa dessa relativa inutilidade, pois se fosse rendoso, muitos o cumpririam – e podíamos, alguns, deixá-lo a muitos. Não falta quem queira sacrificar-se pelo uso dos automóveis oficiais, dos aviões oficiais, do peru com farofa oficial, no crachá na casaca oficial, no emprego para o genro, a sinecura do filho – como são tocantes os pais de família que zelam pela própria à custa alheia”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, 1976, página 31). DIREITOS HUMANOS - "Se a gente ficar discutindo apenas os direitos humanos nunca teremos coragem de abordar o problema como um todo. Por exemplo: O Brasil hoje é um país profundamente injusto, não só porque se torturam pessoas ou porque se prendem pessoas, um país profundamente injusto porque de um lado tem um grupo com direito de lucrar o que quiser, contando que o governo se associe a esse lucro, e de outro lado tem gente que não tem acesso à riqueza. Não se trata de distribuição de riqueza, mas de nenhum acesso a ela. ("Depoimento", editora Nova Fronteira, 1977, página 57). DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO – “Isso foi há pouco mais de meio século. Meu principal esforço na Câmara foi converter em lei, afinal, em 1961, o projeto de lei de Diretrizes e Bases da Educação 15. Para isto, tive de negociar a autoria do substitutivo, que deixou de ser meu para ser de ninguém, como único meio de obter o voto de bancadas que preferiam manter a educação amarrada a ver uma lei de educação com o meu nome.” (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição Fundamar-UnB, 2001, página 30). DIRIGENTES – “O que me preocupa, Senhor Presidente, é o subdesenvolvimento da inteligência, é a crise dos quadros dirigentes, sempre menores do que as necessidades nacionais e tomados por uma timidez quase mórbida, com a incapacidade de ousar, com horror à audácia a disfarçar-se em habilidades infecundas. A preocupação de esconder sob um ar grave de prudência e de equilíbrio de poder, o pavor da responsabilidade de decidir e ousar”.[2] (“Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, 1966, páginas 175/176). DISCURSO I – “Sempre o melhor discurso é o que nunca se fez. Uma idéia nem sempre chega a se traduzir em sons. Nem por isto é menos atuante, por vezes decisiva: a idéia que não tomou forma ou se transformou em ato”. (“O Poder das Idéias”, edição Distribuidora Record, 1962, página 09). DISCURSO II - “E até hoje creio que se aprende mais a falar, lendo o Eça, grande desemburrador e o Machado de Assis, cujas hesitações nos desabituam das retumbâncias das afirmações, de ambos os quais convém de vez em quando fazer uma estação de leituras – como se fossemos a uma Araxá mental. Posso mesmo afirmar que para falar bem o melhor é ler bem, o que os outros escrevem”. (“Uma Rosa é Uma Rosa é uma Rosa...”, 2a edição da Distribuidora Record, 1966, páginas 133/134) DITADURA - “A ditadura (a de Getúlio), a longa ditadura. Hoje em dia com o tempo não se pode dizer que tudo nela foi ruim. Seria um exagero. Mas ela teve de fundamentalmente ruim uma coisa que me horroriza: a alienação de todas outras gerações para o fato político. Nós tivemos que enfrentar o problema de uma estrutura ditatorial que cristalizou a adulação, a corrupção, esta não só no sentido do dinheiro, mas no sentido dos caracteres e das idéias. Foi uma deseducação do povo brasileiro e principalmente da juventude que foi quase alienada. Isto me conduziu para a política”, (Páginas amarelas da revista Veja de 08 de maio de 1974). DITADURA I - “Em 1930 a ruptura se completaria, abrindo, em novo ciclo, a era de nova oligarquia que teve no Estado Novo o seu triste viveiro, no qual até hoje desova. O Estado Novo foi um hiato pelo qual o Brasil até hoje um duro preço. Quanto pagará por novas interrupções da vida pública?”. (“Em Vez ...”, 2a edição da Nova Fronteira, página 34). DITADURA II – “Por outras palavras, não se pode ao mesmo tempo defender a crença em Deus e suprimir a liberdade, pois, sem liberdade Deus não existe. Toda ditadura conduz ao mais esterilizante materialismos e é por isto que toda ditadura precisa inventar um sucedâneo para fé, no culto do Chefe, ou da Nação ou do Patriotismo, o mais tolo, o mais tacanho, o mais estúpido – esse que faz da pátria um ídolo que exige vítimas ou uma vitima que exige ídolos”. ( “Em vez”, 2A edição Nova Fronteira, 1975, página 92). DITADURA MILITAR I - “O que me atormenta é pensar no julgamento dos seus filhos sobre o papel que o pai desempenhou no esmagamento do caráter da sua Pátria, no acovardamento pela ameaça da força, na violência contra a dignidade dos próprios irmãos. Triste vitória, vergonhosa vitória seria essa do Exército contra o povo, ele que é uma delegação do povo, ele que não pode ser senão uma emanação do povo”. (“Carta a um Amigo Fardado”, editora Nova Fronteira, sem data, página, 46). DITADURA MILITAR II – “O terror veio quando começaram a matar os líderes que tiveram o dom de animar a mocidade, despertando-a do antigo desinteresse. Hoje ela tem a alma em fúria e as mãos desocupadas. E não são apenas os párias, os miseráveis. É a mocidade afluente. (“Em vez”, Nova Fronteira, página 219). DITADURA MILITAR III - "Entre os nossos melhores amigos militares, com raras exceções, ainda havia muitas ilusões. Alguns tentavam neutralizar o que chamavam "as intrigas", na realidade muito mais graves do que isso, pois não eram intrigas, eram um propósito deliberado e frio de destruição de todas as lideranças populares autênticas, para impor ao Brasil uma tutela pela força, capaz de garantir a política de atraso, de submissão e de reacionarismo alvar, pela qual se prepara, como contrapartida inevitável, agora sim, a subversão completa e revolucionária, se não houver uma revisão dos erros cometidos por todos, em todo os lados, e uma decidida e ampla união para a reconquista da liberdade, da independência e do progresso que foram sufocados". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", edição UnB-Fundamar, em 2001, página 180). DROGAS – “Qualquer pessoa sabe que o progresso da química colocou à disposição de medicina drogas que podem alterar, para melhor ou para pior, o comportamento humano. (...) A mesma medicação que provoca espasmos pode gerar também o equilíbrio emocional necessário para que uma criatura ultrapasse uma crise aguda e possa, então, esperar pela ação naturalmente mais lenta da terapia de apoio. Pois, bem, muitos psicanalistas recusam-se a admitir o uso de remédios no tratamento de seus clientes, e neste sentido, influem decisivamente sobre eles, abusando da tutela que exercem como taumaturgos ou dirigentes espirituais”. (“Em Vez ...”, edição 1975, página 65). ECONOMIA POLÍTICA I – “A política econômica por natureza contingente, por isto mesmo que é uma política. Só tecnocratas presumem o contrário, enfatuados na infalibilidade de sua pseudociência”. (“Brasil entre a Verdade e a Mentira”, edições Bloch, 1965, página 73). ECONOMIA POLÍTICA II – “Criou-se um tabu que interessa aos charlatães da economia: o de que não pode falar de economia quem não for economista. Isto é falso. O fato de não saber misturar o tempero na panela não nos impede de julgar se a comida está bem temperada ou não”. (“Brasil entre a Verdade e a Mentira”, edições Bloch, 1965, páginas 88/80). ECONOMIA POLÍTICA III – “A economia política econômica é inseparável da economia geral. Os exemplos de outras nações e de outras conjunturas servem como ponto de referência, nunca de modelos para serem fielmente adotados. A rigidez de uma política econômica só pode ser cadavérica. O planejamento global leva, necessariamente, à estatização ou ao fracasso, pois ninguém planeja aquilo que não pode comandar” (página 12) ECONOMIA POLÍTICA IV – “Nenhuma política é certa quando se esquece do ser humano. Uma política econômica que vê com indiferença desenvolver-se o desemprego onde ele não existia; uma política econômica que se conforma com a hipótese de transformar torneiros, ajustadores e metalúrgicos em serventes de pedreiro ou campeadores não têm compreensão humana; não têm sequer sabedoria política pois, não avaliou devidamente o que significa de atraso para o Brasil, irrecuperável por muitos anos, a dispersão de seu pequeno exercito de trabalhadores especializados”. (“Brasil entre a Verdade e a Mentira”, carta ao Presidente Castelo Banco , editora Bloch, 1965, página 26). EDUCAÇÃO I - "Sustentamos que somente uma Educação primária, suficiente e eficiente, poderá libertar o brasileiro da miséria econômica e da tutela demagógica sob as quais ele é reduzido à condição de pária; sustentamos a necessidade de formar através da Escola três ou quatro gerações que preparem a si mesmas e o País para o evento da automatização industrial, para o advento e a generalização da mecanização agrícola e para as aplicações da eletrônica e da energia atômica, instrumentos atuais com os quais o País poderá dar um salto sobre o grande vácuo aberto no seu caminho de Nação entravada e asfixiada". (Carlos Lacerda, Discurso sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação em novembro de 1.957, Diário do Congresso de xxx). EDUCAÇÃO II - "No ano 2.000 em vez de ensino e EDUCAÇÃO durante apenas um certo período da vida, a EDUCAÇÃO e o ensino se estenderão ao longo de toda a vida, graças a diminuição das horas de trabalho propriamente dita. Seremos todos estudantes como hoje somente alguns podem (e querem) ser" . (Carlos Lacerda, "Em vez", 2a edição, Nova Fronteira, 1975, pagina 177). EDUCAÇÃO III – “só são verdadeiramente democráticos os governos que procuram educar o povo para a democracia, isto é, os governos que fazem da escola o grande instrumento da revolução democrática”. ( “O Poder das Idéias”, editora Record, 1962, página 184). EDUCAÇÃO IV – “Ou os brasileiros entendem que têm que fazer a revolução tecnológica na educação, inclusive a irrupção da inteligência na escola para fazê-la em tudo mais, ou não saem do atoleiro, qualquer que seja a política, econômica e financeira de qualquer governo. E aumentando a diferença que nos separa das nações adiantadas, cairemos na dependência geral”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 118). EDUCAÇÃO V – “O povo quer educar-se e ver seus filhos educados. Nenhum programa de apoio conquistará a simpatia do povo se esquecer este ponto. Para tal programa não é preciso tanto dinheiro e nem empréstimo sem reembolso. Não faltam recursos privados, além dos públicos, para esse efeito; e o investimento em educação é o mais urgente e, mesmo politicamente, o decisivo para mobilizar o povo a aderir à Democracia, pelo sentimento de que é parte consciente e atuante dela.” (“Uma Rosa é uma Rosa é uma Rosa é uma Rosa”, Distribuidora Record, 2a edição de 1966, páginas 51/52). EDUCAÇÀO VI – “O problema da educação no Brasil continua a ser de quantidade e de qualidade, e não de ser o ensino somente público, isto é, dado em escola encarada como órgão do poder público. Os órgãos de que se forma uma comunidade têm direito a se organizar para ministrar ensino a seus filhos. Os pais têm direito de escolher o modelo de educação que querem dar a seus filhos. Estes, apenas atingida a idade da razão, têm também o direito de escolher. Ao Estado cabe fiscalizar essa outra modalidade de educação, para que haja coerência entre as duas. Mas, nunca exercer o monopólio do ensino.”(Carta ao diretor do Jornal de Brasília, em 22 de julho de 1976). EDUCAÇÃO VII - "A prevalência de interesses estranhos ao povo brasileiro deve cessar. As incursões militares na vida cívica devem cessar. Mas tudo cessará somente quando começar a grande transformação do país, pela educação de seu povo. Não pode, porém, educá-los os que não sabem nem o que significa a expressão, em termos de grandeza, de amplitude, de numerosa significação. Não se trata, absolutamente, de alfabetizar. A simples alfabetização serve a uma ditadura, a um regime totalitário, onde todos os súditos precisam apenas estar preparados para ler o que o governo escreve. Mesmo assim, nos regimes mais ferozmente totalitários a simples alfabetização já não interessa, porque a tecnologia moderna estrangeira logo derrubaria tais regimes". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição Fundamar-Fub, página 117). EGOISMO – “Declaro o egoísmo a força social por excelência, de promoção e identificação, que exalta a personalidade e a distingue, reforçando a sadia animalidade do homem libertando-o de vãs, embora atraentes veleidades de solidariedade e fraternização. (“O Cão Negro”, página 14). ELITE POLÍTICA - "A única dificuldade que encontro para formar um grande partido é a mesma que todos encontram para formar um grande governo. Enquanto o Brasil esticava, a sua elite dirigente encolheu. Existe, mas insuficiente. O povo está melhor do que a sua elite? Penso que sim. Mas o que é certo é que a elite residual não entende mais o Brasil, estou a dizer, não o conhece mais. E a elite nascente não é elite, é uma sofisticação, uma improvisação, uma enfatuarão. A elite se desqualifica culturalmente. Há uma desordem nas idéias e um correspondente tumulto nas ambições que põem em perigo já não apenas a democracia brasileira, mas o próprio País em suas características, em sua personalidade nacional". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 297). EMPENHOS POLÍTICOS - "O que mais me doeu, no Governo da Guanabara, foi ter de proibir minha Mãe de servir de pistolão, à pessoas tão cruéis ou tão necessitadas, que a ela recorriam porque "mãe só há uma". E muita gente confia na nossa falta de resistência aos apelos do sentimentalismo à custa dos outros, que os fracos confundem com o amor. Tive de lhe falar um dia, seriamente, do desrespeito em que as pessoas, no Brasil, tangidas não só pela necessidade, muitas pelo vício de pedir empenhos, usam mãe, filho, neto, nora, genro, irmão, cunhado, compadre, amante ou namorada, os empregados, os namorados das datilógrafas ou os tios por afinidade das pessoas consideradas importantes, para obter, untuosamente, como favor, o que é um direito; e como um direito, o que não é". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 83). ENCILHAMENTO – “Cabe aliás, afirmar que há uma enorme diferença entre a política de Campos Salles e Joaquim Murtinho e a do Governo Provisório da República e de seu Ministro da Fazenda, Ruy Barbosa, homem de Estado que teve confiança no desenvolvimento brasileiro. Ruy teve a intuição genial do sopro de progresso que poderia ter feito o Brasil dar um saldo com a República, enquanto o Murtinho, do governo Campos Salles, aplicou a política que no afã de liquidar os excessos do “encilhamento”, por timidez acadêmica, reduziu o desenvolvimento brasileiro nos primeiros anos deste século, a alguns investimentos muito aquém de nossas possibilidades e necessidades. (“Brasil entre a Verdade e a Mentira”, edição de 1966, da Editora Bloch, páginas 29/30). ENERGIA CARA - “Sei hoje que só há uma energia cara. É aquela que não se tem". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição Fundamar-UnB, 2001, página 112). ENSINO - "Minha impaciência se aguçou no capítulo dos estudos. Por isso, creio, sempre me preocupei com o tempo que se gasta ensinando e aprendendo, por processos tradicionais, noções que podem, hoje, e devem, amanhã, mais cedo do que se pensa, incorporar a eletrônica, a televisão e outras máquinas aa técnica de educar. A gente passa a metade da vida se preparando para a outra metade. É demais. E a massa a ensinar ultrapassa tudo o que se possa fazer para dispor de pessoas capazes de aprender a ensinar." ("Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição Fundamar-UnB, página 123). ENSINO PÚBLICO I – “A liberdade de ensino tem muitos inimigos. Inclusive entre aqueles que se julgam amigos da liberdade ou do progresso social. Uns julgam-nos contrários ao interesses da Escola Pública. São os que confundem ensino público com ensino oficial. Público é o ensino accessível a todas as crianças e jovens, sem distinção da fortuna dos pais. Mas para alguns, público é o ensino falsamente chamado “gratuito” pago por todos, com o dinheiro dos impostos. Distinguir o ensino, não pela sua qualidade, nem mesmo por sua quantidade, mas segundo seja ele pago direta ou indiretamente, é uma característica da sociedade que faz do dinheiro a medida de todas as coisas”. (“O Poder das Idéias”, edição Record, 1962, página 185). ENSINO PÚBLICO II – “Temos no Brasil um sistema de ensino obsoleto e, mais do que isto, deformante e, ainda mais Senhor Presidente, monstruoso, pois não se preparam as crianças para educação segurando-as por duas ou três horas, amontoadas como sardinhas em lata, despertando mais piedade do que entusiasmo, despertando mais apreensão do que esperança. (“Discursos Parlamentares”, edição Nova Fronteira, 1982, página 355). EROSÃO - "A história do mundo pode ser lida na beira dos barrancos, nas camadas da terra, no seu veio. A erosão deixa-me sempre uma impressão do começo de decrepitude do mundo. Mas também se pode conhecê-la nas árvores, que são terra e luz transformado em lenho. Desconfio sempre que os homens não são senão imitadores das coisas sem alma, e se tem alma, é precisamente para não serem confundidos com as plantas, a pedra ou a minhoca - esse verme inteligentíssimo que se contorce todo até encontrar a terra que lavrou como um arado geodinâmico". (“Rosas e Pedras do Meu Caminhos”, páginas 89/90). ERRO – “Quero deixar claro: quando se aponta um erro não se é obrigado a propor o certo. Inda mais quando para ser executado por quem foi capaz de propor e executar o erro. Não se pediu para Chamberlain que dirigisse a guerra. Toda questão consiste em saber se se reconhece ou não o erro. Se é reconhecido, identificado, caracterizado, o certo é suprimi-lo. Depois substituí-lo. E agradecer, em vez de censurar quem aponta o erro. Já é um grande serviço apontar erro grave.” ( “Brasil entre a Verdade e a Mentira”, carta ao senhor Presidente Castelo Banco , editora Bloch, 1965, página 39). ERROS I – “Meus erros, que consistem sobretudo em demasias, permitiram fazer na Guanabara, o governo que fizemos. Eu também fiz parte desse governo – convém lembrar nestas alturas. Dei-lhe algo sem o que ele não teria feito nada, a saber, a coragem de assumir responsabilidades, o grito e o segredo, a impaciência e paciência, a ambição de Santa Teresinha, quero tudo, e a humildade de suportar a injustiça com a certeza do dia em que ela se desfaz, ou mesmo sem certeza alguma. E a insistência de Santa Catarina de Siena, que nasceu no mesmo dia em que nasci e saiu-se de seus cuidados e foi a Avinhão buscar o Papa de baixo de pau: Volte seu Papa, seu lugar é em Roma, haja o que houver”. (“Critica e Autocrítica”, edição Nova Fronteira, 1976, página 36). ERROS II – “Entre os meus erros, a impaciência com a burrice, que tomo erradamente, talvez, como um vicio imperdoável da inteligência, uma espécie de relaxamento intelectual, uma deformação que acaba se refletindo na cara dos burros e marcando de inferioridade a sua alma enfezada. E a pressa de fazer, como se tivesse um pressentimento de que não tenho muito tempo, o que agora já se converte numa dura realidade. A intolerância, por vezes, com as pessoas, na medida e até quando encarnam, a meu ver, princípios que representam ou renegam. Eis alguns de um repertório imenso de erros, alguns dos quais são nestas alturas dificilmente reparáveis”. ( “Critica e Autocrítica”, Nova Fronteira, edição 1966, página 36/37). ESCOLA – ” Acredito sinceramente no povo, isto é, na sua possibilidade de melhorar pela experiência, pelo conhecimento. Por isto é que dou tão grande importância à Escola, sem a qual não haverá nunca a democracia . Por isto que em vez de voto para os analfabetos, ofereço-lhes escolas para que eles possam votar sabendo o que fazem.” (Carlos Lacerda, em Manchete 607 em 7 de dezembro de 1963, página 116). ESCREVER - "Se a vida fosse toda falada era bem melhor. Escrever é uma forma de suplício. Principalmente quando se torna inevitável falar de si. As crianças que às vezes me olham na rua, apontado pelos pais, que nem sempre sei o que lhes dizem a meu respeito, que idéia farão da gente? Não é diversa, penso, da que fiz dos adultos; e até hoje faço. Como os loucos são "os que perderam tudo exceto a razão", os adultos são crianças que perderam tudo, menos a fantasia.” ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", edição Fundamar, 2001, página 72). ESCRITOR I - “Creio ter dito há pouco, que ele (José Lins do Rego) não era daqueles escritores que escrevem bem, se bem escrever é o gosto, muito legítimo, de burilar cada frase e de reduzi-la àquele mínimo dos mínimos, pelos quais se pode dizer que o grande escritor é aquela cujo texto não poderia ser escrito senão pela forma que ali deixa estampada. Jose Lins do Rego era um relaxado no escrever. Parecia às vezes ter gosto do derramamento. Outras vezes cortava brutalmente a frase, no momento em que ela ia alçar vôo nos remígios da imaginação incandescida. Cortava-a voluntariamente, amputava-a, e ao mesmo tempo, quantas vezes, pelo prazer de rematar as características de uma personagem, dava-nos o personagem por inteiro, num breve, lúcida, cortante frase, que nos entrega algumas da figuras definitivas do elenco romanesco do Brasil, com um sentido quase jornalístico da realidade, que faz da sua obra de romancista, por muitos aspectos, ao menos neste particular, uma espécie do Tolstoi da “Ressurreição; seja em seus painéis ou em suas miniaturas, retrata uma época e, projetando-a, tornam-na parte inseparável da realidade de um povo”. (“Em vez ...”, 2a edição da Nova Fronteira em 1975, páginas 20/21). ESCRITOR II – “Só sei escrever por encomenda, não conheço o prazer da gratuidade – creio que por não me agradar o esforço físico de escrever; em matéria de esforço físico preferiria o mar, se não fosse míope e a terra, com os seus tons de barro, massapé, minhoca e argila, sua idade imemorial, a terra cujos grão nos contemplam e é áspera na mão, a terra sensual, única e mole ou seca e ardente, a terra feita de tantas imolações, tantas inumações, a terra dos defuntos e das ressurreições, a terra das sementes e das flores, do sumo e da brotação, quando o verde a invade e cobre o seu lombo castanho. Não sei escrever para guardar, parece-me inútil ou será simples preguiça, condenável desprezo pelo esforço desinteressado. Talvez isto me facilite ser o oposto do mercenário. Tenho artigos que valeriam fortunas e sossego aparente se os tivesse vendido ou não os escrevesse. Mas o desafio é uma forma aguda de honradez. A desonestidade intelectual , ainda mais assim na sua forma crua, é uma forma como outra qualquer – e ainda pior – de negar a caridade. (“Critica e autocrítica”, editora Nova Fronteira, 1966, página 23). ESQUERDA DIREITA I – “um certo maniqueísmo malgrado meu, levou-me a servir de instrumento de terceiros, matreiros, sobretudo, reacionários que viam em mim a coisa mais parecida com a esquerda que a direita podia ter ao seu lado. Creio que todos nesse ponto se enganaram, inclusive a esquerda que passou me considerar o inimigo preferencial a destruir, principalmente pelo que tinha de parecido com os seus métodos e táticas”. (“Crítica e Autocrítica”, edição Nova Fronteira, sem data, página 26). ESQUERDA DIREITA II – “Começo por não acreditar nessa divisão de esquerda e direita que é uma e espécie de maniqueísmo político-social e não atenta para o fato capital da sociologia – que é a irrupção da psicologia, essa ciência imberbe. Acredito sim, na existência de conservadores esclarecidos assim como na de revolucionários burros. Também acredito que existem tendências, uma para se conformar, outra para não se conformar, isto é, para reformar. E isto tem mais a ver com a Psicologia do que com a Economia ou qualquer ciência exata. Pertenço a essa última tendência, a de reformar, mas por repelir a falsa posição de “reformas” para não valerem, caí no conto de uma “Revolução” que não é revolucionária. Sabia que ela era mais conservadora do que se poderia suportar, mas contava que não viesse a ser reacionária. E era. E é. O País se atrasou, em vez de adiantar-se, com essa revolução de “marcha-ré”. (“Crítica e Autocrítica”, edição 1966 da Editora Nova Fronteira, páginas 26/27)........................................................... ESTADISTAS I –“Uns quantos mitos tomam o lugar das definições exatas. Umas quantas panacéias tratam de substituírem--se aos remédios adequados. Os assessores são indispensáveis. Mas não substituem a necessidade dos estadistas e do bom uso que estes façam da cabeça para aplicar a definição de um francês: governar é escolher”. (“O Poder das Idéias”, editora Distribuidora Record, 1962, página 23). ESTADISTAS II – “Com largo sorriso perguntou, quem sabe você fará o prefácio também deste? – Teria o maior prazer, disse, mas se pudesse escolher preferiria, porque seria o melhor para os brasileiros, o seu segundo livro, “Profiles and Courage,(*) ensaios sobre momentos decisivos em que certos estadistas arriscam e às vezes perdem conscientemente a popularidade que acumularam, para servir ao povo mesmo contra a vontade do povo. Sempre pensei que a popularidade é um capital que se acumula para gastar em favor do povo e o medo de perdê-la é, às vezes, uma forma de traí-lo”. ( “Uma Rosa é Uma Rosa é Uma Rosa”, Distribuidora Record, edição de 1966, páginas 48/49). ESTADO DE ISRAEL - "Tempos depois, em novembro de 1947, quando a delegação brasileira, contrariando as instruções do Itamarati para se abster de votar a partilha da Palestina, seguiu a liderança de Osvaldo Aranha, que ocupava a presidência da ONU e favoreceu a criação do Estado de Israel, viajei ao Oriente Médio para o Correio da Manhã e outros jornais. A decisão provocava a guerra no Oriente Médio. Sustentei, certo ou erradamente, o que pensava: que o Brasil devia ter-se abstido de votar a partilha. Por quê? Porque o Brasil, com uma grande comunidade árabe (Sírio-libanesa) e uma numerosa comunidade judia, ao contrário dos Estados Unidos, onde o voto judeu obriga os candidatos a tomarem partido, e da Inglaterra, que estava com um mandato para dirigir a Palestina até o fim, deveria ficar, a meu ver, como um intermediário para a hora da crise, que forçosamente viria. As crônicas que mandei sobre isso estão publicadas num livro intitulado O Brasil e o Mundo Árabe". ("Rosas e Pedras”, página 135). ESTADO NOVO E OS JUDEUS - "O Ministério da Justiça restringia ao máximo a entrada de judeus. Havia quem negociasse a permissão de entrada de refugiados, vistos em passaportes, o tráfico mais infame. Mas um diretor de Imigração, incorruptível, pelo menos era o que constava, foi o pior de todos, porque era anti-semita. Era mulato, mas racista. Em desespero de causa lembrei-me que conhecia uma médico de Saúde do porto, chamado Fábio Carneiro de Mendonça. Fui ao seu consultório, no Edifício Rex. Nada mais podia fazer. O navio estava de partida. Mas telefonou para o seu colega de Santos, que deu autorização para o desembarque da velha judia de Berlim. Daí veio a minha amizade com o dr. Fábio, depois colaborador da Tribuna e, no meu governo, diretor do Hospital dos Servidores do Estado, homem sincero, capaz, integro, leal e com um raro espírito público". (“Rosas e Pedras”, página 136). ESTADOS UNIDOS - “De uma sociedade tumultuosa, fundada num ideal de liberdade e de reforma, mas enriquecida na obsessiva e feroz competição, os Estados Unidos evoluíram para uma sociedade de cooperação, iluminada pelo reformismo de seus melhores espíritos. Mas duas guerras mundiais, a segunda ainda mais, puseram a metade do mundo à mercê do Império Americano tal como é, generoso com as sobras, mas agarrado aos privilégios dos grupos que o dominam”. (“Em vez”, editora Nova Fronteira, página 211/212). EXEMPLO - “Acredito no exemplo. Tenho encontrado imitadores dos meus defeitos. Procuro imitar as qualidades alheias. Só temo vir a ser isto que chama hábil. Por isto noto que certa habilidade se infiltrou em mim, pois esta autocrítica me saiu mais parecida com auto-elogio. Abomino a habilidade. Pois quanto a mim, ela sempre foi tudo quanto o que penso e quero. O que procuro deixar para todos, como exemplo de dedicação e fé. Bravio, quase selvagem, mas não orgulhoso. Exemplo muito mais humilde, muito mais manso do que ouso dizer”. (“Crítica e Autocrítica”, edição 1966, Nova Fronteira, página 39). EXISTENCIALIMO – “Há uma ponta de existencialismo neste modo de encarar ideais altissonantes, que as pessoas se habituam a ver escritos em maiúsculas, intangíveis? Sim, intangíveis, que não se pode tocar, portanto também inatingíveis. Mas perder a cerimônia com os ideais é o melhor meio de servir-lhes. Eles precisam ser despidos do véu cartaginês com o qual se procura divinizá-los como uma forma de esquecê-los. Eles são parte partes inseparáveis do corpo e do espírito dos homens.” (“Crítica e Autocrítica”, edição 1966 da Nova Fronteira, página 30). FANATISMO – “Maior, porém, do que tudo é a diferença entre a convicção e o fanatismo. Desde cedo aprendi essa diferença à minha própria custa. Mas creio que nunca teria aprendido, apesar de todas as lições que a vida meu deu, às vezes bem cruamente, se não tivesse povoado de imaginação os meus princípios, de sonhos, as minhas idéias. Por isto tenho medo dos que se intitulam realistas a ponto de não deixar lugar para à imaginação. Pois à força de serem realistas, acabam cínicos. E por se tornarem cínicos destroem a força dos princípios que julgam defender”. (Carlos Lacerda, “Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 140). FATO POLÍTICO - "Os fatos políticos, creio, descrevem uma parábola, ao termo da qual se ligam a uma nova, e assim sucessivamente. Estamos em pleno desenvolvimento da parábola. O que chamamos de revolução ainda não chegou ao apogeu. A maior crise se aproxima a olhos vistos, quase se pode tocá-la antes de vê-la, pois ela vem silenciosa, sã, enorme, pesada, como uma nuvem de tempestade, ainda que pareça distante, porque está no espaço e não ao alcance de nossa mão." ("Rosas e Pedras”, página 293). FÉ I - "Sem fé, a nossa vida não passa de uma obrigação obscura e monótona. Com ela, se transforma numa fascinante peregrinação". (“A Via Sacra” - Jornal do Brasil de 24.03.88). FÉ II – “Não me faltaram desapontamentos, mas os maiores foram causados pelo excesso de otimismo da perfeição das criaturas do que pelas obscuridades da fé. A fé‚ algo que acende e apaga, que ilumina e obscurece. Há um momento em que o mais douto dos teólogos deve sentir imensamente o seu desamparo, e então Clara, a minha babá, com sua medalha milagrosa, teria mais apoio para a sua fé pura e simples do que o erudito comentador dos evangelhos. Esse saldo no escuro, que o último passo, quando não tenha sido o primeiro, é que é o ato de fé." (“Rosas e Pedras”, página 183). FILANTROPIA – “Não me importava nada dizer aqui quais eram a suas idéias políticas e tendências sociais, pois isto no balanço de uma vida é menos do que a capacidade que demonstra ser sinceramente, empenhadamente dedicado a uma causa, a um sonho, e capaz de transformá-lo em algo tangível. Ana Amélia Carneiro de Mendonça pertenceu à variedade, rara na raça humana, dos que fazem da felicidade alheia condição expressa da própria felicidade. Sua vida foi uma constante doação; curiosamente nunca fez cobrança de gratidão ou glória, como se soubesse – e com certeza sabia – que aquele era o seu modo, o único tolerável, de ser egoísta, satisfazer-se em dar aos outros possibilidade de realizarem; e manter viva, em cada pessoa, a confiança que tinha no valor da vida”. (“Em Vez ...”, 2a edição da Nova Fronteira em 1975, página 46). FILOSOFIA - "Estou convencido de que um dia o mundo ocidental vai fazer com Descartes o que a China está fazendo com Confúcio. Vai destruir a lógica cartesiana. Porque a única lógica que pode reger uma sociedade é a hegeliana, quer dizer, o mundo dá saltos e as coisas se fazem por teses, antíteses e sínteses. E não por meras armações de silogismo. Descobri essas coisas na minha solidão". ( Na revista “Veja” de 8.05.74, página amarela). FIRMEZA – “Não pactuar com o erro a pretexto de que assim se lhe atenua o efeito deletério, é um ato de firmeza que exige mais contenção, mais coerência, do que o simples protesto ocasional, sem conseqüências, logo extinto e logo desfeito por inconseqüência fácil de abafar e ainda mais fácil de ser esquecido. Enquanto existir uma voz que não pactua, o coro desafina. Se as vozes discordantes de todo se calam, ou falam uma vez só e nunca mais, o coro se torna perfeito, isto é, horrível na sua monotonia, na sua compungida e abjeta submissão”. (“Em Vez...”, 2a edição Nova Fronteira de 1975, páginas 13/14) FMI - “Nenhum país ainda pobre resolveu os seus problemas com a política imposta pelo FMI. Ao contrário. Seus resultados, no Brasil, em dois anos e sete meses são: desestímulo, desorientação, desemprego, decadência, desordem e desespero”. (“Manifesto da Frente Ampla”, inserta no livro “Critica e Autocrítica, editora Nova Fronteira, 1967, página 71). FORÇAS OCULTAS I - "Vargas morreu desiludido com os políticos oligarcas e abalado pelo poderio do domínio do sistema imperialista sobe o Brasil. Vivo, também me pressionaram e me intimaram as mesmas forças que impropriamente o presidente, Jânio Quadros, chamou ocultas, quando aí estão bem à vista, pois se apossaram escancaradamente do Brasil pela mão do Marechal Castelo Branco e seus cúmplices na traição de 31 de Março de 1964”. (“`Rosas e Pedras do Meu Caminho, edição 2001 – página 251). FORÇAS OCULTAS II – “as forças ocultas existem. Mas, longe de serem contra o governo Jânio, foram-lhe até favoráveis. Foi na casa de Walter Moreira Sales, representante “par excellence” das forças ocultas que o Ministro Horta me mandou chamar, certa noite, para tratar de assuntos de Estado. Ao compasso de champanha e uísque as forças ocultas pareciam bem satisfeitas, pois Jânio era exatamente o que as forças ocultas aclamaram em Castelo Branco: revolucionário por fora, por dentro conservador, de respeito aos direitos adquiridos, respeitador dos direitos à aquisição”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, edição UnB-Fundamar, 2001, página 289). FORÇAS OCULTAS III - "A articulação dos fundos necessários foi feita por Walter Moreira Sales, que no governo Dutra, por influência de Assis Chateaubriand, foi feito diretor de uma carteira do Banco do Brasil de onde partiu para se tornar uma figura internacional como embaixador e ministro de vários governos diferentes, sendo hoje o principal instrumento de interesses estranhos. Walter serviu-se de todos os governos e abandou todos eles, de Vargas a Castelo Branco - e agora prepara, com um banquete de admiradores pagos por ele próprio, a sua entrada no Governo Costa e Silva". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", pagina 239). FRAÇÕES NA MATEMÁTICA - "Não sei até hoje extrair uma raiz quadrada. A cúbica então é uma ficção científica"(...) "Trato com bastante cerimônia as frações. Não saberia distinguir as próprias das impróprias". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, edição Fundamar-UnB, 2001, página 95). FRENTE AMPLA I - "A grande batalha do Brasil é contra a miséria, contra o seu atraso, contra o desperdício de oportunidades, de energias, de recursos e de vida. O nosso ódio, devemos concentrá-lo nisso, se é necessário odiar para isso. O nosso amor, devemos concentrá-lo nisso, e não no culto a este ou àquele herói". ( “O que há por de traz da Frente Ampla”, in "Carlos Lacerda, O Sonhador Pragmático" de Mauro Magalhães, página 330). FRENTE AMPLA II – “Se não se formar a Frente Ampla no Brasil, ela será formada como frente popular, com as características de um movimento de protesto incoercível, que só será vencido pela brutalidade das armas e pelo terror ditatorial”. (“Rosas e Pedras do Meu caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 159). FRENTE AMPLA III – “Queremos para o Brasil sempre o melhor. Por isso mesmo as vozes que lhe deram o exemplo de sua capacidade de luta e afirmação, até aos extremos da desunião, unem-se agora para dizer aos brasileiros: é tempo para acabar com a impostura da Pátria e da Democracia”. (“Do manifesto em nome de Juscelino e João Goulart, redigido por Carlos Lacerda, transcrito em “Crítica e Autocrítica”, edição da Distribuidora Record, 1967, página 69). FRENTE AMPLA IV – “Sei que já falei nisso, mas acho que aqui, talvez, haja alguma coisa de novo para insistir neste aspecto, que tem um certo interesse por aquilo que vem depois, como por exemplo a minha relação com Juscelino, a Frente Ampla e sobretudo quanto ao problema de cassações. Porque, na verdade, a primeira cassação que se tentou no Brasil depois de 1945, por incrível que pareça foi em 1957, pelo Juscelino”. (“Depoimento”, Nova Fronteira, página 180). FRENTE AMPLA V – “A paz dos brasileiros só se alcança pelo crescimento social do Brasil e tal crescimento só se obtém por uma paz entre os desavindos, mesmo os que brigam por amor à justiça. É uma forma aguda de farisaísmo, a intransigência com os homens quando com ela se perde a oportunidade de realizar os princípios pelos quais se luta, e sobre os quais, sim, é preciso ser intransigente. Para uns é fácil ser intransigente com os vencidos. Sou dos que prefere a dureza para com os vencedores à valentia contra os vencidos”. (“Crítica e Autocrítica”, Editora Nova Fronteira, 1976, página 34). FRENTE AMPLA VI - - "Estou convencido de que é urgente sair da mesquinharia e da mediocridade e promover, com urgência, um entendimento nacional para a paz, a democracia e o desenvolvimento integrado. Basta ver o esforço dos medíocres para evitar esse entendimento e só com isso já entenderam quanto temos razão, os que reivindicamos o entendimento, começando por dar exemplo de conciliação e de compreensão. Se isto não se fizer enquanto é tempo, terá de ser feito em plena crise. Pois a crise vem ai. Nem um maciço auxilio militar americano bastaria para impedi-la. Por vir das Forcas Armadas. É dos quartéis que ela vai sair." ("Rosas e Pedras, página 257). FRENTE AMPLA VII - "Precisamos é de um sentimento capaz de unir os brasileiros, não apenas em torno de vagas e ilusórias frases, nem para abrigar-se sob as garantias democráticas que lhes foram parcialmente arrebatadas. È de uma união atuante e empolgante, capaz de mobilizar verdadeiramente os brasileiros em torno de uma obra de governo que, necessariamente, terá que ser positiva e negativa, terá que encarar prioridades e não sair deste critério a ser previamente definido. Uma obra que não pode fazer ao mesmo tempo a Ponte Rio -Niterói e a deflação. E que não pode jogar com as palavras. Tem que se definir, fixar prioridades e metas, e agir de acordo com as linhas mestras que forem assim definidas. Depende de um esforço que tem de ser conjugado e não apenas individualizado segundo a pior ou melhor disposição de cada ministro ou diretor de autarquia. Assenta numa filosofia básica e comum a todos, um principio diretor no qual podem conviver até as mais sérias divergências, desde que entendidas quanto ao ponto de partida: a mobilização nacional para o desenvolvimento. E quanto ao ponto de chegada: a expansão de uma cultura democrática para dar ao Brasil a dimensão de uma Nação". (“Rosas e Pedras”, páginas 296/297). FREUD I – “Quando Freud surgiu brandindo algumas descobertas essenciais, como um mergulhador atrevido que trouxesse ao homem a revelação de seus mais íntimos e reveladores segredos, era de esperar que uma torrente de renovação sacudisse o marasmo, o torvo conformismo em que afundava, desde os exorcismos à camisa de forças e aos banhos gelados, uma tardonha psiquiatria que marcava passo e se perdia. O atraso desta não era senão a dificuldade de operar, com instrumental meramente cientifico, sobre o espírito, com todos os nomes que lhe têm sido dado para evitar chamá-lo de alma. A alma transcende a ciência e por isto foi negada. Agora é a sua desforra: pseudo ciência a relança no mercado. Nunca a alma foi tão consumida quanto hoje, depois de ter sido maciçamente negada por mais de um século”. (“Em vez”, 2a edição da Nova Fronteira, 1975, páginas 58/59). FREUD II – “O mérito maior d Freud e de seus seguidores não é o de haver descoberto, um pouco por dedução e muito por intuição, o que a ciência oficial não chegara a perceber. Freud lançou um fecundo desafio à ciência oficial. Acontece que à revelia do público leigo, entre hesitante e relutante a ciência oficial se renovou. Avançou muito, em todo caso muito mais do que em muitos séculos”. (“Em vez ...”, editora Nova Fronteira, 2a edição 1975, página 62). FREUD III – “Foi, talvez, o que perturbou a mente daquele homem genial e contraditório, ele próprio um “ansioso analisando” privado de analista. Na última parte da sua vida, Sigmund Freud promoveu a psicanálise, do atrevido método de tratamento individual, como qualquer coisa de auto-descoberta. (“conhece-te a ti mesmo”) a uma teoria geral do comportamento, e daí, da concepção do mundo.`No final tornou-se uma espécie de megalomania. Em todo o caso, uma visão apoteótica e messiânica: o mundo explicado pelo fáustico dr. Freud, e salvo pela psicanálise, a que não se submeteu o seu próprio criador. A teoria freudiana passou a constituir uma filosofia, uma atitude perante o mundo e uma explicação da vida social, da Historia e da Sociedade”. (“Em Vez ...”, 2a edição da Nova Fronteira em 1975, página 59). FUTURO I - "Futuro não é o que se espera, é o que se faz. A partir da idéia de que a expectativa do milênio intensifica o medo e o pessimismo que leva a humanidade ao desespero nestes tempos temerários, alguns especialistas afirmam que o futuro não é tão negro assim". (“Em Vez ...”, crônicas editas pela Nova Fronteira, 2a edição 1976, página 170). FUTURO II - "Em alguma parte do mundo, conhecido ou ignoto, estará traçado o rumo que as pessoas vão seguir, as ocorrências de sua rota, como num aeroporto em que se traçam as dos aviões? - É mais difícil acreditar no mero acaso, na série infinita de coincidências, do que os gregos chamaram a fatalidade, o sentido do destino, e os cristãos chamam de Providência. (Carlos Lacerda, "Rosas e Pedras do Meu Caminho", 1a co-edição UnB-Fundamar,2001, página 195). FUTURO III – “Em vez de ensino e educação somente num período de vida, a educação e o ensino se estenderão ao longo de toda vida, graças à diminuição das horas de trabalho propriamente dito. Seremos todos estudantes como hoje somente alguns podem (e querem) ser”. (“Em vez ...”, editora Nova Fronteira, 2a edição de 1976, página 176). GALILEU – “Declaro que Galileu se enganou, pois o mundo é e se torna cada vez mais chato. Declaro-o aliás, chatíssimo, esse mundo que não ata nem desata”. (“O Cão Negro”, página 13). GARY COOPER – “enquanto viver, acredito que é necessário responder ao desafio. O Gary Cooper de cada um que se levante e ande, na direção dos bandidos da cidade. De cada esquina outros virão, e serão muitos. Sua carga de erros, seus defeitos mil, onde ficaram? Já nem sei, pois sou um homem de boa fé. E agradeço a Deus me ter poupado, neste mundo, as torturas infernais de duvidar da força das idéias e dos exemplos. Das pessoas, deveria duvidar um pouco mais, porque tenho sofrido muito por causa delas. Mas, uma só, que corresponda, ou supere a minha expectativa, basta para me reconciliar com o gênero” (“Critica e Autocrítica”, edição 1966, Nova Fronteira, página 39) GETÚLIO - PERON - MUSSOLINI - "De seu longo período de governo, de 1930 a 1945, ficaram sinais positivos, o maior dos quais é a tomada de consciência, pelas bases dirigentes, da existência e da importância do homem comum, do homem sem importância, do homem no meio da massa. Foi esse o fato novo que na era de Vargas, como na de Peron ou na de Mussolini, assombrou a oligarquia política e acabou por inquietar os grupos privilegiados, que com ela se confundiram. Fossem outras a sua formação e a sua vocação, e teria prestado ao Brasil o inestimável serviço fazê-lo avançar no caminho da reforma democrática. Não sendo democrática a sua vocação, nem a sua formação, manteve o povo na ignorância e, mercê de sua extraordinária simpatia pessoal, de seu agudo oportunismo, usou a presença do povo no fato político para construir sob o domínio do seu grupo. Assim se converteu, aqui como na Argentina e noutras partes do mundo, o fato social da presença do povo, onde antes só uma elite decidia, num reforço do regime de tutela sobre o povo, que constituiu o instrumento de domínio de uma nova oligarquia". (‘Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 234). GETÚLIO VARGAS I – “Foi mérito seu, indiscutível, o de haver compreendido o valor do homem sem importância, o significado de contar com o homem anônimo, no momento em que o povo passou a ser o elemento de maior importância nas eleições com o voto secreto e outros benefícios da revolução de 30. Enquanto alguns políticos passavam a falar apenas para um grupo, ele e alguns poucos outros, passaram a falar para às grandes massas do povo”. (“O Poder das Idéias”, editora Distribuidora Record, 1962, página 30). GETÚLIO VARGAS II – “As razões do suicídio de Vargas estão no seu próprio temperamento, em seus antecedentes, com várias referências a suicídios, em 1930, em 1932, etc., e na solidão em que vivia, no abandono em que se viu naqueles dias terríveis. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, em 2001, página 248). GETÚLIO VARGAS III – “Na realidade, o suicídio foi um meio desesperado pelo qual Getúlio Vargas procurou libertar-se dos erros acumulados e do grupo que o cercou, impedindo-o de compreender as nossas duras, mas úteis advertências. À sua volta conspirava-se, roubava-se, pilhava-se o Brasil. Quando desses erros e crimes se passou ao assassinato, tudo que havia nele de bom o digno reagiu contra o aviltamento, a ignomínia a que o haviam rebaixado. De acordo com os seus antecedentes pessoais, ele recorreu ao suicídio como uma forma de protesto e resgate.” (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 249). GETULIO VARGAS IV - "Vejo, então, Getulio começar a levantar-se junto com outros. Sousa Costa, o mais discretamente que pôde, põe-lhe a mão no ombro e o faz ficar sentado. Tinha razão Virgilio: tomado de surpresa, quase vota a favor da moção contra o seu governo. Este e outros episódios não costumam ser contados nas litanias todos os anos publicadas a propósito de Getulio Vargas. Tomada de surpresa pelo drama do seu cecídeo, a nação absolveu-o de culpas; e foi bom. Ninguém cobrou do Exército a cumplicidade dos seus chefes e a passividade geral na instauração da ditadura. Seria bom por isto mesmo que o Exército não perdesse a lição de Caxias - que "levava a conciliação na ponta da espada". Mas contrariamente à generosidade dos que calam diante do adversário vencido, os aproveitadores de seu sacrifício passaram a explorar o seu cadáver, a viver de sua morte. É tempo de deixar aa Historia o julgamento de uma obra que tem aspectos negativos e positivos. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição Fundamar –UnB, página 233). GETÚLIO VARGAS V - "Formado na tradição da ditadura republicana, de origem positivista, forrados de ceticismo da geração que leu Renan, e soprado por um gosto irresistível pelo poder, de origem caudilhesca, Getúlio Vargas foi, ao mesmo tempo, a expressão de um recuo político e o instrumento de um avanço social. Fez o Brasil recuar a uma ditadura pela qual nunca passado antes, animada pelos "ventos da história", que sopravam na vela do nazi-facismo, que parecia invencível. Ao mesmo tempo, embora turvado pela mancha do paternalismo, que impediu então e até hoje impede a formação de movimento sindical livre e autêntico, fez o Brasil avançar socialmente. A oligarquia que o gerou não perdoou essa traição ao domínio da minoria. Mas em vez de por no lugar da oligarquia a vontade livre do povo, substituiu-a por uma facção, a sua facção, e deu início a outra oligarquia. Para isto usou, com uma desenvoltura, um tato político absolutamente incomum, a omissão e a submissão da Forças Armadas, a incapacidade da casta política, cujos elementos ele foi usan do um a um, e desdenhosamente desmoralizando-os à medida que já lhe não serviam" (‘Rosas e Pedras", página 23). GLOBALIZAÇÃO – “Por uma série de fatores, dos quais o mais importante, ainda mais do que interdependência econômica, é o contágio psico social resultante dos exageros de comunicação, da instantaneidade dos seus efeitos sobre as comunidades nacionais, ampliação monstruosa dos mexericos de aldeia, da “aldeia global”, o Brasil se arrisca a sofrer também essa psicose da crise. É bom estar preparado para certas alterações. Mas, a “crise” alegada não haverá. Das sacudidelas que houver sairão mais fortes os que tiverem dentro de si elementos de grandeza. E mais fracos os que os que em vez de crescer apenas incharam”. (“Em vez”, editora Nova Fronteira, 1976, 2a edição, páginas 179/171). GOLPE – “Houvesse a Revolução fechado o Congresso nas horas que seguiram ao golpe militar, seria apenas a lógica inflexível dos acontecimentos, para reabri-lo depois, saneado, recuperado através de uma reforma política e social pela qual ansiava a Nação. Mas, não. Agora, num cálculo de sórdida politicagem, cria-se artificialmente uma crise com o Poder Legislativo, amputando a Nação na parte mais essencial de sua vida, aquela através da qual ela respira, - o seu pulmão político – que é precisamente o Congresso”. (“Carta a um Amigo Soldado em “Critica e Autocrítica”, edição 1966, Nova Fronteira, páginas 45/46). GOLPISMO I – "Foi o que chamaram o meu golpismo: reconhecer que tinha havido uma solução violenta, que havia começado um processo de transformação no país, que era preciso não perder aquela crise para começar as reformas de que a nação carece. Mas, não. Manteve-se no poder a oligarquia, aperfeiçoada pela tranqüilidade de quem afasta do poder os aliados indesejáveis. Em Vargas detestavam muito menos o político de tendência autoritária, do que a inclinação reformista que punha em perigo os velhos privilégios do sistema dominante. O próprio Café Filho foi vítima do sistema. Por isto, quando em 1955 o Exército o depôs, o povo ficou indiferente". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", página 248/249) GOLPISTA II – “Foi ai que comecei a defender a tese que me valeu o titulo de golpista e até de fascista. Comecei a defender a tese de que a eleição de 1955 – sucessão de Café Filho – não poderia ser realizada com a lei eleitoral em vigor, toda cheia de efeitos, como essa do Presidente poder ser eleito com o Vice Presidente adversário. E dizia que era necessário não apenas a reforma da lei eleitoral, mas de uma reforma profunda do país, e que essas reformas, além de necessárias, ainda teriam a vantagem de dar tempo para desintoxicar do que vinha de vários anos demagogia, que vinha de vários anos de ditadura, de vários anos de propaganda de um mito” (“Depoimento”, página 147). GOLPISTA III –“havia assim um falso ar de tranqüilidade, de normalidade, que nada tinha a ver com a realidade, que era na verdade – para quem tivesse um mínimo de sensibilidade e – assustadora, porque o que tinha havido no Brasil era o que aconteceu no drama de Shakspeare, e não foi à-toa que eu traduzi esse drama: Júlio César. A mesma multidão que aclamava Brutus e os que mataram César, quando Marco Antonio fez o seu discurso com o cadáver nos braços, e começou a pedir a morte do que assassinado César. Foi assim que passei de vítima a assassino”. (“Depoimento”, página 149) GOLPISTA IV- "Os mais famosos golpistas, revolucionários desde 1922, pareciam atacados de legalismo agudo, me chamavam de golpistas porque eu insistia em dizer que tinha havido uma revolução no Pais. Esses senhores não sabiam o que é revolução; por isso, até hoje, estão confusos. A maioria dos lideres da UDN desligou-se de mim como se eu sofresse doença contagiosa. Tal qual o regime Castelo Branco, no de Café Filho se tornou corrente renegar qualquer ligação ou afinidade comigo, como condição de sobrevivência política para ocupar ou aspirar posição no governo. A traição foi institucionalizada. Sob Castelo Branco aperfeiçoou-se o método: traição foi transformada em titulo de recomendação. Valia tudo: contando que o povo não pudesse escolher seus lideres e fosse forcado a aceitar os que a si mesmos se chamavam lideres", (“Rosas e Pedras”, pagina 261). GOLPISTA V - "Por tudo isto é que defendi que é preciso: primeiro reformar a legislação eleitoral; segundo, desmontar a maquina ditatorial; depois convocar eleições. Convocar eleições em cima disto é apenas coonestar a volta do ditadura com o voto popular. Coisa que se deu depois com o Peron. Mas explicar isto aos juristas da UDN era coisa inviável, porque eles tinham do direito uma concepção puramente estética, isto é, eram incapazes de conceber um direito político, isto é, dinâmico. (...). Depois tentavam inventar fórmulas: "Vamos fazer uma campanha pela maioria absoluta ... Agora, depois das eleições?...". ("Depoimento", edição Nova Fronteira de 1977, página 102). GOVERNO BRASILEIRO - "Qual é a questão geral do Brasil? No fundo é ainda uma questão particular. É que até hoje, com algumas exceções, tantas vezes malogradas, estiveram rigorosamente separadas na tarefa de governar este grande país em ter, duas atitudes, duas posições diante da vida e do mundo. A posição da inteligência e a do instinto. A posição da razão e a posição da ação prática. Produtores de um lado, especuladores da política para outro. Homens de princípio de uma lado e homens de meios para outro. Homens que roubam, mas fazem para um lado, homens que roubam, mas não fazem para outro". ("Palavras e Ação", Editora Distribuidora Record, 1966, página 90). GOVERNO DA GUANABARA – “Este documento constitui o programa do quarto ano do meu governo. Obedece aos princípios gerais que constituem uma verdadeira reforma de base. Essa reforma consiste essencialmente em governar. Governar quer dizer planejar e executar as obras e empreendimentos ordenados segundo prioridades reais, em face dos recursos efetivamente disponíveis. Mas para que isto seja viável – é indispensável: I – revisão e permanente atualização da máquina administrativa; II – uma administração de pessoal justa, estimulante e severa, ainda que generosa, mas inabalavelmente impessoal; III – uma política financeira atualizada e fiel aos princípios da justiça tributária”. (Revista Manchete de m. 607 de 7 de dezembro de 1963, página 117). GOVERNO II – “O segredo do bom governo é fazer de conta de que tudo que é do governo é seu, desde que sempre lembrado de que nada do governo lhe pertence”. ( “Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 284). GOVERNO III – “Sem uma política vigorosa na ação e empolgante na imaginação, não há técnica econômica que levante o país da crise que lhe atinja os centros vitais. Se tivesse que resumir a alternativa , eu diria: dê-se entusiasmo e confiança para trabalhar, com um governo capaz de inspirá-los.” (“O Brasil entre a Verdade e a Mentira”, editores Bloch, 1965, página 53) GOVERNO IV – “como governar não é somente fazer leis, nem muito menos fazer muitas leis na área de economia, governar é acima de tudo libertar as forças produtivas do país para que ele possa produzir. Não é só economia e finanças, e nem é economia e finanças separadas dos resto. É educação, saúde, transporte, bem estar social. Os problemas de um governo são inseparáveis e integrados. Tratá-los, pois, assim.” (“Brasil entre a Verdade e a Mentira”, edição Bloch de 1965, páginas 66/67). GOVERNOS BRASILEIROS - "Freqüentemente as pessoas dizem: critica-se sempre os governos, no Brasil, nos mesmos termos. Por quê? Raramente as pessoas tiram daí a inelutável conclusão: é‚ que no fundo os males são os mesmos. E como, no fundo, os governos também são os mesmos, é natural que as críticas, no fundo, sejam as mesmas. A repetição das críticas traduz a repetição dos erros. Variam, é claro, personalidades, fisionomias, circunstâncias. Mas a verdade, o que essa repetição de críticas comprova, é que os governos, como aquela canção, quanto mais mudam mais são a mesma coisa, no essencial, com raras e intermitentes exceções. E o fato de mudarem as pessoas, esta ser mais simpática, a outra mais inteligente, etc., não altera substancialmente a conclusão", ("Rosas e Pedras", páginas 114/115). GRAMÁTICA - "Já com a gramática, as queixas são recíprocas. É um caso de incompatibilidade de gênios. Escrevo de ouvido, como toco no piano os primeiros acordes da ária do Guarani: "Sinto uma força indômita". Forçado a fazer a anatomia de umas estrofes de Os Lusíadas para passar no exame, pareceu-me que estava eviscerando o poeta. Na gruta de Camões, em Macau, o ano passado, pedi desculpas ao seu busto, enquanto uns chineses jogavam caxangá em chinês. Afinal, Camões não fez Os Lusíadas para desemburrar meninos, e sim para inspirar um povo. Eis toda a diferença entre alfabetização e educação". (“Rosas e Pedras", página 97) GRANDES FALHAS – “Algumas rupturas doem muito. Às vezes um momento de impaciência, uma frase de espírito”. (Seleção da Manchete de 06.06.1977) GRANDEZA - "O que distingue a grandeza, que não é apenas um dom de nascença, porque também se pode formar e cultivar, é a capacidade de preparar-se, aceitar responsabilidades e usar com firmeza e sem pressa, a oportunidade de fazer o que sabe e o que pode. Há dias um ilustre inglês me recordava que Churchill, a maior figura deste meio século, por volta de 1960 era, aparentemente, frustrado. Mas - acrescentei - desde os seis anos, ele sabia que não". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", edição UnB-Fundamar, página 57). GRANDEZA DE DEUS - "Mais cedo se encontrará o modo pelo qual se formaram os corpos celestes, a causa de seus movimentos, em suma, a origem de toda a natureza cósmica atual do que a explicação, por razões meramente mecânicas, para a existência de uma pequena planta ou de um só lagarta". (Carlos Lacerda, "O Cão Negro", ed/Nova Fronteira, 1971, página 23). GREVE – “O povo está vendo os bens da vida e se julga, legitimamente, com direito a obtê-los e a desfrutá-los. Mas, em vez de confirmarem nele o que ele sempre soube, isto é, que o trabalho é o único meio eficaz de conseguir essa participação, esse acesso, essa promoção, dizem-lhe o contrário. E na prática o induzem a proceder de modo oposto. É quando se para de trabalhar que se é premiado. A greve, como arma de degradação dos poderes democráticos e do seu controle recíproco, tornou-se instrumento de decomposição nacional. Era a arma suprema e derradeira do trabalhador para melhorar as condições do trabalho. Tornou-se no Brasil, hoje, a arma cotidiana do demagogo e do caudilho para enfraquecer o País e lançar parcelas do povo uma contra as outras”. (Carlos Lacerda, em Manchete n. 607 de 7 de dezembro de 1963, página 115). GUERRA, A MINHA – “ Tenho a minha guerra que é a justificação de minha vida. Ela dá gosto aos meus defeitos, justificação moral aos meus erros, torna mais necessário o engajamento do que a autocrítica. Que fazer? Nasci engajado. Quando morrer, na hora de descer o caixão estarei vendo se tudo correu bem, pensando em como ficou a minha gente, gozando as cartas dos meus inimigos obrigados a me elogiar post-mortem, como é de costume, com orações intercaladas e prudentes ressalvas (não vá esse sujeito ressuscitar....) por passarem por bom caráter que perdoa a morto o que não lhe compreenderam em vida. Creio que até irei ao ponto de me apiedar dos que honrarem com as suas lagrimas. Na hora de morrer, se não me ocuparem outros pensamentos mais urgentes, estarei pensando que como Governador não tive como providenciar cemitério mais accessível”. (“Crítica e Autocrítica”, edição 1966, Nova Fronteira, páginas 38/39). HISTÓRIA DO MUNDO – “A história do mundo pode ser lida na beira dos barrancos, nas camadas da terra, nos seus veios. A erosão deixa-me sempre uma impressão de começo de decrepitude do mundo. Mas também se pode conhecê-la nas árvores, que são terra e luz transformados em lenho. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, ed/Fundamar-UnB, página 60) HISTÓRIA I – “Nunca me preparei para a história. Agora, quando me mandam cuidar disso ou coisa parecida, nem essa terrível senhora, para mim, havia de ser em público a de encomenda. Como um dever, uma prebenda. É exaustivo como uma vã sessão de psicanálise sem sofá, um mergulho em pé, de olhos abertos, num rio gelado e claro de montanha: um passeio sob coação”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição Fundamar-Unb, 2001, página 32). HISTÓRIA II - "Na História, em que mergulhei, nunca me interessaram datas e batalhas. Toda batalha, no fundo, é igual, o que interessa saber é quem ganhou - e para quê. Todo general que vence é heróico, todo vencido que morre, também. Sobre quem é vencido e não morre é que variam as opiniões. São os grandes escritores que fazem as grandes batalhas, como a que Churchill descreve em Ondurman, na Minha Mocidade, por mim traduzido, o qual é como um quadro colorido e repleto de vida, ou, por outra, de mortes. Às vezes o vencedor da batalha é o próprio escritor. Então se chama Júlio César". ("Rosas e Pedras", página 97) HOMEM IMPORTANTE – “Entre as ilusões mais nocivas está a de que precisamos ser muito importantes – para sermos realmente alguém. Isto se desejamos ser alguém e não alguma coisa. Na verdade cada um de nós é importantíssimo. Pois não somos, cada um, nós mesmos? Não somos inimitáveis, insuscetíveis de sermos copiados? Não somos, cada qual, um indivíduo, quer dizer, um ser indivisível? Não constituímos, cada um, uma entidade integra, uma, completa em si mesma? Mas, por isto mesmo, não precisamos condicionar a nossa contribuição ao fato bastante precário de sermos aquilo a que geralmente se dá o nome de pessoa importante. Podemos ser ministro ou príncipe e não termos nenhuma importância nem para nós nem para nossa gente e nem para o nosso tempo. Podemos ter a mais humilde profissão e ser, em nosso pequeno circulo, um ser indispensável, porque amado”. (“Em vez ...”, Editora página 244). HOMEM, O - “Para quem como nós, considera o homem elemento fundamentai do processo de produção, é irrisório falar em “desenvolvimento” onde o homem não tenha tratamento adequado, a alimentação necessária, os instrumentos indispensáveis, principalmente a Escola e o Transporte”. ( Carlos Lacerda, Discurso em 1º de Agosto de 1960, nos Arquivo da Fundamar). HOMENS PUBLICOS BRASILEIROS - "Raras vezes tenho conseguido de homens públicos que pensem publicamente - e impessoalmente. Acabam escravos de suas simpatias ou idisioncrasia, de suas pretensões ou decepções. O certo ‚ que este (Carvalho Pinto) recusou-se a ajudar conter o Jânio - e eu fiquei sozinho nesse esforço. Por ter revelado os propósitos de Janio tornei-me alvo do ódio de homens como o General Golbery do Couto e Silva, janista impenitente, sincero adepto de neo-fascimos subdesenvolvido, diretor da espionagem e provocação interna no triênio Marechal Castelo Branco". (Rosas e Pedras do Meu Caminho, pagina 286). HONESTIDADE - "Vi virtuosos varões da República (*) pedirem-me a nomeação de retardados mentais, de picaretas para o Banco do Estado, por exemplo. Quando se chegará ao progresso de se preferir julgar a honestidade das pessoas por outros critérios que não exclusivamente, o de não ligar a dinheiro? Há pessoas que não roubam apenas por falta de imaginação, pois, no mais são de uma desonestidade austera, de um descaramento escrupuloso." (“Rosas e Pedras do meu Caminho”, co-edição 2001 da Fundamar-UnB, página 84). HUMANIDADE - "Talvez, antes mesmo que se apague a luz dos meus olhos o homem terá encontrado uma parte ao menos, da sombra que envolve o ser estranho, submerso em angústia e mistério, vago e contraditório, que é o seu PRóPRIO eu, é às vezes o seu OUTRO eu. O EU plural. E isto o coloca em face de si mesmo, talvez, não mais poderoso nem mais eficiente nem mais lorpa do que antes, porém, mais bem informado". (Carlos Lacerda, "O Cão Negro", edição 1971 da Nova Fronteira, página 53). HUMILDADE I – “A confiança em si mesmo, na capacidade de rever os erros cometidos de boa fé. O exercício de uma virtude da qual falam mais, exatamente, os que menos a possuem, razão pela qual mal consigo falar nela. Mas é preciso lembrá-la: a humildade.” (“O Brasil entre a Verdade e a Mentira”, editores Bloch, 1965, página 61). HUMILDADE II – “O mal foi separar a política da economia com o que mediocrizou a política e se desvairou a economia, deixando àquela o encargo de prosseguir na rotina das concessões se grandeza, e a esta, a tarefa de destruir, com os estragos da deflação, o que se havia obtido no meio das ruínas da inflação. Não nos preocupemos com o comportamento das galinhas em 1970, nem em saber quantas mandiocas iremos plantar nestes cinco anos. Lidemos com que existe, trabalhemos a matéria viva. Tenhamos a grandeza de parecer que somos medíocres. Tenhamos a vaidade de sermos humildes diante da realidade”. (“Brasil entre a Verdade e a Mentira”, edição de 1966 da Bloch Editora, páginas 63/63). IDEALISTA PRAGMÁTICO - "Eu me situo no quadro da política brasileira como, digamos, um idealista pragmático. Creio que a democracia não é compatível com a ideologia. Pode-se ter uma doutrina, deve-se ter um programa, mas é necessário guardar, diante dos problemas uma disponibilidade em relação às soluções, sejam elas socializantes ou liberais, de acordo com os dados do problema específico, de acordo com a conjuntura, e visando ao bem público e não segundo premissas ideológicas que nos prendam ou nos tolham o movimento". (Entrevista na Rádio Europa em 1964, transcrita da gravação e publicada em "Palavras e Ação", editora Distribuidora Record, 1966, página 140). IDÉIAS I – “Mas creio que nunca teria aprendido, apesar de todas as lições que a vida me deu, às vezes bem cruamente, se não tivesse povoado de imaginação os meus princípios, de sonhos, as minhas idéias. Por isto tenho medo dos que se intitulam realistas a ponto de não deixar lugar à imaginação. Pois, à força de serem realistas, acabam cínicos. E por se tomarem cínicos, destroem a força dos princípios que julgam defender. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, ed/Fundamar/UnB, 2001, página 93). IDÉIAS II - “Por mais que custe admiti-lo é necessário reconhecer que luta-se mais por idéias preconcebidas muitas das quais peremptas, caducas já destruídas pela evidência dos fatos do que por um conceito ético fundamental e permanente.” (Seleção da Manchete de 06.06.1977) IDÉIAS III - “Desejo que os moços não desesperem e possam se alegrar na luta, no esforço, na infinita gratuidade do trabalho, no fascinante jogo das idéias cruzadas”. (Revista Manchete n. 824, de 6 de junho de 1977). IDEIAS IV – “Tenho sim, uma doutrina. E um programa. Tenho idéias. Mas não ideologia. A diferença é que não sou escravo de nenhum sistema, não preciso optar segundo idéias preconcebidas e sim, na medida das necessidades, conforme os interesses reais do povo e as imposições do bem comum”. ( Revista Manchete n. 607 de 7 de dezembro de 1963, página 114). IDEOLOGIAS – “Decididamente a ideologia é uma impostura na democracia. É um flagelo vindo do mundo totalitário. A ideologia é responsável pela fome, pela guerra e pela tirania. Idéias, sim. Ideologia, não”. (Reportagem na Revista Manchete de 07.12.1963) IDIOMA - "Saber o nome de cada coisa, e não chamá-la de coisa, chamá-la exatamente pelo nome, eis o que é saber um idioma". ( Uma Rosa é, é uma rosa, é uma rosa , Editora IDOLO - "Há dias também um jornalista reproduzia o que disse ter sido a observação de um político anônimo, segundo o qual o Brasil está tão ruim que, por exemplo, "o Lacerda, que podia há algum tempo passado ter fundado uma religião, agora tem dificuldades para fundar um partido". De passagem devo notar que o Brasil tem sido vitima de frases, como a França, e está, como a França, com excesso de datas históricas. Quase nenhuma dessas datas será lembrada. Mas, as datas atravessam a História, as frase dificultam a compreensão e assim impedem o fluxo natural dos acontecimentos. Nessa frase, por exemplo, há dois erros formando um erro maior. Eu poderia ter fundado, não uma religião, mas uma seita política baseada num culto pessoal e intransferível. Ora, não sendo um sectário, não queria fundamar uma seita, uma estreita facção, meio fanática talvez, mas sobretudo esterilizante. E, não sendo um doutrinário, também não me interessa um partido que se distinga meramente pela boniteza de uma doutrina bacana e a isso me recusei. Não tenho dificuldades em formar um partido, senão aquelas da lei feita para impedir a sua formação (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 296). IGREJA CATÓLICA - "Entendo que há um esvaziamento da Igreja no que ela tem de insubstituível, quero dizer da Igreja Católica, exatamente à medida que ela substitui outros órgãos faltosos da sociedade temporal; enquanto crescem outras religiões, seitas e crenças diversas, precisamente à medida que matam a fome espiritual, a sede de Absoluto que leva o homem a pensar nesse assunto. Terei dito alguma tolice? Uma heresia, por acaso? É possível. Mas é o que sinto. Recebo com entusiasmo uma Igreja atuante no campo social e político. Mas vejo com apreensão a crescente ausência da Igreja Católica no campo em que nós, os leigos, não podemos substituí-la senão nos limites do laicato. Viver crestamento a vida social é importantíssimo. Mas, viver crestamento a vida pessoal, quem nos ajudará?". ("Rosas e Pedras”, página 184). IMIGRAÇÃO - “A explosão demográfica, isto é, o nascimento de grande número de crianças, num país que não pode contar com legiões de imigrantes, esses beneméritos que precisam ter, quando naturalizados, direitos iguais aos de seus filhos, é uma benção e não uma ameaça”. (Trecho do discurso na convenção da UDN para aceitar a frustrada candidatura à Presidência da República). IMPRENSA I – “Pois do jornalista não se exija que construa senão aquilo que lhe é próprio construir: uma opinião pública bem informada, atenta, vigilante, esclarecida". ( A Missão da Imprensa, página 134). INCOERÊNCIA - "Se mudam as soluções para levar à prática os princípios que defendo, adoto as novas soluções e não mudo os princípios. Seria incoerente mudar de princípios para servir a soluções diversas que se impõem a uma consciência verdadeiramente livre, aberta às retificações de tempo e de experiência. É isto, no meu entender, a coerência. O que às vezes se chama de coerência‚ apenas teimosia, amor próprio, mediocridade. Às vezes até simples covardia". (Carta a David Nasser publicada em "Palavras e Ação", editora Distribuidora Record, 1966, página 100) INCONDICIONALISMO – “Se alguma coisa me dá medo é o incondicionalismo. Medo é pouco. Devo dizer: pavor. Já o experimentei em todos os degraus da vida. É envolvente, vertiginoso, abissal. Comporta toda sorte de desenvolvimento. No plano pessoal, chamou-se no Brasil, “chaleirismo”. Dizia-se, pegar na chaleira o fenômeno pelo qual uma pessoa se prostra diante de outra e a adula, a incensa, a corrompe pela lisonja. ( Haverá nada mais corruptor do que a lisonja?) Hoje o fenômeno tem a denominação local de “puxada”. Chama-se “puxa” ao gajo que destrói a resistência moral do seu superior, ou do seu igual, pela erosiva ação do adjetivo laudatório, dos substantivo que afaga a vaidade, lambe o ego e transforma em narciso qualquer criatura enfraquecida pelo incessante desmerecimento da modéstia”. (“Em Vez...”, 2a edição da Nova Fronteira, em 1975, página 15). ÍNDIOS - “Alguns como Euclides,(*) chegaram a considerar a catequese um eufemismo a encobrir a verdadeira face da questão, que era o monopólio do trabalho do índio, pleiteado em luta acesa e prolongada, pelo jesuítas e pelos colonos (...) A luta entre os jesuítas e colonos está impresso. Eis o que explica como o jesuíta procurou incutir nos contemporâneos a idéia de que o índio não servia para o trabalho, ao mesmo tempo em que nas “reduções”, nos aldeamentos, o índio sob a sua direção executava todos os trabalhos pelos quais clamavam os colonos”. (“Do Escambo à Escravidão”, Alexandre Marchand, tradução e prefácio de Carlos Lacerda, volume 225 da Brasiliana, 1980, páginas XI a XIV). INFLAÇÃO – “A luta contra a inflação e a necessidade de sacrifícios para vencê-la são pontos sobre os quais todos estão de acordo. Não é, pois, aludindo a esses pontos que se consegue demonstrar o acerto da política econômica adotada. Pois esta provoca uma crise social para a qual a Nação não está preparada e, portanto, com resultados opostos ao visado pelo combate à inflação. Por outras palavras, diminuir a produção é provocar mais e não menos a emissão de papel moeda. Provocar o desemprego e a ansiedade, não é criar condições para a produção e sim para o ódio do povo contra ela e a conseqüência da reabilitação daqueles que ela derrubou”. (“Brasil entre a Verdade e a Mentira”, página 79). INGRATIDÃO – “Declaro a ingratidão o mais constante, o mais freqüente, o mais certo prêmio da dedicação. E a traição o único titulo de glória a que se pode almejar quando se é vítima, ou de que se pode vangloriar quem a pratica; pois nesta caso paga o prêmio”. (“O Cão Negro”, Nova Fronteira, página 14). INIMIGOS POLÍTICOS - "O que me cabe aqui, em baixo, faço. Não sou juiz, sou parte ou testemunha. Meu juiz sabe de tudo, vê tudo, é instância superior. Há quem não aprove esse modo de proceder. Eu aprovo. Por um motivo simples: se a razão que me leva a fazer inimigos é o interesse público e nada mais, quando ao interesse público convém que me entenda, me entendo - pela mesma razão. Do contrário, se os inimigos que fazemos não são por interesse público, e sim por vaidade, ódio ou outro sentimento particular. é o que o atual governador da Paraíba, João Agripino, certa vez chamou do meu "excesso de lógica". Ele não deixa de ter razão. Mas, nos Evangelhos, dá-se a isto nome mais bonito, ao qual não tenho direito". ("Rosas e Pedras", página 78). INJUSTIÇA – “A injustiça fere mais do que a incompreensão. Pois na própria injustiça há um elemento de amor enquanto na incompreensão há displicência, simples modalidade da indiferença.” (“Crítica e Autocrítica”, edição Nova Fronteira, sem data, página 32). INTELIGÊNCIA – “e a inteligência, não a corrupção, é um crime para o qual não existe anistia. O ódio é contra a inteligência, que não é virtude nenhuma, mas não chega ser um vício. Não ser inteligente não é vergonha, mas não é motivo para se gabar – como disse o outro da pobreza. Em todo caso na maior parte dos casos a falta de inteligência é incurável. Há casos de burrice progressiva e intencional. Mas, raros, sempre acabam se traindo; e têm recaídas fatais. Em todo caso o mundo dificilmente perdoa quem não só lhe revela qualquer coisa – no caso a harmonia, o som – e ainda por cima a impõe; e não o deixa apodrecer em paz, com as suas submissões, suas ambições mesquinhas, suas espertezas miúdas, sua canalhice a varejo”. (Entrevista com Tom Jobim, transcrita “Em vez”, editora Nova Fronteira, 2a edição 1976, página 147). INTERNATOS - "Na primeira noite no internato, ah! Pais e responsáveis, naquele imenso dormitório, frio, iluminado, como a afirmar desde logo a indignidade da natureza humana, um menino que mal ou bem vivera quase só, de repente era atirado num mundo de roncos, resmungos, uns que rezavam, uns que se levantavam para ir lá dentro, outros que conversavam em segredo, pois era falta grave não ter sono e conversar, tudo era nada, perto da noite lá de fora, em que havia uma lua batendo nos telhados da Rua Esteves Júnior, em São Cristóvão. Olhava para fora, pensava voar dali, realmente voar, isto é, sair pela varanda, suspenso no ar, sem outras asas que não as da vontade de sumir, dormir na minha cama, acender a minha lâmpada, ouvir a voz da minha gente". (“Rosas e Pedras do Meus Caminho”, página 124). INTUIÇÃO I – “Não, decididamente, quem tem razão é quem decide primeiro, quase por intuição. Para mim a intuição é apenas um raciocínio aceleradíssimo que se conclui antes que se possa acompanhá-lo e acerta antes que a crítica demonstre por A mais B que está errado. Sou um intuitivo porque acredito que dentro do homem algo pensa por ele”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, página 33). INTUIÇÃO II - "Leopold Senddar Senghor, o poeta-presidente do Senegal, numa conferência em Beirute, em 1966, salientou que a cultura negra é instintivamente uma síntese do que representam, no mundo branco ocidental e cristão, a inteligência lógica, que o grego Aristóteles montou, a intuição, cujo papel o francês Bérgson pôs em relevo, e o subconsciente, que o austríaco Sigmund Freud investiu. A lógica sem intuição não é grande coisa e não leva até a esquina quanto mais descobrir a América. A intuição e o papel que desempenha na sua gestação o gigantesco computador eletrônico, que chamamos de cérebro, bem como o estado de graça e outros fenômenos em que o sobrenatural se entrelaça com o preternatural e o que, por mera simplificação, chamamos o natural, só agora começam a furar a crosta de resistência que a ciência oficial lhe criou, no século XIX”. ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", páginas 188/189). INVEJA I - "O terceiro fator, David, é o de uma certa - como dizer sem lhe parecer vaidoso? - certa frustração de alguns diante do que julgam um êxito na vida que eles me atribuem e do qual como que se ressentem. Aqui esta resposta talvez um tom difícil de confissão. Mas, a sua sinceridade me obriga a retribuí-la. Dentro de mim não me envaideço de êxito algum, não me sinto capaz de suscitar inveja. Mas nem todos pensam assim; de vez em quando sinto adejar em torno de mim as asas escuras do que me consideram, não sei bem porque, invejável." (Carta a David Nasser, publicada em "Palavras e Ação", Editora Distribuidora Record, 1966, página 98). INVEJA II – “A inveja, aliás, raramente é sinal de superioridade do invejado, e sim inferioridade do invejoso. Mas isto não impede de discernir, às vezes antes que a sintam, assim claramente, as suas próprias vítimas, ou seja, os invejosos. No Brasil têm-se manifestado de longa data ultimamente em caráter epidêmico, três males na ordem moral, todos os três aparentados e cada qual pior: vaidade, bajulação e inveja”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição Fundamar-UnB, 2001, página 82). INVEJA NACIONAL - "Não me despeço do tema sem notar que a inveja se deve, em parte, a essa frustração nacional que só será explicada quando a psicologia for uma ciência social. No Brasil, por falta de bem do povo e felicidade geral da nação, difunde-se uma espécie de inveja que se torna pessoal, mas é, antes de tudo, um fenômeno social inquietante, na base de uma série de fenômeno social inquietante, na base de uma série de fenômenos frustração, como a falsa revolta - revolucionários que são apenas revoltados, como a moça que "declara guerra a uma sociedade que não a convida para dançar"; e uma austeridade superficial, que só existe até o dia que o austero adquire a possibilidade de fazer, para si, o que condenava quando outros faziam para todos". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, páginas 82-83). JÂNIO QUADROS I - "Conheci-o quando se elegeu prefeito. Fui visitá-lo. Dava a sensação de algo novo, de um homem que tinha uma chispa e grandeza dentro de si, embora fosse inquietante a sua visível insegurança, disfarçada num modo categórico, excessivamente categórico, de falar. Parecia pensar muito antes de cada palavra ou silaba. Pensaria mesmo, ou era sestro, um truque de apresentação, para impressionar? Não era um homem qualquer. Seu começo na Prefeitura demonstrava que vinha disposto a atuar com energia, servindo ao povo sem condescendência nem bom mocismo." (“Rosas e Pedras do Meu Caminho", páginas 271/172). JÂNIO QUADROS II - "Essas e outras me levaram a escrever, sobre Jânio Quadro, algumas das palavras mais duras da língua portuguesa. Como sempre me tem acontecido, isto me é debitado como contradição e poucos se dão ao trabalho de ver se não é contradição dos outros. Dão-se alguns ao trabalho de transcrever trechos de algum dos milhares de artigos que escrevi, contendo criticas a personalidades que, noutras oportunidades, elogiei e recomendei”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, páginas 272/273). JÂNIO QUADROS III - “Esse pessoal de São Paulo tem uma responsabilidade enorme nessa história do Jânio Quadros. Não sei como até hoje eles não têm vergonha, não têm vergonha não no sentido de sem vergonha, não têm o pudor de terem contribuído para que nós todos mentíssemos ao país da maneira que mentimos. Eles nos descreviam um Jânio Quadros completamente diferente do Jânio verdadeiro. Particularmente. contavam intimidades e até caso da vida pública mesmo, negócios, sujeito que ganhou dinheiro de fulano, comendas , empreitadas e não sei mais o quê”. (“Depoimento”, página 203) JÃNIO QUADROS 1960 - "O ambiente em torno de Jânio era de um romance policial cheio de truques, surpresas e suspense. Era mais pitoresco do que sinistro. Mas era, sobretudo, cansativo. O episódio da renúncia à candidatura presidencial, por si só, encheria um capítulo. Na casa de Oscar Pedroso Horta, em São Paulo, juntamente com Napoleão Alencastro Guimarães, que desinteressadamente se ofereceu para me acompanhar, na tentativa de dissuadir Jânio, farto da comédia que estava sendo representada, apertei Quintanilha Ribeiro, um dos raros amigos de Jânio que eu gostaria de ter como amigo. Jânio de escondeu e toda gente o procurava em vão. (...) Sei onde está, mas prometi não dizer". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho, páginas 277/278). JESUITAS – "Há um livro de Moises Velhinho em que ele reivindica o papel do Rio Grande do Sul como uma força eminentemente brasileira e repele toda uma teoria da história do Brasil em relação ao seu Estado, que foi muito baseada no fato de que as primeiras histórias do Rio Grande do Sul, uma grande prevenção, porque os gaúchos representavam uma reação contra a tentativa jesuítica da República Missionária do Paraguai, aquelas utopias jesuíticas de organizar os índios em uma espécie de casal primitivo. Moises Velhinho nesse livro polêmico, mas maravilhosamente bem escrito sustenta que o Rio Grande do Sul foi o único Estado do Brasil, a única região do Brasil que foi brasileira por querer. Foi brasileira porque deliberou ser brasileira”. ("Depoimento", editora Nova Fronteira, 1977, página 111) JORNALISTA – “Quando se requer do jornalista que seja construtor está-se a ordenar que ele veja, que mostre, que não silencie, que ouça e que ouça e prove o que ouviu, e não se deixe peitar nem domesticar, nem por dinheiro nem por temor, nem pela fonte maior e toda corrupção, que é a incapacidade de crer”. (“A Missão da Imprensa”, 1950, página 13). JULGAMENTOS – “Noto ao longo da vida que muitos me consideram o que não sou, e por isto me detestam, enquanto outros julgam o que não sou, e por isto me estimam muito mais do que mereço. Há sempre em mim uma ponta de hesitação, exatamente pela consciência de minhas limitações. Assumo atitudes depressa, mas não tão depressa responsabilidade das quais, depois, não gosto de me esquivar – e até porque o desafio me fascina, pratico-o como um toureiro. (xxxxx JÚLIO MESQUITA FILHO - "Por uma reminiscência portuguesa, ele tem o costume de chamar as pessoas pelo nome inteiro e a mim, não há jeito de me tirar o doutor, que sinto como um apelido. A certa altura da conversa, quando insistia em que devíamos a todo custo chegar às eleições presidenciais, ele ficou muito sério - ao contrário de tantas aparências, ele tem muito senso de humor, mas desta vez era a sério mesmo. Seu rosto de homem sofrido, talhado como o de um varão português antigo, no qual a idade não destrói um certo olhar de moço, como se a adolescência ainda lhe pairasse nuns cantos da alma cultivada como defesa contra as decepções e as experiências". ("Rosas e Pedras”, página 179). JUSCELINO KUBTSCHECK I –“A dificuldade maior de se opor a Juscelino Kubstcheck de Oliveira foi a de esquecer – por dever público e fidelidade a princípios – da envolvente simpatia e capacidade de compreensão de sua extraordinária personalidade. A primeira vez que nos encontramos ele era prefeito e eu conspirava. Quando nos vimos a última vez , éramos amigos e descobrimos que a nossa amizade latente sobrevivera a todas as lutas. Depois de muitas, o que restou foi a recíproca intenção de servir ao País pelo qual nos desentendemos, pelo que afinal nos entendemos”. (Seleção da Manchete de 06.06.1977). JUSCELINO KUBTSCHECK II – “Nestas alturas, infelizmente para o País, surgiu uma figura extraordinariamente simpática, extraordinariamente insinuante, com uma presença prestigiosa, assim quase irresistível de simpatia humana. Um homem sorridente, um homem afável, um homem que se dava bem com todo mundo, um chamado Juscelino Kubstcheck de Oliveira que acabara de realizar um governo, que não foi um mau governo em Minas Gerais; que realizou tudo aquilo que o governo Milton Campos tinha planejado”. (“Depoimento”, página 151). LACERDA I - "Gosto de saber o essencial de tudo. Os pormenores deixo aos outros". (Manchete de 18.07.77 p. 54). LACERDA II - “As pessoas não conseguem ser neutras nem objetivas com referência a mim”. (Seleção da Manchete de 06.06.1977). LACERDA III – “Como o operário sueco, minha ambição é ser completamente uma pessoa. Contraditória. Numerosa. Curiosa. Completa e variada, abrangente e insaciável pessoa. Sedento de humanidade e paixão. Quero conhecer o Céu, o Inferno e o Purgatório e todos os mundos possíveis. Com o bilhete de volta, se possível. Eu quero tudo, em termos. (“Crítica e Autocrítica”, página 15). LACERDISMO – “o fenômeno lacerdismo... Foi muito bom tocar nesse assunto porque há um aspecto que me deixa perplexo e do qual não gosto nada, embora seja realista bastante para saber que existe em toda a parte do mundo, inclusive no Brasil. É o fato de que toda liderança – a democrática inclusive – não prescinde de certo carisma. Vamos exemplificar: o Kennedy que até hoje tentam destruir nos Estados Unidos – que não teve chance de fazer nos Estados Unidos a milionésima parte do que tive no Estado da Guanabara guardando as proporções evidentemente; o Kennedy, coitado, que não pôde nem dizer ao que veio, pois a única “realização” foi a invasão da Baía dos Porcos; no entanto, levantou o ânimo povo americano e criou no mundo inteiro uma onda de esperança e confiança.” (“Depoimento”, página 223). LAZER - "Hoje, nas nações tecnicamente desenvolvidas, cuida-se muito mais da aplicação das horas de lazer dos trabalhadores do que até das suas próprias horas de trabalho". ("Palavras e Ação", Editora Distribuidora Record, 1966, página 92). LEIS – “Ninguém pode convencionar contra os princípios gerais do direito nem contratar entre si, por qualquer forma de convenção, a supressão de direitos inalienáveis. A lei? Mas a lei tem que ter origem legítima para ser legal. A lei de uma ditadura nunca é lei enquanto for filha disto. Invocar uma lei ditatorial para exigir uma obediência pode ser uma redundância, nunca será um princípio moralmente defensável. O fato de capitular o arbítrio em artigos e parágrafos não torna o arbítrio menos e sim mais arbitrários ainda”. (“Em vez”, editora Nova Fronteira 1976, 2a edição, página 91). LEITURA – “E até hoje creio que se aprende mais a falar lendo o Eça, grande desemburrador, e o Machado de Assis, cujas hesitações nos desabituam das redundâncias, de ambos os quais convém de vez em quando fazer uma estação de leitura - como se fossemos a uma Araxá mental. (“Uma Rosa é uma Rosa é Uma Rosa”, 2a ed/Record/1966, página 133/134). LIBERDADE I – “A liberdade comporta uma certa margem de erro, de experiência, de tentativa e de malogro. A liberdade exige a humildade constante para revisão das posições, o impessionalismo no serviço público, a disposição de ser intransigente quanto aos princípios e tolerante com as pessoas, desde que a tolerância não se confunda com a complacência”. (“Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, 1966, página 190 e na revista Manchete n. 607, de 7 de dezembro de 1963, página 117). LIBERDADE II – “Do mundo totalitário, isto é, o mundo para a qual a liberdade é um bem supérfluo e como tal adiável, não se tem notícia da irrupção de crise nem de medo. Natural. Porque esse mundo vive crise sob o medo desde que se constituiu fechado, com medo de correntes de ar de pensamento, e reduzido, a sua alegada ânsia de justiça social, a uma espécie de mediocridade e desconforto distribuídos igualmente para todos". ("Em Vez...", editora Nova Fronteira, 2a edição 1976, página 170). LIBERDADE III – “ter liberdade é ter responsabilidade, e isto é que realmente só se aprende na Escola. Por isto é que é inútil falar em democracia, num país que ainda não tenha escolas suficientes para formar democratas. Houve um grande homem das Américas, um grande argentino, que se chamava Faustino Sarmiento, que disse uma vez: “Se um povo é soberano, é preciso educar o soberano”. (“O Poder das Idéias”, editora Record 1962, página 181). LIBERDADE IV – “Nós usamos a liberdade com excesso, chegamos mesmo a abusar dela para certificarmos de que não a perdemos, como quem dá alfinetada no próprio corpo para saber se ainda está vivo. A liberdade tem sido aqui(*) um intervalo. Às vezes longo, mas não duradouro. Não é uma garantia estável que desfrute em paz. Por isto a luta da liberdade aqui é algo aflitivo e terrivelmente urgente, pelo qual se tem de arriscar, permanentemente, tudo”. (“O Poder das Idéias”, editora Record, 1962, página 211/212). LIBERDADE V – “Liberdade não é um bem que se adquire ou que se aluga e que portanto se pode alienar ou dispensar. É um atributo do homem, uma qualidade inseparável de sua natureza. Sem ela, a criatura não é mais humana, é uma besta como outra qualquer e até mais que outras que não trocam por nenhuma ração balanceada. E não podendo livrar-se do freio, manifestam pelo coice o seu inconformismo.”. (“Em vez ...,” 2ª edição Nova Fronteira, 1975, página 92). LIBERDADE VI – “Já que não podemos viver quanto queremos nem morrer de morte natural ou de vida livre como queremos, tratemos de empregar a nossas vidas empregando-as a serviço da liberdade. De outro modo para que servirão? Por mim estou disposto a ir com funcionários e clientes para um banheiro (isto é um assalto) como um triste carneiro ou uma pobre testemunha, se não for capaz de participar do esforço para reconquista do bem perdido, do que nos foi roubado, o único bem que me interessa”. (“Em vez ...”, página 203). LIBERDADE VII - "A História do Brasil que se aprende nas escolas é em geral morta, material mais para taxidermistas-empalhador do que para professor. Uma vez escrevi um livro que saiu com o nome de Olympio Guilherme que fez uma parte do prefácio e encomendou o livro intitulado “A Luta pela Liberdade nas Américas”. Esse livro editado pela José Olympio, em 1945, visava mostrar que a luta pela liberdade nos países deste continente não foi uma vã palavra e valia a pena lutar por ela, na guerra contra o nazi-facismo. Menos um livro de História do que de circunstâncias, há ali conceitos que, hoje, reveria mesmo porque não eram da minha inteira responsabilidade. (...) Era o tempo da Segunda Guerra Mundial. Pregava uma a realização de uma frente nacional democrática em que cada um dos países do continente. E afirmava: "Só se defende o que se possui, só são bons defensores os que se vinculam apaixonadamente aos bens que defendem. Ninguém luta pelo que desconhece". ("Rosas e Pedras”, páginas 117/118). LIBERDADE VIII – “Não se pode ao mesmo tempo ter a crença em Deus e suprimir a liberdade. Pois, sem liberdade, Deus não existe. Toda ditadura caminha inexoravelmente ao mais esterilizante materialismo, e é por isto que toda ditadura precisa inventar um sucedâneo para a fé, no culto do Chefe, ou da Nação, ou do Patriotismo, o mais vulgar, o mais tolo, o mais tacanho, o mais estúpido – esse que faz da pátria um ídolo que exige vítimas ou vítima que exige ídolos”. (“Em vez...”, edição Nova Fronteira, de 1975, página 92). LIDER - "Alguém "tira farinha" com um verdadeiro líder democrático? Alguém bate na barriga dele? Não se deve confundir o popular com o populista. Nem o democrático com o demagogo. O que não tenho e se tenho luto para extirpar do meu ser político, é algum traço de vocação para demagogo. Na medida em que o consiga, chegarei a ser, se até lá não acabar antes da hora, um verdadeiro líder democrático. Isto é, um líder e não um chefe. Mas, um líder que, por ser líder, não se vulgariza, não se abastarda, não degrada a sua liderança". (Carta a David Nasser publicada em "Palavras e Ação", editora Distribuidora Record, 1966, página 100). LÍDERES - "A quantidade de dirigentes e líderes que espontaneamente o povo chegava a formar dava, no passado, para o gasto. Tínhamos um pintor em cada geração. Um engenheiro ou dois. Um músico, um de cada coisa como na Arca de Noé - um ou um casal. Hoje o país precisa de dezenas, de centenas, de milhares de líderes, de expoentes, de intérpretes, de especialistas, e, sobretudo, de homens capazes de realizar a grande e urgente síntese do pensamento e ação." (“Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, 1966, página 183 e em "Idéias sim, ideologia não" ( Manchete n. 607, de 7 de dezembro de 1963, página 115). LIVRE CONCORRÊNCIA - "Quanto ao mais, tratam os Estados Unidos de manter o princípio da liberdade de comércio, o que seria ótimo se não fosse, principalmente, liberdade de comércio para - os Estados Unidos. Em suma, para evitar discriminação penosa, a maior potência da terra([3]1) está hoje desprovida de um partido político verdadeiramente democrático, cuja existência é tão importante para os norte-americanos quanto para nós ou para os italianos, no próprio interesse da paz mundial, pela aceitação e promoção de modificações profundas na estrutura das relações sociais". ("Como foi Perdida a Paz", editora IPÊ - Instituto Progresso Editorial S/A., 1947, página 112). LIVRO – “A tomada de poder pelas Forças Armadas (em Portugal) era inevitável..... Mas é sobretudo bom saber que o principal papel em todo esse processo foi desempenhado por um livro”. (Entrevista à revista “Veja” de 8 de Maio de 1974)([4]). LIVROS – “Continuo a ter pelos livros um respeito reverencial. Não jogo fora os que leio e gosto que me devolvam os que eu empresto. Tenho um prazer quase sensual em pegar um livro bem impresso. E me desespero com os que são mal feitos ou com erros de revisão”. (Seleção da Manchete de 06.06.1977). LÓGICA DIALÉTICA - "Dai a importância que atribuo cada vez mais é ao escândalo de sermos governados e orientados, no mundo pos-aristotélico, pos-bergonsoniando, pós freudiano, apenas por uma dessas linhas, a do pensamento lógico formal. A lógica dialética, que permitiu a Marx e Engel incursões na filosofia e até na psicologia social, ciência ainda sem dentes, serviu ao menos para mostrar que a natureza dá saltos, que o pensamento se faz com mergulhos nas sensações e na memória guardada nas células. Mas para que servem duas terças partes do cérebro perguntam os sensacionais autores do Despertar dos Mágicos, Louis Pauwells e Jacques Bergier. Só se conhecem até agora as funções de uma terça parte do cérebro humano. E o resto, feito da mesma matéria, para que serve? Para nada ou apenas ainda não sabemos? É mais científico dizer que ainda não sabemos". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 189). MAGDALENA TAGLIAFERRO – “Ela gosta de tudo, ela quer tudo. Daqui a pouco iremos para uma churrascaria, onde ate 4 horas da manhã vai falar com uns olhos de malícia e ouvir com um certo espanto sempre alerta, às espera da réplica para triplicar, feito duelo. Francesa é uma terrível companheira porque obriga o interlocutor a ser inteligente em sessão permanente; não é repousante, é exigente, ainda mais de frases do que de atos; com francesa, sem boa conversa, não há amor que dure. Mas Madalena não é por educação francesa, é assim de nascença, porque é irreprimível, insopitável. Sua alegria é debulhar frases como sons de piano ou vocalizações joviais”. (“Em vez ...”, editora Nova Fronteira, 1976, 2a edição, páginas 121/122). MANIQUEISMO I – “Existe na filosofia moral um triste pecado que se chama maniqueísmo, o qual consiste em dividir as coisas em absolutamente certo e absolutamente errado, como se uma pessoa ocupasse de repente o lugar de Deus e fosse capaz, mais do que ele, saber com quem está a razão. Este é o pecado dos fariseus, triste pecado de que se tornam responsáveis as Forças Armadas do Brasil ao se transformarem na guarda silenciosa do farisaísmo”. (“Carta a um Amigo Fardado”, editora Nova Fronteira, 1967, página 54). MANIQUEISMO II – “O certo, ou antes, o que parece certo (nunca é tarde para aprender fazer ressalvas), é que a atitude a que me refiro, um certo maniqueísmo mal grado meu, levou-se a servir de instrumento para terceiros, matreiros, sobretudo reacionários, que viam em mim a coisa mais parecida com esquerda que a direita poderia ter a seu lado. Creio que todos, nesse ponto, se enganaram. Inclusive a esquerda que passou a considerar-me um inimigo preferencial a destruir, principalmente pelo que tinha de parecido com os seus métodos e táticas”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, 1966, página 26). MANIQUEISTA – “Corro o risco, em que não raro tenho caído, de uma espécie de maniqueísmo, separar absolutamente entre o Bem e o Mal, o Certo e o Errado, o Belo e o Horrível, tudo nitidamente diferenciado, jamais confundido ou matizado, como se a doutrina do persa Mani, contra a qual se rebelou Santo Agostinho (autor de uma autocrítica exemplar, “As Confissões”) e com a qual se conformam os falsos cristãos. Mas se começássemos a tudo compreender, começaríamos a perdoar, como nos lembrou Dostowesky. Seria melhor assim? Talvez. Mas duraria pouco. Por isto, há que se aceitar critérios de separação entre o Bem e o Mal, o Certo e o Errado, o Belo e o Horrível, provisórios, mutáveis, precários para que tudo isto não se confunda de modo tornar a vida num emaranhado, numa confusão ininteligível”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, 1966, página 26). “MAQUIÁVEL I - “Há 400 anos, mais ou menos, MAQUIÁVEL é vítima de um mal entendido. Estadista sem Estado, patriota sem pátria, ele viu a realidade e a descreveu. Confundiram sua descrição com a sua intenção”. (“O Cão Negro”, livro de crônicas) , 2a edição da Editora Nova Fronteira, 1971, página 59). MAQUIAVEL II - "Toda gente cita, muitos ouviram falar, alguns até leram, de Maquiavel, - “O Príncipe”. O pequeno trabalho sobre a arte de conquistar e usar o Poder fez a "fama e a infâmia de Maquiavel. Para escrevê-la, servindo a um impulso do momento, em face do problema criado pela luta entre os Médici e o Papado, vale dizer, entre Florença e Roma, interrompeu por algum tempo o que Sforza chama "a obra prima de sua vida, os “Discursos sobre os Dez Primeiros Livros de Tito Lívio”, no qual aproveita a história como adequada mestra da síntese que pretendia obter pela superação de dois erros que opunham, o anacronismo dos domínios feudais e o centralismo tirânico do governo temporal do Papa". ( "O Cão Negro", 2a edição da Nova Fronteira, 1971, páginas 62/63). MAQUIAVEL e O POVO - "O Príncipe foi chamado, pelo próprio autor, de um "opúsculo". Apropriaram-se dele todos os oportunistas do mundo. No entanto, no capítulo 9 de “O Príncipe”, está escrito: a afeição do povo é o único recurso que, na adversidade, um príncipe pode encontrar. E no capítulo 20 Maquiavel reitera: “Não há melhor fortaleza do que a afeição do povo”. E ainda, mais um exemplo: “Os ministros serão bons ou maus conforme o príncipe seja inteligente ou limitado”. Em termos modernos diria: “Não há equipe onde não há líder. E nada substitui afinal a participação do povo". ("O Cão Negro", editora Nova Fronteira, segunda edição 1971, páginas 63/64). MAQUIAVEL III - "Eis o que não perdoam em Maquiavel: a superioridade de julgamento, a independência de espírito, a constante revisão que se propunha, a implacável lucidez a que foi, por assim dizer, condenado." ("O Cão Negro", 2a ed/Nova Fronteira, página 61). MAQUIAVEL IV - "Eis outro exemplo da lucidez de Maquiavel: Chamamos aristocratas todos os que vivem ociosos das rendas dos seus enormes feudos, sem ter de trabalhar. Esses senhores trazem desordem a toda república e províncias. Os piores são os que ainda têm castelos e súditos que os obedeçam. ... "aquela classe de gente é adversa a toda e qualquer espécie de civilização" ("O Cão Negro", 2a ed/Nova Fronteira, 1971, página 62). MAQUIAVEL IX - "Realmente, se Maquiavel pudesse ter sido o Príncipe, provavelmente por tudo que disse de seu - não do que viu, mas do que sentiu e pensou - não seria maquiavélico, seria unificador da Itália, o primeiro estadista moderno". ("O Cão Negro", editora Nova Fronteira, 2a edição de 1971, página 68). MAQUIAVEL V - “O Príncipe, na projeção da época, foi uma encarnação da vontade soberana do povo, da luta popular pela unidade que, só ela, assegura a soberania contra o domínio feudal dos grupos poderosos”. (“O Cão Negro”, 2a. edição Nova Fronteira, 1971, página 64). MAQUIAVEL VI - "No livro "Diálogo nos Infernos entre Maquiavel e Montesquieu", este encarna o angelismo político, se não convencido, acaba pelo menos silenciado pela citação que faz do próprio Maquiavel: "Os costumes do Príncipe contribuem tanto para liberdade quanto as leis. Ele pode, como também elas, fazer dos homens, bestas, e das bestas, homens. Se o Príncipe ama as almas livres, terá súditos; se ama as almas baixas, terá escravos". ("O Cão Negro", 2a ed. Nova Fronteira, 1971, página 67). MAQUIAVEL VII - “Os Ministros serão bons ou maus conforme o príncipe seja inteligente ou limitado”. Em termos modernos, diria não há equipe onde não há líder. E nada substitui, a participação do povo”. (“O Cão Negro”, 2a. edição Nova Fronteira, 1971, página 64). MAQUIAVEL VIII - "Ele reclama a nação para alcançar, através da nacionalidade, o convívio universal. No seu tempo, malogrou. Mas tudo que depois se fez levou a marca do seu gênio, chamado gênio o que propriamente o distingue da inteligência: enquanto esta explica, o gênio antecipa; enquanto esta sublinha o que está escrito, o outro escreve, nos espaços brancos da História, os seus sonhos, aos quais o futuro dá razão às criações de sua fantasia, antecipação do que afinal todos aceitam, sem que às vezes se lembrem do sacrifício que custou, aos precursores, o anúncio e a preparação da nova realidade". ("O Cão Negro", editora Nova Fronteira, ano de 1971, página 63). MÁRIO DE ANDRADE - "Nessa altura Mario de Andrade me foi ao mesmo tempo extremamente útil e creio, por incrível que pareça, também eu a esse homem múltiplo, que sem nunca ter ido a um museu fora do Brasil, adivinhou a crítica de arte, foi musicólogo, poeta, romancista, erudito improvisador, farrista e metódico, perpetuamente interessado na companhia dos que começavam e tomando-os a serio, quer para animá-los, quer para brigar com eles. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 204). MARX - “Aprendi com Marx e não esqueci a lição: é preciso parar de explicar o mundo e procurar transformá-lo. O que se faz necessário é um ativismo animado por idéias claras, dessas que não tem medo de confundir bom senso com mediocridade. Pode-se ser tremendamente medíocre com ares de sociólogo, como se pode ser genial com conceitos muito simples como os de Benjamin Franklin que disse: sem trabalho não há liberdade que dure e nem progresso verdadeiro. O suor é que poupa sangue e lágrimas, é o que penso a respeito do desenvolvimento, da esquerda e da direita e todos esses slogans e rótulos. Pensar é uma forma de trabalhar. E o trabalho é o pensamento cristalizado”. (“Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, 1966, página 180 e na Revista Manchete n. 607 de 7 de dezembro de 1963, página 114).(*) MARXISMO - "Na verdade, há muito tempo estava ficando farto do marxismo, de suas concepções primárias, de sua pobreza ideológica, de seu caráter meramente polêmico. O que me fascinara no marxismo era precisamente o que a partir de certa altura da vida me deu náuseas. O seu primarismo, as suas explicações sumárias, dogmáticas, mas vazias, atraentes, mas que não resistem à análise séria das suas conclusões de ordem política. É impressionante como Karl Marx - e um pouco menos Frederico Engel, espírito mais ágil e mais despreocupado com a miséria negra da vida de Marx - viu o horror das injustiças e sofrimentos da Revolução Industrial na primeira metade do século XIX, mas não percebeu que estava a uma passo de transformações técnicas que iam alterar completamente o esquema político que ele armou. A partir das nebulosas concepções filosóficas de Hegel, que é o avô filósofo do comunismo e do nazismo, netos da mesma família espiritual, Marx fez uma crítica, em muitos pontos válida e admiravelmente precisa e feroz, dos erros de seu tempo. Mas considerou esse tempo parado, imutável, instransformável, senão pela violência e pelas formas simplistas que propôs em 1848 no Manifesto Comunista". ("Rosas e Pedras", página 164). MATEMÁTICA - "Em matéria de aprender, tive desde cedo idéias caprichosas. Aritmética, por exemplo. Não sei, até hoje, extrair uma raiz quadrada e a cúbica então, é uma ficção científica. Mais de pressa me interesso logo pela Astronomia, sobre a qual comprei uns livros elementares e uma luneta alemã para ver a Lua. Mas a luneta é pouco. Pretendo visitá-la pessoalmente, quando ela começar a receber representantes de paises em desenvolvimento. Trato com distante cerimônia as frações." ("Rosas e Pedras”, página 95). MATÉRIA DO DIA – “Cada assunto de que me ocupo, em cada momento, completamente me absorve, como se fosse o mais importante. Será ainda um reflexo narcisista, quem sabe, uma superestimação do meu pequeno papel. O que toda maneira me parece exato é que só assim se pode fazer alguma coisa de útil. Não acredito no diletantismo, senão como um jogo de salão, para reavaliar o ativo do que sabemos e prosseguir a sério, e não a brincar. Sim, há uma paixão lúdica (brincalhona, para os íntimos) nessa negação do amadorismo. Viver é assunto para profissionais, não para amadores”. (“Crítica e Autocrítica”, Editora Nova Fronteira, 1966, página 25). MEDIOCRIDADE I – “O pecado da inteligência não tem perdão onde a mediocridade tem o poder de decisão”. (“Paixão e Crime – O Processo do dr. Jacoud”, edição Nova Fronteira, 1965, página----- ) MEDIOCRIDADE II - "Entoam-se loas à mediocridade. Há uma conformidade com a falta de imaginação, com a falta de grandeza, ainda menos do que a perplexidade, pois esta pelo menos traduz assombro com alguma coisa. Não, ninguém, se assombra com absolutamente nada. Há uma disponibilidade na qual vicejam apenas ambições pessoais, todo mundo quer ser presidente, governador, senador, deputado, ninguém se prepara adequadamente para nada disso, todo mundo se comporta em ralação às tarefas mais difíceis como se dissesse: estou do lado dos que mandam, portanto tenho condições para mandar". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, paginas 293/294). MEMÓRIAS I - "Essa preocupação com o presente que o Autor transporta para o passado, seria cômico se a estudássemos de perto. Esse o inconveniente de um gênero de memórias, e nas quais se faz pose. Estão ali numerosos acontecimentos de sua juventude, mas a revista é passada a limpo de acordo com os seus sentimentos de hoje. Ou serão sentimentos da época, mas disfarçados sob as cores do presente. Não se sabe onde está o verdadeiro e o falso. O Autor também não sabe". (Saint-Beuve, transcrito e subscrito por Carlos Lacerda em “Rosas e Pedras de meu Caminho”, capítulo III). MEMÓRIAS II – “Confissões, valia a pena se fossem como as de Santo Agostinho ou Rousseau. Um mergulho na consciência, só como Proust pôde fazer, colocando entre a pena e o mundo quatro paredes forradas de cortiça, como uma lâmpada acesa à luz do dia, ou a campainha do telefone que toca numa casa vazia - segundo as comparações de Jean Cocteau. Procuro uma definição para estes escritos, encontro num apontamento que topei há muito tempo de Machado de Assis: “Segundo me parece, e não é improvável, existe entre os fatos da vida pública e os da vida particular uma certa ação recíproca, regular, e talvez periódica - para usar uma imagem, há alguma coisa semelhante às marés da Praia do Flamengo e de outras igualmente marulhosas”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição Fundamar-UnB, 2001, página 31). MENSAGEM A GARCIA - "Na guerra que tirou cuba do domínio espanhol e reduziu-a à influência americana, há um exemplo dessa ideologia imperial. Elbent Hubbard escreveu-a com o título de Mensagem a Garcia. O Presidente dos Estados Unidos precisa comunicar-se com Garcia para juntar forças, vencer o espanhol. Frente de obediência cega e dinamismo desenfreado, um certo Rowan recebe a missão. Rowan não discute, entrega". ( "Em vez ...", edição Nova Fronteira, de 2973, pagina 211). MERCADO COMUM EUROPEU - "A propósito, e sempre encaminhando uma definição clara, devo dizer que não tenho nenhum receio do Mercado Comum Europeu. Ao lado do Mercado Comum do nosso Continente devemos receber o Europeu como um fato consumado. Mais do que uma ameaça representa ele um estímulo para a diversificação da nossa produção e uma certeza de investimentos de capitais e técnica, que tem disponíveis o nosso país. ("Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, 1966, página 181 e em “Lacerda, idéias sim, ideologia não", edição da Manchete n.607 de 7 de Dezembro de 1963, página 114). MERCADO DE TRABALHO - "Fala-se de excedentes nas duas ou três faculdades para a qual se dirigem os que querem engrossar a legião de médicos, advogados, engenheiros civis. Onde estão os botânicos, os geólogos, engenheiros eletrônicos, etc., de que o país precisa? Onde formá-los? Como atraí-los, se existe a necessidade deles, mas não existe o mercado de trabalho?”. (Rosas e Pedras do Meu Caminho", co-edição 2001 da UnB-Fundamar, página 60). MESQUINHARIA - "Poucas coisas me enfurecem, mas uma, é, na certa, a mesquinharia. Quando o oficial de Gabinete, Geraldo Monera, hoje deputado estadual, me telefonou durante o almoço em casa, em 1964, comunicando que chegara ao palácio a notícia da prisão do Vice-Governador Elói Dutra, senti a mesquinharia e me indignei. Ele havia sido cassado, isto é, privado pelo golpe de 1964, sem defesa, nem processo, dos direito que todo o mundo tem. Exilara-se e voltava agora ao Brasil para ficar com sua mãe e ganhar a vida. Se o prendessem por tentar fugir, seria ao menos compreensível. Mas prendê-lo por voltar para à sua terra? Estava conspirando, agitando, em suma, praticando um ato capitulado em algum artigo de lei? Não, seu crime era voltar ao Brasil". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 148). MIGUEL ANGELO - "Há no "Juízo Final" de Miguel Ângelo uma figura apenas indicada por uns poucos traços escuros, nos quais avultam grotescos, medonhos, a dentadura e uns olhos brancos fulminantes. É o gorila bestial, a morte, o dono do inferno, senhor das almas quando este trem rola pelo vale do Pó, que uns olhos assim espreitam, nesta hora, os jovens heróis deste mundo. Que colheita, que matança, que gozo infernal nas novas sepulturas por abrir". ("Como foi Perdida a Paz", editora IPE - Instituto Progresso Editorial S.A., 1947, página 127). MISSÃO - "O sentido de que se tem missão a cumprir, seja de criar bons filhos ou de reformar uma nação, de fazer o que se sabe e o que se pode - não importa o vulto da tarefa, sim a sua significação - a idéia de que se deve fazer bem feito, por mais simples ou arriscado que seja, faz parte desse sentido de missão. Também dele é estar disponível para cumpri-la. E ser accessível, isto é, não depender de contingências, sejam as incompatibilidades pessoais, de ódio, de ressentimento, suscetibilidades, as do dinheiro - excesso ou falta - as de saúde - delicada ou abalada - ou outros, de modo a ser imobilizado, a qualquer momento para a missão a que se está, por assim dizer, destinado". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 81). MOCIDADE I – “Os jovens não fazem a revolução de Marx porque partiram – movidos por Freud – para a descoberta do sentido do amor, do princípio do prazer, do amor como atividade criadora e não apenas como uma fadiga ou maldição do homem”. (Seleção publicada pela Manchete de 06.06.1977). MOCIDADE II - “É triste pensar que os velhos não compreendem – porque já não podem – a aflição dos jovens que ainda não conseguiram ser, e tomara que não sejam nunca jamais como seus pais, céticos, cínicos ou simplesmente abúlicos e conformistas”. (Seleção publivsfs pela Manchete de 06.06.1977). MOCIDADE III - "Certo sois generosos, mas não há nisto motivo de espanto, pois que outra coisa senão generosa pode ser a mocidade, a quem a vida dá tudo e dela tão pouco ainda tomou?" (“Em vez ...”, 2a edição pela Nova Fronteira, pagina 241). MOCIDADE IV – “O drama da juventude é que ela não quer necessariamente ter razão, mas ser ouvida. Ela está pronta a reconhecer que não tem razão em tudo, é insolente, mas não imodesta, quer apenas ser tomada a sério”. (Seleção da Manchete de 06.06.1977) MODERNISMO – “Deu-nos (José Lins do Rego) a todos o sentimento da terra; deu-nos a todos o sentimento da gente brasileira. Foi um dos grandes romancistas surgidos da revolução modernista de 22, mas retomou, corajosamente, aquele gosto de escrever sem medo das palavras que fora, na sua negação, a maior fraqueza, a debilidade mais evidente do Movimento Modernista. Devolveu-nos a literatura com gosto de usar a palavras, como o prazer de escrevê-las assumindo, porém, ao contrário dos antigos, essa naturalidade no dizer, essa incorporação da língua do povo ao idioma literário, que hoje faz com que os escritores de Portugal se revejam deslumbrados neste português do Brasil, que Lins do Rego tão poderosamente enriqueceu”. (“Em Vez ...”, edição da Nova Fronteira de 1975, página 20). MODÉSTIA - -“E porque ninguém temeu a sua competição, ele pode triunfar. Ai dos que não conseguem esconder o seu valor. Se não fosse o trambolho da modéstia, diria que tenho alguma experiência na matéria”. (“Em vez ...”, editora Nova Fronteira, 2a edição de 1976, página 152). MOEDA – “Todos concordam: sem a restauração da moeda não se restaura a economia. Mas a recuperação da moeda, por si só, não é um fim. Não deve ser feita com tal violência que deteriore ainda mais a economia, gerando assim a incompatibilidade do povo com a Revolução. Se sacrifícios tão grandes tem que ser impostos para salvar a moeda, é preferível atenuar as medidas antiinflacionárias procurando neste ponto, tão somente evitar que se acentue a aceleração da inflação. Não se trata de parar o esforço antiinflacionários e sim, de apenas não marcar a data para acabar com a inflação, o que é, além do mais, uma tolice”. (“Brasil entre a Verdade e a Mentira”, carta ao Presidente Castelo Banco , editora Bloch, 1965, 42). MOEDA FORTE – “A defesa da moeda, e outros tabus conservadores, culminou na retenção do desenvolvimento do país, conforme se retrata no famoso documento em que o presidente eleito, Campos Salles, dirigindo-se aos credores estrangeiros numa carta minutada pelos banqueiros Rotschild & Sons, em troca da consolidação da dívida prometia não fazer gastos desses hoje chamados investimentos. Retardou assim a industrialização”. (“Em vez ...”, 2a edição da Nova Fronteira, 1875, página 29). MONSTRO DA LAGOA – “Em New York ele (José Famadas) traduzia filmes e me arranjou alguns para fazer legendas em português. Pagavam duzentos dólares por filme, mas cobravam até o papel em que a gente escrevia, descontava-se o imposto de renda e líquidos, eu recebia só 116 dólares. O primeiro filme que traduzi chamava-se o Monstro da Lagoa”. (“Depoimento”, páginas 174/175). MORTE I – “E a única justificativa para a gente se conformar com a morte é a possibilidade de descobrir que surpresas nos estão reservada depois dela. Por isto imagino a cara dos descrentes quando derem com elas nos batentes da eternidade. Mesmo para os crentes há sempre uma surpresa: cara ou coroa? Céu ou Inferno? Ou a terceira alternativa essa, essa escola de meditação, curso de mediocridade para os grandes, de grandeza para os pequeninos, o Purgatório”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, 1966, página 22). MORTE II - "Em resumo: o mistério da morte não é, para mim, figura de retórica. Desde cedo me convenci de que um dia Deus nos deixará decifrá-lo. Mas não tenho pressa. Por mim, a charada pode esperar. Por essas e outras considero com pouca melancolia e muita curiosidade o espetáculo dos que se apegam demais a certos triunfos momentâneos e gemem ao menor sinal de vicissitude ou percalço. A vitória me faz bem como a derrota, pois a primeira me pacifica, a segunda me estimula. Nenhuma me faz perder a cabeça porque, afinal, vitoriosos ou vencidos, acabamos sempre perdendo o corpo inteiro. E o que fica não é o que se ganha, é o que se dá". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", página 100). MUNDO - "O Brasil ou será uma dessas novas potências mundiais, ou será uma espécie de colônia. Cabe-lhe participar audaciosamente do esforço para reduzir as diferenças entre o mundo poderoso e o mundo impotente - pois este, sim - é hoje o perigo que atormenta a ambos. O mundo em que as diferenças internas e externas, da sociedade dos homens e das nações sejam e cada vez mais atenuadas. Há um pânico de tomar posições, ninguém quer "se queimar". ("Rosas e Pedras", páginas 118/119). MUNDO IDEAL – “Um mundo normal, em que o indivíduo seja a medida de todas as coisas, e a comunidade o conjunto harmonioso dos indivíduos, há de surgir um dia, em algum lugar? Surgiria, talvez, desses dois expoentes – a civilização industrial americana e a revolução social russa – se não tivessem ambos crescido demais a ponto de se excluírem para subsistirem. Surgirá, com certeza, das lições de ambos e do choque da sociedade de classes e a de castas, o capitalismo das grandes empresas e o capitalismo do Estado”. (“Em vez ...”, 2a edição de 1975, páginas 54/55). MÚSICA – “Há os que buscam na música um refúgio. Também há quem encontre nela uma evasão. Para mim a música é um reforço. A paz que ela me dá é reintegradora”. (“Uma Rosa é uma Rosa é Uma Rosa”, 2a ed/Record/1966, 1966, página 100) NEURÓTICOS – “Quanto aos neuróticos de verdade – e somos legiões – de Santa Teresa a Joana d’Arc, de Tiradentes a Sigmund Freud, nem todos puderam dispor de outro neurótico de plantão, na meia luz do consultório, para a consumação do ritual desse novo sacramento: confissão paga por minuto. Mas sempre haverá quem se disponha a aceitar, pelos menos, que o assunto não seja trancado ao conhecimento público. Vejamos alguns exemplos”. (“Em vez”, editora Nova Fronteira, 2a edição 1975, página 63). NÉVOA - "aquela neblina que desce como uma bênção enternecida, a banhar de esquecimento ansiedades e tormentos". ("O Cão Negro", 2a edição Nova Fronteira, 1971, página 217). NOSTALGIA – “Declaro a nostalgia a única a única fonte de alegria genuína, porque feita de sabedoria e prudência, impregnada de mordaça e cautela”. (“O Cão Negro”, página 13). NOTÁVEIS DA POLÍTICA - "Expus-lhes o que se estava passando em Brasília. Entreolharam-se, uns talvez incrédulos, outros atônitos. Poucos comentários, nenhum desejo de se meter. Era como se fossem de outro país, ou de outro planeta. Gente de primeira ordem, mas com a vocação da inércia. Reservam-se para julgar os que agem. Nesse julgamento, são inflexíveis, exigentes, duros. Absolvem todas as omissões, a começar pelas suas." (“Rosas e Pedras do Meu Caminho", página 285). NOVA INCONFIDÊNCIA MINEIRA – “E o almoço foi na Cultura Inglesa e o Juscelino, sendo o Prefeito, era a maior autoridade presente. Com esta história de eu ser o orador obrigatório dessas coisas, me pediram para fazer o discurso. Eu me levantei e disse que estávamos no país da Inconfidência Mineira, e que eu notava que, sendo Minas a terra, eles se sentiam inibidos de conspirar contra a ditadura. Mas eu queria lembrar que a Inconfidência Mineira tinha sido uma revolução de funcionários públicos: eram ouvidores, auditores, escrivães e toda aquela gente. ... Em suma convidei-os a conspirar. Houve um mal estar evidentemente, mas o único que riu muito e me deu um abraço dizendo, Você é terrível, foi Juscelino.” (“Depoimento”, página 159). OBSTINAÇÃO – “Em face dessa perspectiva não adianta deblaterar. Todos me dizem que o Presidente, cheio de virtudes e qualidades, tem, no entanto como eu, o defeito da obstinação. Tanto quanto me conheço, sei que a minha alegada obstinação não é tão grande, pois também se alega contra mim, a incoerência, que é senão o defeito de não ser obstinado, de reconhecer os erros, de rever posições, tendo sempre como único padrão de coerência o interesse público e não o amor próprio”. (Carta ao deputado Herbert Levy em “Brasil entre a Verdade e a Mentira”, edição Bloch, página 104). ÓDIOS - "Sobre ódios que a incompreensão alimenta e a ambição` aproveita, pairou sempre, impessoal, paciente, até os últimos limites da humilhação, o meu horror ao ódio. Assim como se confunde a veemência com a violência e a ira com o ódio, confunde-se também a paciência com o cansaço e a compreensão que se deve às pessoas com a complacência que não se deve ter para com os erros. Abomino o erro, os meus e os dos outros. Assim como me perdôo, devo ainda mais depressa perdoar os outros. Assim como tenho oportunidade de corrigir os meus, devo dar aos outros, a possibilidade de corrigir os seus. Se isto é verdade na vida intima, ainda mais o na vida pública; pois é ai, mais do que em qualquer setor, que se pode repetir a palavra de Cristo: quem pode atirar a primeira pedra?". (“Rosas e Pedras, pagina 255). OLHOS - "Tenho muito cuidado quando escrevo, em não repetir, como é costume alguma coisa que é evidente: "só um cego não vê isso, etc". Os que não podem ver com os olhos, vêem com as mãos, e sempre, com a alma. Isto não quer dizer que não podem, e sim dos que não sabem ver. Já pensaram na maravilha que é o mecanismo dos olhos? Expostos a todas brutalidades, inclusive à agressão dos dedos que os esfrega... Já me surpreendi, várias vezes, treinando mentalmente para o dia em que tivesse de ficar cego. Acontece-me fazer previsão de beleza para revê-la na imaginação, se isto acontecer. São seis músculos acionando a janela, o obturador e a lente. São minúsculos, mas permitem dirigir o olhar com a desenvoltura e precisão de um refletor. O olho só não pode ver o seu próprio movimento. Mais delicada ainda que a sua mecânica é a química da a visão. As imagens formam-se na tela, menor e mais fina do que um selo postal, a retina. São 137 milhões de células, um mosaico sensível à luz, que o torna rosado devido a um pigmento parecido com a vitamina A: a púrpura visual. Quando se olha um objeto com pouca luz, ele empalidece nos lugares em que a recebe. Das 137, 130 milhões são bastões microscópicos que nos fazem conhecer a forma e a distância dos objetos. São eles que vêem as miragens e têm ilusões que nos transferem". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", edição UnB-Fundamar, 2001, página 77). OMISSÃO - “Prefiro ser incompreendido por ter falado o que era preciso dizer, do que não ter paz na consciência por me silenciar, ou, de qualquer forma permitir pelo silêncio o que se está praticando contra o País.” (“Carta a um Amigo Fardado”, editora Nova Fronteira, 1967, página 54). ONU I - "A O.N.U. está hoje para a paz, como a linha Maginot para a guerra em 1939: uma ilusão laboriosamente conservada na falta de outra coisa, embora os seus participantes saibam, melhor do que ninguém, que apenas compõem, enquanto se prepara novamente a guerra, o cenário da decepção dos povos." ("Como foi perdida a Paz", edição do Instituto Progresso Editorial S/A, 1947, São Paulo, página 16). ONU II - "O direito de veto pelos Grandes, na O.N.U. matou a paz do mundo - porque tirou dessa organização internacional a sua grande fonte de autoridade, que seria, que teria de ser precisamente, o seu poder internacional, ou seja, a sua força perante a qual nenhuma nação deveria ser suficiente soberana para desacatá-la ou renegá-la". (Como foi perdida a Paz", edição Ipe - Instituto Progresso Editorial S/A, 1947, página 29). OPINIAO PÚBLICA - "Não tinha a quem recorrer, senão à opinião pública, na qual os democratas brasileiros custam tanto acreditar. Eu creio na sua força e na capacidade de despertá-la e mobilizá-la. Pois tudo o que fiz com ela, sem diminuir em nada, ao contrário, realçando a participação daqueles que foram sensíveis aos seus apelo". ( “Rosas e Pedras, página 287). ORATÓRIA – “Creio que no dia em que souber acabar um discurso, serei um orador. Só é orador aquele que, acabando, tem a certeza que disse tudo que era preciso, quando era preciso e como era preciso. (Isto não é da minha lavra)”. (“Uma Rosa é uma Rosa é Uma Rosa”, 2a ed/Record/1966, página 142). ORGANIZAÇÃO – “Uma das formas mais perigosas de alienação é a obsessão de organizar comunidades perfeitas por via de regulamentos. E uma das mais perigosas formas de utopia – que significa lugar que não existe – é a de aperfeiçoar de tal forma uma sociedade que ela se torna insuportável, e portanto, insustentável. A tendência de regulamentar demais é um desregramento da imaginação, como o desejo de não nenhum risco e viver sob o signo da segurança absoluta, é um grave sintoma de insegurança”. (“Em vez ...”, editora Nova Fronteira, 2a edição de 1976, página 95). ORGULHO – “há uma tentação de que devemos, a todo custo, fugir ainda que pareçamos covardes. É a tentação do orgulho sobre o que fazemos, sobre o que somos ou julgamos ser. A julgar pela breve, mas intensa experiência que vos posso transmitir(*) , creio que o único meio de resistir a essa tentação é não se reservar apenas para as grandes ocasiões, e não se preocupar em fazer mentalmente, a cada momento da vida, a nossa própria biografia. Não se poupar. Queimar alegremente a vida por um sério objetivo, eis o que se pode opor à tentação do orgulho, principalmente desse frio e cristalino orgulho intelectual, que gela a comunicação do homem com os outros homens”. (“Em vez ...”, editora Nova Fronteira, 1976, página 244). ORLY – (Entrevista dada a rádio e televisão francesa ao desembarcar em Orly para "explicar" a revolução: "A primeira pergunta era se a revolução tinha sido feita com apoio dos americanos. Eu disse: Não, há um engano, o que foi feito com o apoio dos americanos foi a libertação da França em 1940. Outra pergunta foi assim: O Sr. foi comunista na juventude. Respondi: Sim, tal como André Malraux. Outra: Como é que o Sr. explica essa revolução sem sangue no Brasil? Respondi: é porque revolução no Brasil é como casamento na França. E a tortura? Por enquanto ninguém raspou a cabeça de mulheres como no dia da libertação na França. E por aí vai". ("Depoimento" página 311 e 312). OSTRACISMO – “O ostracismo pelo qual o Marechal Castelo Branco se vangloria, foi um favor que me fez. Deu-me relativa paz e algum tempo para ver, em projeção o que estava errado em minha orientação para levá-la a bom termo.” (“Crítica e Autocrítica”, edição Nova Fronteira, sem data, página 29) OSVALDO ARANHA - "Foi ao tempo da campanha contra Última Hora, jornal então custeado pelo Branco do Brasil; dessa campanha resultaria, como se verá, o atentado da Rua Toneleros e a queda de Vargas. Osvaldo Aranha, feito ministro do novo Governo Vargas, garantiu-me que denunciaria o convênio celebrado por Ricardo Jafet, da presidência do Banco do Brasil, com a empresa editora Érica de Samuel Wainer e Baby Bocaiúva Cunha, que garantia papel à vontade a esse jornal, em desfavor dos outros jornais. "Não há dúvida, levo-os à falência", disse Osvaldo Aranha em sua casa. Conversar com esse homem, que fazia do charme um ponto de honra, era um privilégio e um encanto." ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", página 137). PAÍS DESIGUALMENTE DESENVOLVIDO - "O Brasil não é um país subdesenvolvido. Isto é uma lengalenga falsa e demagógica. O Brasil é uma pais desigualmente desenvolvido. Um país onde o povo começa a compreender que tem direito aos benefícios da civilização e da técnica. Há uma revolução no Brasil que, aliás, já começou e não é revolução social. É a revolução da tecnologia. Começamos a ser um povo de consumidores". (Resposta ao repórter no Aeroporto de Orly, transcrita de fita gravada em "Palavras e Ação", editora Distribuidora Record, 1966, página 137). PAIXÃO - "Passional, sim. Mas, não apenas no passado. Até hoje - e graças a Deus creio que morrerei com essa capacidade de apaixonar, sem a qual a vida se transforma num deserto de cálculos e ambições. O que tive, o que vier a ter na vida, será sempre sem cálculo. Recebo o que Deus me dá, sem Lhe pedir senão a graça de merecer. Sou um homem desprevenido. Tenho feito mesmo questão de manter, no longo da vida, essa reserva de boa fé freqüentemente desapontada mas que uma simples, uma única confirmação, de vez em quando, basta para renovar". (“Carta a David Nasser”, publicada em "Palavras e Ação", editora Distribuidora Record, 1966, página 00). PALAVRAS - "O que me apaixonou foi a história das palavras, símbolos e sons, história de muitos mundos, a gíria e a língua erudita, como se formam, como se expandem, decaem na boca do povo e renascem na dos artistas. Cada palavra é parte de um sistema, sol e outras estrelas, tudo sofrendo a erosão pelo uso e a invenção pela necessidade. Procuro aprender com os escritores que renovam o nosso instrumental; no Brasil, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Mário de Andrade, o difícil Guimarães Rosa, Gilberto Amado - que tem um raro apreço à palavra exata; em Portugal os clássicos, que só se tornaram clássicos quando passaram a ser lidos cerimoniosamente, como certas pessoas que passam a virtuosas depois que ninguém as quer". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", página 98). PARLAMENTARISMO FALSO EM 1961 - "A maior parte dos revolucionários que resistem à idéia de Frente Ampla estavam entre os que exigiram a posse de João Goulart na Presidência da República. De parte a parte houve uma espécie de ilusão, portanto recíproca. Os que se julgavam reformistas não distinguiram os reacionários autêntico daqueles que julgavam reacionários porque adversários de sua permanência no poder. Resultado - uniram-se todos e foram com essa união derrubados. Os que se consideravam defensores da democracia, contra os demagogos e corruptos, não separaram o que havia de demagogia e corrupção do que correspondia a um autêntico interesse pela reforma e o desenvolvimento do Brasil. Resultado: acabaram servindo mais aos interessados na estagnação, num Brasil marcando passo, mofino, imbecilizado pelas bolinhas dialéticas servidas por perversos exibicionistas da cultura e da técnica, transviados da inteligência e virtuosos da submissão, que fazem o Brasil retroagir a um tempo que nunca houve, um silêncio entrecortado de portarias, uma”. ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", página 294). PAU FERRO - "A ceasalpinia não é outra senão o popular Pau Ferro"; ( "O Cão Negro", ed/1971, página 248). Paz", edição Ipê - Instituto Progresso Editorial S.A., S.P., 1947, página 31)(*) PENSÃO – “Pouca gente sabe, mas o Presidente da República, a partir de Café Filho – sob o fundamento de que Café era paupérrimo – têm uma pensão. E não só os ex-presidentes, mas todos os governadores, têm hoje, por lei, pensão vitalícia, o que acho um absurdo total. Eu, por acaso não tenho porque fui cassado. Quem sabe, depois eu não vá requerer os atrasados. Acho uma vergonha: o sujeito vai servir cinco anos, é pago, - mas poxa – que diabo! O sujeito é pago para servir o seu país. Uma pensão pelo resto da vida porquê? Ah, era pobre? Bom, mas o sujeito já era pobre antes, o povo não tem nada com isto, o sujeito que trate de ganhar a vida”, (“Depoimento”, editora Nova Fronteira, página 220). PESSOA - "Mas este é o ponto, no serviço dos homens é preciso não esquecer a PESSOA de cada criatura, pois esta é que está sozinha, esta é que é mais triste e pobre, esta é que perde o sentido da vida e a compreensão da morte. Não se trata de sufocar a revolta dos pobres contra os ricos sem estimular a sustentação dos ricos sobre os pobres. Contudo, ricos e pobres vivem numa solidão, numa carência espiritual que também preocupa o papa, mas não parece preocupar tanto os que tanto se preocupam com os tópicos socioeconômicos de suas encíclicas. Se tivesse medo da inteligência, não escreveria essas palavras, pois nada será mais fácil a um imbecil do que se fazer de inteligente torcendo-as, interpretando-as num sentido que lhes convenha, mas não à sinceridade e autenticidade do meu pensamento. Mas espero que o leitor inteligente me compreenda". (“Rosas e Pedras do Meu Carminho”, página 185/186). PODER I - "O poder não é cargo de sacrifício. Ao contrário, é fonte de alegria". (“Depoimento”, Nova Fronteira, 1977, 1a edição. página 68). PODER II - "Muita gente quer o poder a qualquer preço, por isto não perdoa Maquiavel ter mostrado quanto custa conquistar o Poder e mantê-lo". (“O Cão Negro", 2a edição Nova Fronteira de 1971, página 62). PODER III -"O poder bem exercido é extremamente gratificante. ... É talvez um prazer único em seu gênero. É um prazer muito especial. É uma espécie de alegria permanente, mesmo nas horas de indignação. Consegui tudo isto porque sempre tive certo desprezo pela política, quero dizer, pela política do favor pessoal, no sentido de clientela, no sentido de dar emprego em troca do voto ou o voto em troca do emprego". (IN “Depoimento”, 1977. editora Nova Fronteira, páginas 236/237). PODER IV - "Realmente o poder, o poder exercido com esse senso de servir, é a coisa mais gloriosa que pode haver. Não há nada no mundo que dê a alegria que dá o poder exercido assim. É por isto que eu fico, não é bem revoltado, fico espantado, fico muito mais espantado, quando vejo o sujeito fazer tudo para chegar ao poder e depois, quando chega lá, não sabe o que fazer". ("Depoimento", 1a edição Nova Fronteira, 1977, página 219). PODER V – “O poder é muito bom. Não adianta querer enganar. Sem querer me gabar, quero dizer que todas as posições que tive na vida foram conseguidas por eleições. Nunca por nomeação ou aclamação”. (Entrevista à revista “Veja” de 8 de Maio de 1974 – Páginas Amarelas). PODER VI - "O poder não é cargo de sacrifício. Ao contrário, o poder antes de tudo é uma fonte maravilhosa de alegria. A cada decepção que você tem no poder ou fora dele é compensada toda vez que você realiza alguma coisa. Isso dá um senso de realização que é maravilhoso, um negócio fantástico". ("Depoimento", editora Nova Fronteira, 1977, página 63). POLÍCIA – “Em tudo isto há uma idéia que os policiais não chegam a entender, a de que só podem começar a bater quando começarem a apanhar, e, ainda assim, moderadamente. O espancamento preventivo tem feito mais pelo recrutamento de rebeldes do que os cursos de capacitação para guerrilha urbana. ... Quem apanha na rua ou se acovarda de vez – ou nunca mais. Há regimes que resistem a guerras civis. Mas nenhum até hoje sobreviveu a um período longo de intensos tumultos estudantis”. (“Em vez ...”, página 219). POLÍTICA ECONÔMICA I– “ A política econômica por natureza contingente, por isso mesmo que é uma política. Só os tecnocratas presumem o contrário, enfatuados na infalibilidade da sua pseudociência. A economia, que lida com o destino de um povo, de uma nação, por isso mesmo se chama economia política, porque não pode ser dissociada da política. Só o marxismo alimentou a presunção de criar uma economia rigorosamente científica, baseada em dogmas, a que a política e tudo o mais deveria subordinar-se, rígida e inflexivelmente. Mas a experiência desmoralizou essa presunção. E na Rússia é a política que comanda a economia: quando a produção agrícola cai, elimina-se do Governo o Kruchev.” (Carta do Governador Lacerda ao Presidente da República Humberto Castelo Branco em 1965). POLÍTICA ECONôMICA III – “Nenhuma política econômica é certa quando se esquece do ser humano. Uma política econômica que vê com indiferença o crescimento do desemprego onde ele não existia; uma política econômica que se conforma com a hipótese de transformar torneiros e metalúrgicos em serventes de pedreiro não tem compreensão humana, nem sequer sabedoria econômica, pois não avaliou devidamente o que significa de atraso, irrecuperável por muitos anos, para o Brasil, a dispersão de seu pequeno exército de trabalhadores qualificados”. (“O Brasil entre a Verdade e a Mentira”, Bloch Editores, 1965, página 26 e reproduzido por Cláudio Lacerda, “Carlos Lacerda – Dez anos Depois”, editora Nova Fronteira, 1987, página 106). POLÍTICA ECONÔMICA IV – “A economia que lida com o destino de um povo, de uma nação, chama-se por isto mesmo economia política porque não pode ser dissociada da política. Só o marxismo alimentou a presunção de uma economia rigorosamente científica, baseada em dogmas, a que a política e tudo o mais deveria subordinar-se, rígida e inflexivelmente mas a experiência desmoralizou essa presunção”. ( “O Brasil entre a Verdade e a Mentira”, editores Bloch, 1965, página 73 e em Cláudio Lacerda de Paiva, “Carlos Lacerda – 10 anos Depois”, editora Nova Fronteira, 1987, página 134). POLITICA ECONÔMICA V – “uma política econômica há de ser necessariamente empírica, contingente e flexível, tendo em conta as circunstâncias complexas e variáveis que se verificam em cada povo ou nação, as contingências do momento, a conjuntura, as reações produzidas. O seu alvo e o seu suporte é o povo, no seu conjunto, fator decisivo do seu êxito ou do seu malogro”. “O Brasil entre a Verdade e a Mentira”, editores Bloch, 1967, página 74). POLÍTICA I - "Parece-me extraordinário que exatamente o setor militar ache maior dificuldade para compreender essa realidade das guerras que não vêem só de Lênin como político, mas também de Clausewitz, um mestre da doutrina militar: a guerra e a política são - uma continuação da outra". ("Crítica e Autocrítica", editora Nova Fronteira, 1966, página 77). POLÍTICA II - "Não me ocupo de política, porque sempre a desprezei e quando tive que suportá-la foi aos pontapés que a tratei. Hoje, mais do que nunca, entendo porque a maltratei, quando vejo a infinita mediocridade, a ambiçãosinha malacafenta dos que a abraçam com êxtases de quem se contenta em ocupar, constrangidamente, lugares que não merecem e exercer, com meticulosa pompa, funções para as quais não se prepararam - pois não tiveram paciência de ler nem tempo para pensar, nem humildade para aprender". ("O Cão Negro", ed/Nova Fronteira/1971, página 137). POLÍTICA III - "O caráter pessoal da política no Brasil contribuiu para idiosincrasia, para essa dificuldade compreensão da possibilidade de se unirem forças políticas, através dos seus líderes, sem que isto signifique caírem nos braços um dos outros. É difícil, reconheço, dados os vícios da formação brasileira, diferenciar aliança de confraternização, entendimento de promiscuidade." ("Crítica e Autocrítica", edição Nova Fronteira, 1966, páginas 82/83). POLÍTICA IV - "O caráter pessoal da política no Brasil contribuiu para idiossincrasia, para essa dificuldade compreensão da possibilidade de se unirem forças políticas, através dos seus líderes, sem que isto signifique caírem nos braços um dos outros. É difícil, reconheço, dados os vícios da formação brasileira, diferenciar aliança de confraternização, entendimento de promiscuidade." ("Crítica e Autocrítica", edição Nova Fronteira, 1966, páginas 82/83). POLÍTICA V – “E conservei disto um certo horror à política. Sempre tratei-a a pontapés. Razão pela qual os políticos de um modo geral nunca me tomaram como um deles. Mas eu ganhava eleições, então eles precisavam de mim. Contudo, entre um eleição e outra, sempre que podiam me botavam para baixo. Nunca me senti à vontade no jogo político. Ele era para mim um coisa mais ou menos desprezível”. (Entrevista nas páginas amarelas da Revista Veja de 8 de maio de 1974). POLÍTICA VI – “Meu desprezo pela política e pelos políticos existe apenas quando um e outros não cumprem sua finalidade. A atividade política é a mais nobre das atividades. E não teho a menor restrição a estender a mão a antigos adversários políticos se achar que em determinado momento a minha aliança com eles representa um bem para o país.”. (Páginas amarelas da revista Veja de 08/12/1974). POLÍTICO I - “O que se deve ver numa longa vida pública é o conjunto. Se alguém procurar, fora desse conjunto, atos separados de contradição, pequenos episódios, aí então se acaba condenando todo o mundo”. (Seleção de pensamentos de Carlos Lacerda publicada na revista Manchete n. 824 de 06.06.1977). POLÍTICO II – “Sou um político com horror à política, no sentido em que a fazem os viciados. A minúcia de que quem prepara a sua carreira como noiva feia que faz o enxoval mesmo antes de encontrar quem a queira“. (“Crítica e Autocrítica”, edição Nova Fronteira, página 16). POLÍTICO PROFISSIONAL – “Cabe aqui um parágrafo sobre o político profissional duramente castigado durante as revoluções tenentistas. O político, por si, como o homem que exerce plenamente em tempo integral, a vida pública é mais do que necessário, é indispensável – e inevitável. Ele deve ser generalista, isto é, um especialista em generalidades, sem o qual os especialistas em pormenores se confundem todos. O que até hoje se costuma chamar político profissional é aquele que, dependendo da política para viver, seja por falta de capacidade para outra atividade profissional, seja pelo uso da política como instrumento de êxito em suas atividades econômicas, esvazia de espírito cívico a vida pública, tem a submissão como norma e, por interesse e formação é incapaz de correr qualquer risco, de assumir qualquer responsabilidade a não ser a de ser incondicionalmente amigo de todo e qualquer governo, o epígono de todo e de qualquer forma de regime ou de governo. O político profissional brasileiro, com as exceções de costume, oscila entre a ignorância e a solércia, entre subversão traiçoeira e a irresponsabilidades oportunista”. (“Em Vez ...”, 2a edição Nova Fronteira de 1975, página 31). POLÍTICOS - “Muitas pessoas que governam o Brasil tem um excessivo senso de sua importância e nenhuma noção da importância do Brasil”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 291). POLITICOS RESPEITAVEIS - "Poucos políticos como instrumento e não como um fim em si mesmo. O político brasileiro, com as exceções de costume, faz com a política o que avarento faz com o dinheiro: transforma-o num deus inútil, mas insaciável. Um dia, de surpresa, visitou-me em Petrópolis Juracy Magalhães e disse-me: "Tenho apoio de Juscelino e Jango; se você me apoiar a UDN ganha essa eleição". Ante o meu espanto ele acrescentou: "Você bem sabe que será o que quiser, no meu governo”. E acredito até hoje que seria verdade, porque não?! A Frente Ampla prematura seria a perpetuação, com Juracy, da oligarquia e dos seus erros e vícios. A vitória da UDN em tais condições, naquela fase, com aquela relação de forças, seria a derrota de tudo o que eu considerava necessário ao Brasil". (“Rosas e Pedras do Meu Camoinho”, página 275). POPULAR E POPULARIDADE - “despencou livros das bibliotecas e escreveu o livro que o lançou na filosofia do seu tempo: “Política e Coragem”, no qual já então jovem senador pela Massachussetts mostrava como na democracia a popularidade é um capital que se acumula para gastá-lo a serviço do povo e não a serviço de suas próprias e pessoais ambições. Momentos culminantes dos outros homens públicos de outros tempos foram estudados por John Kennedy à luz desta lição, a lição de que a vida pública deve ser exemplo de risco e de coragem o tempo todo, isto é, a de que só tem direito de ser popular quem tem direito de colocar a popularidade a serviço do povo”. (“Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, 1966, página 195).(*) POVO - "Acredito no povo. Sou pequeno, mas só fito o povo, como se fosse - e creio que é - uma cordilheira, com os seus cumes, vales e desfiladeiros, e a variedade da ondulação de suas atitudes. Certo, ele erra. Mas, quem pensa acertar em seu lugar erra mais porque o erro é sem ele". ("O Cão Negro", ed/1971/Nova Fronteira, página 177). POVO O, NO PENSAMENTO DE MAQUIAVEL - "Por seu turno, Antonio Gramsci, talvez o único entre os comunista italianos que chegou a formular uma contribuição ao pensamento político, no seu ensaio sobre Maquiavel adotava a interpretação segundo a qual “O Príncipe”, na projeção própria da época, foi uma encarnação da vontade soberana do povo, na luta popular pela unidade que, só ela, assegura a soberania contra o domínio feudal dos grupos poderosos. Sem chegar a tais extremos da livre interpretação, pode-se concordar com ensaístas modernos que, reexaminando Maquiavel, mostram como este, tendo de escolher "entre a utopia e o pensamento escolástico", - exclusivo dilema dos pensadores políticos daquele tempo, - atingiu um terceiro nível, conseguiu uma terceira saída, construiu-a no plano superior da arte, fazendo com que elemento racional e doutrinário se incorporasse num condottiere. Assim o príncipe seria a representação antropomórfica, o símbolo do Povo. Noutras palavras, a personificação da vontade coletiva". ("O Cão Negro", editora Nova Fronteira 1971, 2a edição, página 64) PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO – “Durante a eleição de Juscelino, Hugo Gouthier era cônsul geral em Nova York e amicíssimo de Juscelino. Recebi um telefonema dele – um longo telefonema quase de duas horas – em que ele me oferecia a Prefeitura do Rio de Janeiro em troca da minha neutralidade na campanha presidencial. Ele não queria nem o meu apoio, queria apenas que eu não me metesse na campanha. Tive que explicar longamente que isto era impossível”. (“Depoimento”, 174). PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA - "Nesta fase da vida me preocupa saber que, no passar do tempo, talvez a minha oportunidade de ser Presidente da República - cargo para o qual me preparei - venha quando a saúde já não me ajudar e às disposições de espírito se recusarem as do corpo. Isto que alguns chamam a minha ambição, para esconder a sua, é apenas a consciência de uma tarefa a executar, de uma série missão a cumprir - que talvez seja apenas a de ser um bom avô, envelhecendo em paz. Preocupa-me menos saber se vou ou não ser presidente, o que parece improvável a muitos amigos, mas não aos inimigos, do que saber se ainda estarei em condições de ser o que um Presidente, no meu entendimento, deve ser". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 81). PRESIDENTES DERRUBADOS – “Neste caso reconheça-se que nunca os derrubei sozinhos. Foram meus cúmplices as três corporações militares, numerosos cidadãos pacatos e provectos beneficiários dessas derrubadas. Fiquei só com a fama e sem sequer o respeito, quanto mais o proveito”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, sem data, página 33/34). PROBLEMAS PESSOAIS – “Minha aflição é real, minha preocupação é sincera. Vossa Excelência é testemunha do meu desinteresse pessoal, da sinceridade dos meus propósitos, que nem os meus adversários negaram; mesmo porque não tenho com quem quer que seja, problema pessoal acima do interesse público. Talvez seja isto o que chamam de minha incoerência, pois um carreirista[5] nunca poderá entender esse modo de encarar tais assuntos”. (2a carta ao Presidente Castelo Branco em “Brasil entre a Verdade e a Mentira”, edição Bloch de 1965, página 82). PROFECIA – “A Revolução por esse caminho vai ser derrotada. O resultado inexorável do erro que comete será ditadura militar com ou sem o Marechal Castelo Branco, ou, se este resistir conosco e ninguém quiser lhe tomar o posto, será afinal a entrega do poder, de volta, aos que foram mal derrubados e deixaram plantada no Governo da Revolução, a semente da restauração contra ela”. (Carta ao deputado Herbert Levy em “Brasil entre a Verdade e a Mentira”, edição Bloch, 1965, página 104). PROFECIAS – “O povo americano começa a perceber que se não mudarem os fundamentos de sua política, advertência em 1821pelo seu estadista John Quincy Adams ganhará corpo: “os Estados Unidos mudaram insensivelmente da liberdade para a força ... Podem tornarem-se o ditador do mundo, mas não serão mais senhores do seu próprio espírito”. Por isto querem desobrigar-se, desengajar-se um pouco”. (“Em vez ...”, página 212). PROFESSORES - "Ora, é preciso que leigos, isto é, os que não universitários, se habituem com esta idéia: o professor é um investimento, a educação não é despesa, a educação é o mais sério e o mais importante investimento econômico que se faz para o desenvolvimento nacional. Não há outro melhor. Não adianta comprar máquinas se não ensinarmos os nossos trabalhadores a usá-las. Não adiante fabricar materiais de construção, se não tivermos arquitetos para planejá-la. Este investimento no desenvolvimento se faz pela Escola e sobretudo pela Universidade, ou é inútil fazê-lo em qualquer outro setor". ("Palavras e Ação", edição da Distribuidora Record, 1966, página 89). PROGRESSO – “Mas há um salto que aprendi com a solidão. O pulo do gato selvagem: a coragem de rever os erros, a audácia ou temeridade de pular da idéia preconcebida. Entendi que o progresso no Brasil é, em si mesmo, uma revolução. É a única revolução útil, a única possível, a única que não precisa sacrificar a liberdade e pode servir-se dela para servir a ela. O progresso, o desenvolvimento, como queiram salvar esse impulso, essa exigência, esse desafio, é o que ainda me prende a tudo isto e me conserva, cada vez mais livre numa prisão cada dia mais estreita. Pois ainda e sempre, o desafio me atrai. E com ele renasço, de tantas mortes reais e imaginárias, de tantos desmaios aparentes, de tantos erros que depois as pessoas vêem que eram acertos e tantas que pareciam certas e, foi-se ver, não eram. (“Critica e Autocrítica”, edição 1966, Nova Fronteira, página 37). PROTESTO I - “Não pactuar com o erro a pretexto de que assim se lhe atenua o efeito deletério, é um ato de defesa que exige mais contenção, mais coerência, do que o simples protesto ocasional, sem conseqüência, logo extinto e logo desfeito por inconseqüente, fácil de abafar e mais fácil de ser esquecido. Enquanto existe uma voz que não compactua, o coro desafina”. (“Em vez ...”, editora Nova Fronteira, 2a edição de 1966, páginas 13/14). PROTESTO II - “Na minha vida de aprendiz de tantas coisas já me ocorrera resistir de mil modos diferentes. Faltava-me conhecer essa modalidade rara e muito difícil de ser exercida. A resistência exercida pelo simples ato de existir. Existo, logo penso. Enquanto houver quem seja capaz de pensar, nem tudo estará perdido ao acabar a corda que move os engonços, o enguiços, as geringonças, as construções abstratas e obstrusas de modelos sociais dos quais se ausenta o fator essencial e que lhe dá sentido, que é o fator político”. (“Em vez ...”, editora Nova Fronteira, 2a edição, 1966, página 14). PROTESTO III – “Em muitos países, em muitas circunstâncias, sobreviver é uma forma de protesto; existir já é, por si só, um modo de dar testemunho. E dar sinal de existência por sinais sem significado aparente, por palavras e assuntos que nada tem a ver com da nossa principal preocupação, é um modo viril de não desaparecer na condescendência, nem se deixar destruir na fácil exasperação de um só gesto, de um só grito, um só momento”. (“Em vez...”, 2a edição de 1975 da Nova Fronteira, página 14). PROTOCOLO DOS SÁBIOS DO SIÃO - " Em 1877, 17 de julho, um francês chamado Maurice Jolly deu um tiro na cabeça. Deixou um livro obscuro, do qual não se teve mais notícia senão quando foi aproveitado para uma famosa falsificação, o Pretenso Protocolo dos Sábios de Sião. Bem mais tarde, graças a um exemplar descoberto em Constantinopla, verificou-se que o tal Protocolo era um reles plágio usado contra os judeus, do livro de Maurice Jolly. Finalmente, em 1948, esse livro foi reeditado. Chama-se Diálogo nos Infernos entre Maquiavel e Montesquieu". ("O Cão Negro", ed/Nova Fronteira/1971, página 67). PSD – “enquanto o PSD (Partido Socialista Brasileiro) foi – depois do Partido Radical da Argentina – uma das duas únicas escolas políticas da América Latina, no qual se formaram todos esses políticos que o Brasil tem tido”. Entrevista à revista “Veja” de 8 de Maio de 1974). PSICANÁLISE I - "Chamava-se "Saldanha da Gama" quando embarquei em 1937... A embarcação veio pelo rio tortuoso, que há cem anos era navegável, hoje intransitável, o fabuloso rio de ouro, de lendas e cantigas que de Sabará despencaram. Veio servir abaixo e acima no São Francisco, ora caudaloso ora repleto de bancos de areia entre os quais, hoje, a custo um batelão navega. Assim a psicanálise. É como um barco valente que desce a torturada torrente, navega para baixo e para cima num rio contraditório no qual serve, prisioneiro, limitado a montante pelas corredeiras e a jusante pela catarata. Um dia, vencidos os obstáculos naturais, o barco do dr. Freud, aperfeiçoado pelo dr. Jung, que tinha visão oceânica, enquanto o dr. Freud era lacustre, chegará ao mar . Então conhecerá a amplidão. Poderá realizar a grande viagem apenas começada, às infinitas paragens da mente humana". ( "O Cão Negro”, 2a ed/Nova Fronteira/1971, página 48/49). REALISTAS – “Pertenço à imensa corrente dos idealistas-realistas, isto é, dos que procuram ser fiel a um ideal, mas reconhecem que ele nunca será atingido. E, portanto, devem lutar para realizá-lo até o limite do possível, como se fosse possível realizá-lo inteiramente. Pois “só quem tenta o impossível consegue o necessário”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, sem data, página 30). REFINARIAS - "Os Soares Sampaio são pessoas encantadoras, como são os Aranha. Não lhes tenho qualquer rancor e deploro que, ao contrário daqueles, estes conservem contra mim uma espécie de ódio de família. Mas continuo a considerar que foi um escândalo do Governo Dutra a entrega do privilégio de dar refinarias - o melhor negócio do mundo - a dois grupos privados, unicamente; entendo que elas devem ser nacionalizadas, como todo o negócio de petróleo. Pois não vejo razão para dar em concessão, a dois grupos, um negócio desse vulto, que não comporta concorrência legítima nem pode chamar de iniciativa privada. Pois não existe possibilidade de outro grupo independente montar novas refinarias no país. Um dos últimos atos do Governo Goulart foi nacionalizar as refinarias em mãos desses grupos. Um dos primeiros atos do governo revolucionário de 1964 foi devolver-lhes as refinarias. Em nome de uma iniciativa privada que, na verdade, não existe, e constitui privilégio odioso". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho, p. 140). REGIME DEMOCRÁTICO – “Pois, desde que não se inventou regime melhor do que aquele que depende a participação decisiva do povo, quando menos o povo decide, menos aprende a decidir. Além do que, é preciso que se diga muitas vezes, o povo decide contra a opinião dos que se julgam sabedores, mas de acordo com o seu instinto, não direi divinatório, porém mais realista do que pensam os que se julgam talhados para conduzi-lo”. (“Em Vez ...”, 2a edição da Nova Fronteira em 1975, página 35). REGULAMENTOS - “Se há coisa de que tenho medo é do regulamento especioso e da convenção casuística. Medo, é pouco dizer. Tenho horror, porque é uma das fontes da desgraça de homens e de nações. Compreendo o intuito de conciliar posições que com o tempo se foram extremando, mas não considero extrema uma posição que está concorde com a lei e com o senso comum. E só com este devemos ter compromisso e àquela devemos obediência.”. (“Em vez”, Nova Fronteira, 2a edição de 1976, página 99). RENÚNCIA - "A singular força oculta que levou Jânio Quadros à renúncia existe. Chama-se Jânio Quadros. E foi um grande serviço que ele prestou ao Brasil. Pois, se não houvesse renunciado, seria ditador. Imaginem um Castelo Branco popular - e terão o que seria a ditadura Jânio. O Brasil ficou a dever, ao cidadão Jânio Quadros, a renúncia do Presidente Jânio Quadros. O mal não foi ter saído o Presidente. Foi que, com tal saída, desbaratou a esperança do povo, desperdiçou o seu entusiasmo, preparou-o, pelo desalento e a descrença, aceitar todas as humilhações, desde a crise convulsiva do regime Goulart até a vergonha, a humilhação nacional do regime Castelo Branco, que continua nessa imputação de que o Brasil foi vítima, privado que foi do direito de escolher o seu governo". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 290). REPÚBLICA – “De posse do Poder, os Militares em 1889, desvencilharam-se dos civis, da propaganda e acabaram por se atirar nos braços dos derradeiros estadistas do Império, com os quais foi montada a máquina da oligarquia política, mantenedora e beneficiária de uma estrutura econômica e social atrasada, sobre um vasto fundo de ignorância e rotina. (“Em vez ...”, 2a edição Nova Fronteira, 1975, página 29). RESERVAS MORAIS –“Ao chegar no Rio, reuni em casa alguns campeões da reserva moral (*),senhores formidáveis, que não se expõem, de modo que nunca chegam a gastar o crédito que acumulam com as suas virtuosas omissões. Não quero ser injusto e reconheço o grande mérito deles na solução de algumas crises. Continuo a lhes querer um grande bem, pessoalmente, e são todos excelentes consultores jurídicos. Estadistas, não”. (“Rosas e Pedras do meu Caminho”, co-edição 2001, página 284) REVISTA ACADÊMICA - "Pouco tempo depois, houve uma racha no "Dom Casmurro" e Lacerda, seu primo Moacyr e Murilo Miranda montaram a concorrente "Revista Acadêmica", com Rubem Braga, Lúcio Rangel e Arnaldo Pedroso. O quadrilátero formado entre a Cinelândia e a rua do Ouvidor converteu-se no ponto chique da inteligência carioca: numa esquina ficava a redação do Dom Casmurro. Na outra a Revista Acadêmica. Entre as duas repousava a editora José Olympio, a mais prestigiada de então”, escreveu Fernando Morais. (Suplemento de Fim de Semana do jornal Valor de 14 de setembro de 2003). REVOLTA DO FORTE 1922 - "A revolta do forte, que na ocasião passou como um episódio a mais, na longa história dos golpes e intentonas, mudou o rumo do Brasil. Acirrou-se, por um lado, a reação da oligarquia que o domina. Aperfeiçoaram-se os processos de controle policial, de domínio político, de sufocação econômica pelo processo de encolhimento do Brasil, ultimamente tão bem sucedido. Deu-se ênfase ao complementar, que é a moralização dos costumes políticos, etc., menosprezou-se o principal, que é a consolidação nacional no plano cultural e econômico. Mas a semente do protesto germinou. Nunca mais Brasil se conformou, por muito tempo, com continuidade da inércia e o êxito da mediocridade". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", 2001, página 105). REVOLUÇÃO CAPITALISTA - "O que se há hoje no Brasil, é uma revolução capitalista. (...) O povo tem ânsia de se afirmar, de ser identificado, de deixar de ser uma legião de anônimos. O povo quer crescer, os jovens têm pressa de intervir, de participar. Há, isto sim, um desejo imenso de participação. E um grave sentimento de urgência, porque todos sentem, uns mais, outros menos claramente, todos percebem que este é o tempo de preparar o país para o grande salto sobre o seu atraso: agora ou dificilmente depois, quando o Brasil atopetado de gente de baixa produtividade, tiver multidões famintas e uma elite despreparada para governá-lo". (“Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, 1966, página 182/183 e em "Idéias sim, ideologia, não", em Manchete n. 607 de 7 de dezembro de 1963, página 115). REVOLUÇÃO DE 1964 – “Não tenhamos medo de palavras. O que se fez foi uma traição ao Brasil, fechando um Congresso cujos imensos defeitos não memores do os do próprio Exército. Você bem sabe com que transigências e acomodações se conseguiu organizar o quadro militar de direção da Revolução de março. Conheço a opinião de cada um sobre cada qual. E você também a conhece. Não me parece que você seja capaz de dizer que o movimento militar foi feito com santos varões e homens puros, imaculados. Mas esse Congresso, assim constituído, com defeitos não maiores do que as outras instituições, é o mesmo que elegeu o Marechal Castelo Branco e lhe prorrogou o mandato - favor espúrio que ele aceitou simulando constrangimento – quando nada o obrigava a aceitar senão os compromissos com os grupos que controlam o seu governo. É o Congresso que acabou de escolher, por indicação de vocês, outro chefe para substituir aquele nos traiu a todos, um por um”. (“Carta a um Amigo Soldado em Critica e Autocrítica”, edição 1966, Nova Fronteira, página 47/48). REVOLUÇÃO DE 64 I – “O Brasil está se atrasando de muitos anos nestes poucos anos. E você é um dos responsáveis. Eu também. Mas eu protesto. Aceito o risco do protesto. E você ? Que pretexto paralisa a sua consciência?”. (“Carta a um Amigo Fardado”, editora Nova Fronteira, sem data, página 51). REVOLUÇÃO DE 64 II - "A revolução de 64 destruiu-se a si mesma, na medida em que os seus aproveitadores consolidaram o domínio das oligarquias, afastaram o povo do processo político na eleição mais corrompida e mais coagida de que se tem notícia e reconstituíram - fazendo o país retroceder 30 anos na história de sua penosa e dolorosa evolução política - reconstituíram o domínio da crosta reacionária, arrogante com os pobres e subserviente ao poderio dos grupos econômicos americanos". (*) REVOLUÇÃO DE 64 III - "não quero pactuar com a ditadura mofina, feita de renegassões e de vilanias. Não quero ter nenhuma participação na revolta nacional contra a revolução, mais tarde ou mais cedo responsabilizada pelo 1º de abril em que se transformou". (“Que todos saibam", artigo escrito na Jornal da Tarde de 19.01.66 quando, instado pelos Mesquitas e reproduzida no Jornal da Tarde de 23.05.77, pagina 16). REVOLUÇÃO de 64 IV - Economia I - "A política econômica do Governo revolucionário chegou à perfeição - mata os ricos de raiva e os pobres de fome". (apude Roberto Campos, “Lanterna de Popa”, pagina ....... ). REVOLUÇÃO de 64 V – “Acho graça de ver falar em “revolução” como se esse troço existisse, essa cômica impostura que até agora só serviu para projetar ainda mais alguns defeitos fundamentais da estrutura nacional. E a necessidade de acabar com as brigas secundárias para concentrar-se na principal: salvar o Brasil dos seus inimigos: a ignorância, a miséria, a frustração, geradores de revolta, mas não de revolução, fomentadoras de tutelas e ditaduras, não da liberdade conscientemente exercida”. (“Critica e Autocrítica”, edição 1966, página 37). REVOLUÇÃO de 64 VI – “Pois bem, num mundo assim, num instante da história como esse, você é chamado para a guarda pretoriana para um César babaquara. O infeliz tiranete retardado vem editar no Brasil os modelos que só se encontram nas mais atrasadas e convulsionadas regiões do mundo. O poder pessoal humilha o Brasil e o corrompe, o coage, o emudece e desmoraliza, nas mais vergonhosa página de sua história, esta que por omissão você está ajudando a escrever”. (“Carta a um Amigo Soldado em Critica e Autocrítica”, edição 1966, Nova Fronteira, página 45). REVOLUÇÃO de 64 VIII - "Entre os nossos melhores amigos militares, com raras exceções, ainda havia muitas ilusões. Alguns tentavam neutralizar o que chamavam "as intrigas", na realidade muito mais graves do que isso, pois não eram intrigas, eram um propósito deliberado e frio de destruição de todas as lideranças populares autênticas, para impor ao Brasil uma tutela pela força, capaz de garantir a política de atraso, de submissão e de reacionarismo alvar, pela qual se prepara, como contrapartida inevitável, agora sim, a subversão completa e revolucionária, se não houver uma revisão dos erros cometidos por todos, em todo os lados, e uma decidida e ampla união para a reconquista da liberdade, da independência e do progresso que foram sufocados". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", edição UnB-Fundamar, em 2001, página 180). REVOLUÇÃO DE MARÇO DE 1964 - "Tudo isso começou há muito tempo, na madrugada de 5 de agosto de 1954, na rua Toneleros. Ali começou uma verdadeira revolução. É por isto que ninguém pode me silenciar. É por isto que tenho autoridade para dizer que, de tantos sacrifícios, há que aproveitar a lição, com grandeza, com inteligência e dedicação. É impossível nos limites de algumas páginas o relato de um episóodio que tem origem muito antes e se projeta muito anos adiante. Nem o simples relato seria possível, tantas retificações tenho a fazer a versões facciosas, a acusações sem fundamento, a interpretações funambulescas. O que interessa no relato sumário de 1954, no atentado da Toneleros, no suicídio de Vargas, é mostrar que de tantos sacrifícios, de parte a parte, têm que resultar algo útil para o povo. Não pode ser demagogia e nem saudosismos. Não pode tudo isto tratar-se de um encontro de contas de ódio e o ressentimento. Se alguma coisa pode tudo isto deixar de útil‚ na lição de compreensão, de união, de esforço conjugado para libertar o povo brasileiro da ignorância e da miséria. É ensinar-nos a ensiná-lo a identificar, sob os nomes que os jornais publicam, os interesses que sob tais nomes se escondem, e que movem tantos acontecimentos e comandam tantas omissões”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho” , páginas 257/258)”. REVOLUÇÃO FALSA DE 1964 - "Pois os revolucionários do exército não agiam, à espera de acontecimentos. Fixaram metas para o limite do suportável. Na realidade, só agiram quando os conselheiros do Presidente Goulart cometeram a imprudência fatal de levar a desordem para dentro dos navios e dos quartéis. Foi quando se sentiram diretamente ameaçados que os líderes do muro concordaram em secundar, com a condição de chefiá-los, os bravos mas pouco resistentes, os que há longos anos sofriam, na Aeronáutica, no Exército e na Marinha, todas as provocações todas as ansiedades. O preço dessa liderança dos que nunca foram revolucionários e só se decidiram para ocupar o poder, privando o povo de votar, foi a derrota da revolução no próprio dia de sua vitória". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", páginas 181/182). REVOLUÇÃO FARROUPILHA - "Por exemplo, a Revolução Farroupilha nunca foi uma revolução separatista como o Império apresentou e como Caxias quis apresentar; ao contrário, foi uma revolução de união com o Brasil, foi uma revolução republicana, antimonárquica, mas nunca separatista. Mas como foi apresentada durante muitos anos pelos historiadores oficiais do Império como uma tentativa separatista, depois de seu fracasso instaurou-se no Rio Grande - enquistou-se o Rio Grande - uma espécie de quisto positivista". ("Depoimento", editora Nova Fronteira, 1977, pagina 111). REVOLUÇÕES I – “Mobilização psicossocial do povo brasileiro, por todas as suas camadas, para a obra revolucionária da recuperação nacional, que só pode ser obra do Governo e Povo unidos. Todas as revoluções malogradas, ao longo da História, começaram a perder-se no instante em que o povo começou a perder a fé em seus objetivos e em seus instrumentos. E desmerece a fé coletiva uma Revolução, cujos instrumentos, aos olhos do povo, conjugam-se para empobrecê-lo”. (“Brasil entre a Verdade e a Mentira”, editora Bloch de 1966, página 66). REVOLUÇÕES II - “Tudo porque, afinal, em vez de abraçar a causa do povo, as revoluções que chegam ao poder confraternizam com os mesmos serviçais que destruíram os regimes a que serviram. Marginalizam-se as camadas mais influentes e decisivas da população, entronizam-se os pelegos de luxo em formações artificiosas, que têm o vago ar de estar vivas, mas são mortos sem sepultura. Disser-ia que as revoluções quando vencem fazem da sobrevivência das oligarquias um ponto de honra. Mesmo com os sacrifícios que assumiram com a liberdade.” (“Em Vez ...”, 2a edição da Nova Fronteira, em 1975, páginas 41-42). RIO PARAÍBA, O “O QUILOMBO DE MANUEL CONGO” – Novela/Histórica 1934 - Reeditado pela Editora Lacerda em 1998.(*) RIQUEZA – “Só falta pedir desculpas por ganhar e gastar e aplicar dinheiro. Tirante o capítulo de aplicações o dinheiro ganho por Roberto Carlos merece uma interpretação. Defende-se o capital, mas se persegue o lucro, por todas as sortes de coações, inclusive morais. Então viva o comunismo, pó! Porque não? Ao menos fuzila os burocratas incapazes, os técnicos improvisados: e os ambiciosos mal sucedidos. Há quem se escandalize com o que ganha um artista e compare com o que conseguem uns sujeitos muito esforçados. Mas a verdade é que o artista é indispensável e o que ele ganha só consegue quando se tornar indispensável para muita gente. Cada qual paga um pouco. É como um loteria”. (Entrevista com o cantor Roberto Carlos em “Em vez”, editora Nova Fronteira, 2a edição de 1976, página 157). ROMEU E JULIETA NO CINEMA - "Receio, afinal, ter sido vítima de uma ilusão. Quem sabe não é nada disso, é uma bela história de amor mais uma vez levada à cena, a história dos meninos de Verona e suas solenes famílias, apostadas em rivalidade para saber quem manda mais, quem mete mais medo a quem. Mas, penso que não. Penso que o meu coração tão provado, não me enganou ao comparar a tragédia de Verona, nessa nova apresentação, com a tragédia da juventude do nosso tempo, ansiosa de amor e transformada em labareda de ódio, ateando fogo aos paixões do egoísmo e da estupidez que alimentam o ócio daqueles arrogantes que têm, na mão, a precária força, com a qual terminarão destruindo seus próprios filhos, por medo de que seus filhos destruam essa apatia, essa pétrea estultice, esse mausoléu em que deitam para apodrecer em paz, intumescidos de orgulho, logo murchos de ansiedade e depois, múmias, múmias, múmias" ( " O Cão Negro", edição 1971, páginas 32/33). RUI BARBOSA I – “Rui teve a intuição genial do sopro de progresso que poderia ter feito o Brasil dar um saldo na história, enquanto o Joaquim Murtinho, no governo Campos Salles, aplicou a política que, no afã de liquidar os “excessos do encilhamento”, por timidez acadêmica, reduziu muito o desenvolvimento nos primeiros anos deste século, a alguns investimentos muito aquém de nossas possibilidades e necessidades”. (Brasil entre a Verdade a Mentira”, editora Bloch, página 29/30 e em Cláudio Lacerda de Paiva, “Carlos Lacerda – 10 anos depois”, edição Nova Fronteira, 1987, página 108). RUI BARBOSA II – “No segundo decênio desse século, num Brasil que perdeu o pulo da passagem do século XIX para o XX, surge como expressão da oligarquia dominante, a candidatura do Marechal Hermes da Fonseca; como reação liberal e progressista, a desse grande rejeitado que o Brasil tanto usou quanto desperdiçou, Rui Barbosa. ... A Rui ficou-se devendo o serviço de criar, por assim dizer, uma opinião pública atuante. Através de estados de sítio e habeas-corpus, peregrinações cívicas, palmas e perigos, ele começou a mobilizar a consciência coletiva. E se o acusam de tê-la inventado, ainda é maior o seu mérito. Pois o homenzinho valeu, sozinho por toda uma comunidade impossibilitada para o uso da razão”. (“Em vez ...”, editora Nova Fronteira, 1975, página 30). RÚSSIA SOVIÉTICA – “E o próprio desenvolvimento tecnológico da Rússia obrigará os seus dirigentes a ceder aos impulsos da liberdade que ali começam a surgir. Os que estão sob o jugo comunista se revoltarão quando sentirem que nós barramos o caminho da expansão do comunismo no Mundo. A dinâmica dos regimes totalitário não lhes permite parar nas suas conquistas”. (“Uma Rosa é uma Rosa é Uma Rosa”, 2a ed/Record/1966, página 65). RUY BARBOSA- “O povo não participava do processo, senão como figura de retórica. A Ruy ficou-se devendo o serviço de criar, por assim dizer, uma opinião pública atuante. Através de estados de sitio e hábeas corpus, de peregrinações cívicas, palmas e perigos, ele começou a mobilizar a consciência coletiva. E se o acusam de tê-la inventado, ainda é maior o seu mérito. Pois o homenzinho valeu, sozinho, por toda uma comunidade incapacitada para o uso da razão". (“Em vez ...”, editora Nova Fronteira, 2a edição, página 30). SABER - "Gosto de saber o essencial de tudo. Os pormenores deixo aos outros". (Manchete de 18.07.77 p. 54). SALAZAR - “O que quero dizer é que a liberdade para o senhor é um bem secundário. Para os brasileiros a liberdade é um bem necessário. Para nós a idéia de liberdade é mais importante do que a de riqueza. O senhor (Salazar (***)) leva a lógica até as suas extremas conseqüências. E o Brasil é um País de teses, antíteses e sínteses”. (“Depoimento”, Nova Fronteira, 1977, página 315). SAMUEL WAINER - " À frente dessa imprensa própria um repórter que conhecera Vargas quando os Diários Associados o mandaram a São Borja acompanhar a volta do ex-ditador. Esse repórter, ignorante, mas improvisador e talentoso, com a bossa do jornalismo de sensação, foi o mesmo que em 1938 deu um jeito de manter uma revista, Diretrizes, a serviço do Partido Comunista e custeada com uma subvenção da Light & Power. E, sendo judeu, foi subvencionado pela embaixada alemã durante a guerra de Hitler, para defender a tese de que o Brasil devia ser neutro, isto é, indiferente à agressão nazista. Agora, fundava um jornal e recebia de presente uma estação de rádio, com dinheiro do Banco do Brasil e do Conde Francisco Matarazzo, que foi levado a contribuir por intermédio de Lutero Vargas". ("Rosas e Pedras do meu Caminho", página 236). SER HUMANO – “Doar-se à humanidade, está bem. Viver para o outro, está ótimo. Contanto que o outrem não nos diga exatamente como, sob que condições e nos deixe ao menos fazer a doação sem perder a marca. Cada pessoa é uma pessoa; e sem isto a vida se torna exasperadoramente monótona. Ela pode ser desagradável, mas monótona, nunca. É um sacrilégio monotonizar a vida que foi feita enumerável, repleta de surpresas, tantas que nunca chegamos a conhecê-las todas. No dia da morte a única frase que tem cabimento é: “Já”? (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, 1966, página 22). SOBERANIA – “A moeda é uma afirmação de soberania. Não pode, pois, desmoralizar a moeda o país que se pretende soberano. Daí, porém, não se segue que a moeda seja o único símbolo da soberania nacional. O que garantia tal soberania é a decisão do povo, tendo a seu serviço a unidade das forças armadas. Estas não estarão sempre unidas se o povo estiver contra ela - o que equivale dizer contra si mesmo. As forças armadas jogaram o seu destino na Revolução, vale dizer, o da soberania do Brasil e o da liberdade do seu povo. É isto que é importante, não a demonstração de uma tese acadêmica acerca das vantagens do monetarismo sobre o estruturalismo”. (“Brasil entre a Verdade e a Mentira”, carta ao Presidente Castelo Banco , editora Bloch, 1965, páginas 54/55). SOBRAL PINTO - "Esta cena me bateu de chofre, quando Sobral Pinto entrou no Palácio Guanabara, no de Primeiro de Abril de 1964, na hora em que parecia que eu havia vencido uma revolução. Deu-me um abraço emocionado e, bem junto ao ouvido, me segredou: ‘Seja generoso na vitória”. Não importa que a vitória não tenha sido minha, nem que a generosidade tenha sido material escasso depois. Na mesquinharia triunfante, pude recordar - a lição que recebi. Não quero ser hábil. Quero ser assim". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 145). SOCIALISMO DO SÉCULO XX - “Sobre os pessimistas em geral há todo um ensaio a escrever. Os maiores pessimistas de nosso tempo são os descendentes dos otimistas sistemáticos que dominaram o começo do século XX. Como a sua utopia foi para o brejo, negam-nos o direito de um equilíbrio razoável entre o paraíso que não alcançaram e a catástrofe que prevêem. Como o socialismo não resolveu o problema de uma vida melhor, negam a viabilidade ao esforço de estender a maior numero de pessoas a melhoria que se verifica na qualidade de vida”, (“Em vez ...”, editora Nova Fronteira, 1976, 2a edição, página 176). SOLIDÃO I – “Devia haver aulas sobre a solidão para ensinar aos homens a reservar horas de meditação, como fazem os verdadeiros religiosos. Não confundir horas de solidão com esse dobrar-se sobre si mesmo, esse bastar-se a si mesmo, que é um vício de espírito. Tal vício vejo-o praticado pelos narcisistas, cujo lago são os outros, pelos egoístas, que tanto maior seja o auditório mais falam somente para si mesmos; os que cuidam da sua biografia”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, página 21). SOLIDÃO II - "Sei o que é uma pessoa sentir-se sozinha no meio da multidão. Sei o que é precisar de amparo e da consolação. Não consola a angústia humana saber que há países desenvolvidos, outros em desenvolvimento e outros subdesenvolvidos, porque em se tratando, é preciso, portanto, etc. etc. Isto sabemos, temos de cuidar disto, estamos cuidando disto, o Papa faz muito bem de lembrar. Mas a angústia também existe e não respeita o Produto Nacional Bruto, nem a Renda Anual per capita. A angústia não é um sentimento reacionário, a busca de Deus pela sua criatura não é uma aspiração capitalista ou socialista, é uma aventura perigosa e arriscada, na qual o que menos se arrisca é a danação e ao que mais se pode espirar não é nada do que se pode aspirar neste mundo. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 186). SUBDESENVOLVIMENTO I – “Sustentei e sustento que o Brasil tem que dar uma salto sobre o seu próprio atraso para se por ao lado das Nações adiantadas. Isto que se chama como uma generalizadora e perigosa “média” subdesenvolvimento do Brasil, é, apenas, meia verdade. Na prática o que existe não é um Brasil, são vários Brasis, cada qual com uma realidade diferente. Vamos do atraso total ao desenvolvimento pujante”. (“O Poder das Idéias”, edição da Distribuidora Record,1962, página 153). SUBDESENVOLVIMENTO II – “O Brasil não é um país subdesenvolvido; isto é uma ladainha falsa e demagógica. O Brasil é uma país desigualmente desenvolvido, onde as pessoas começam a compreender que têm direito aos benefícios da civilização e da técnica. Há uma revolução no Brasil, que já começou – e que não é uma revolução social, é a revolução da tecnologia. É esta revolução que estamos fazendo, começamos a ser um povo de consumidores; o trabalhadores começam a ter uma consciência, digamos, de classe média, e começam a ser consumidores.” (Resposta a um repórter na entrevista tumultuada no Aeroporto de Vichy, França, em 24 de ABRIL DE 1964). SUICÍDIO DE VARGAS - "Na realidade o suicídio foi um meio desesperado pelo qual Getúlio Vargas procurou libertar-se dos erros e do grupo que o cercou, impedindo-o de compreender as nossas duras, mas úteis advertências. À sua volta conspirava-se, roubava-se, pilhava-se o Brasil. Quando desses erros e crimes passou-se ao assassinato, tudo que havia nele de bom e digno reagiu contra o aviltamento, a ignomínia a que o haviam rebaixado. De acordo com antecedentes pessoais, ele recorreu ao suicídio como uma forma de protesto e resgate" . (“Rosas e Pedras”, página 249). SUPÉRFLUO – “Pelo necessário, o homem é capaz de matar. Pelo supérfluo, é capaz de morrer. Creio firmemente, por exemplo, que o homem seja capaz de matar em defesa de certas liberdades. Mas só é verdadeiramente capaz de morrer em defesa de outras, como a de não ser nem célebre, nem grandioso, nem super-homem”, (“Uma Rosa é Uma Rosa é uma Rosa”, Editora Distribuidora Record, 2a edição de 1966, páginas 18/19). TÁVORA - 1930 - "Numa tarde, ameaçando tempestade chegou do Nordeste, um daqueles aviões que pareciam feitos de lata de biscoito, o vencedor daquela região, Juarez Távora, aureolado pela marcha legendária da Coluna Preste. Fui vê-lo chegar ao Palácio do Catete, sob um céu de chumbo e faíscas de meter medo, como numa peça de teatro. Depois, em casa de seu sogro e tio, o tabelião Belizário Távora, apertei a sua mão e conheci a sua noiva, dona Nair. Pareceu-me enorme, pernalta, o belo rosto de ídolo pré-colombiano talhado em pedra dura, um lenço vermelho na gola do comprido dólmã cáqui, descendo até o seus magros joelhos. O Tenente-Coronel Pedro Aurélio de Góis Monteiro estava parado com s as tropas na fronteira do Paraná, com Getúlio Vargas fardado. Assis Chateaubriand fardado, Pedro Ernesto na frente mineira, fardado, todo mundo fardado, todo mundo chegando para tomar conta do poder". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, páginas 145/145), TÉCNICOS - "Mas creio que tenho a tendência, há quem não se canse de lembrar, de mudar do assunto sem sair do tema. É um excesso de interesse por tudo, uma curiosidade insaciável. Assim aprendi a tratar os especialistas e os técnicos, sem nem uma coisa nem outra. Meu trabalho consiste em entendê-los com relativa facilidade, de modo saber quando estão certos, ou não, no que fazem ou propõem. Desconfiar dos medalhões, que são primos dos charlatães; ainda prefiro estes últimos, ao menos são mais divertidos. Gosto de saber o que é essencial em tudo. Os pormenores deixo para os outros. É preciso deixar algumas coisas para os outros... O segredo de fazer muita coisa não é entender de tudo, é se interessar pela razão de ser de cada coisa. E aprender a mais necessária das técnicas que é pensar. Não a conheço bem, mas francamente, pelo que tenho visto, até que sou um técnico bem razoável”. "Rosas e Pedras do Meu Caminho”, página 94). TECNOLOGIA I – “A revolução tecnológica tornou anacrônica a revolução social. Há mais transformação social nos Estados Unidos , com a tecnologia que acelera o progresso social numa democracia do que na Rússia, onde o progresso tecnológico se limita à defesa do regime. (“Palavras e Ação”, editora Distribuidora Record, 1966, página 190). TECNOLOGIA II – “O governo dos países em desenvolvimento deve encarar a expansão da ciência e da tecnologia com o principal objetivo de sua política nacional e tornar próprias as provisões de fundos e oportunidades para atingir esse objetivo. No ensino Secundário e Superior deve ser adotado programa tendo em vista o estabelecimento de um corpo de trabalhadores científicos e de peritos em técnica de desenvolvimento”. (“Conferência, “A Reforma Universitária”, “Palavras e Ação”, edição da Distribuidora Record, 1966) página 83). TENENTISMO – “Freqüentemente quando se fala em 5 de julho, comete-se o erro de mencionar apenas os personagens do drama militar, isto é, da luta armada. Esta não teria havido sem a tomada de consciência, a formação de uma opinião pública e a sua mobilização, inconformada e rebelde; pela ânsia de renovação, talvez confusa e contraditória – o tenentismo com suas ulteriores correntes e tendências, do comunismo ao fascismo, viria demonstrá-lo – que no seu seio provocaram os lideres civis, os pregadores, os percussores. Ao qual é preciso restituir o seu sentido profundo, os agitadores”. (“Em vez ... , 2a edição de 1975 pela Nova Fronteira, página 34). TERRITÓRIO HUMANO DEMARCADO - "Cada pessoa, como cada pássaro, tem um território delimitado, embora pareça que não, somente porque pode expandir-se, voar. Ai dos que ultrapassam o território que lhes foi demarcado! Toda vez que saio dos limites que me pareciam traçados, busco apenas saber se foi mera ambição, vaidade esporeada ou se foi impulso de justiça e proclamação da verdade que busquei; e neste caso, o meu ponto de referência‚ aquele velho (o avô) que tão cedo me deu e tão cedo me faltou, o que tão cedo tanta falta me fez. Nos três momentos de maior desamparo da minha vida, quando dormi a primeira vez no internato, quando voei da embaixada de Cuba para o exílio, quando saí do Palácio do Planalto com a certeza de que o presidente que havia ajudado a eleger estava preparando uma ditadura, e, na sua lembrança, procurei alento". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho", edição 2001, página 67/68), TOLERÂNCIA - “ A liberdade exige humildade na revisão constante das posições (...) A disposição de ser intransigente quantos aos princípios e tolerante quanto às pessoas, sempre que a tolerância não se confunda com a complacência. Amo a convivência. Detesto a promiscuidade. Respeito o povo, não o idolatro”. (Manchete n. 607 de 7 de dezembro de 1963, página 116). TOM JOBIM I – “Na sua idade o moço Tom Jobim não é tão moço que não sabe de quantas decepções está feita a aceitação da vida. “Influências sempre houve e só não as recebe quem está morto”. Mas, suas preocupações não me parece que seja com as criticas às músicas. As músicas continuam, e cada vez melhores. As críticas continuam, e cad vez piores. Acusam-no de americanizar? Os americanos acham que ele tem influência francesa. Os franceses sabem, desde as músicas do Orfeu Negro, que ele é bem brasileiro. O mais brasileiro que pode haver, desde Heitor Villa-Lobos. O que ele não conseguiu esconder foi a sua educação musical. O que ele sabe de harmonia me confunde e, de certo modo me oprime. Músico irrevelado, quando ouço assim de perto alguém fazer o piano falar sinto-me como o cego que precisa alguém para lhe descrever a beleza do céu e do mar – e no entanto sente que o mar e céu são ainda mais belos do que as palavras podem dizer”. (“Em vez ...”, 2a edição Nova Fronteira, 1976, páginas 146/147). TOM JOBIM II – “entretanto Tom Jobim conseguiu o prodígio de ser compositor popular sem ser popular. Sua música é requintada. Sobre o piano quando cheguei à sua casa na Gávea, estava uma partitura de Brahms e L’Après Midi d’un Faune que é aquela desconcertante peça de Debussy que Nijinsky imortalizou num bailado. Pouco depois Tom tocou Brahms; não se pode dizer que tocou mal ainda nos ecos de Nelson Freire que por lá andou. Tiveram a mesma professora, Lucia Branco. E Tom ainda teve Tomaz Teran, Kollreuter, Radamés Gnatalli, Léo Perachi, Alceu Bochino ( será que lhe perdoam o fato de conhecer música?). Foi uma execução hesitante, algo lenta, a que se seguiram alguns ensaios de flauta – pois Tom sai de flauta, também. Tomar um ar garoto para assoprar a flauta”. (“Em vez ...”, edição Nova Fronteira, 2a, 1976, página 134). TRABALHADOR BRASILEIRO - “a capacidade do trabalhador brasileiro de improvisar e de se adaptar às condições de trabalho, a capacidade dos homens de empresa do Brasil foram também demonstradas e eu penso que se tivermos investimentos úteis, aqueles que investem e o país verão um novo prodígio, se assim posso dizer. (GGG) TRABALHADORES – “Temos que dar ao exército de trabalhadores do Brasil possibilidade de aprender a sua profissão, de aumentar a sua produtividade, libertando os trabalhadores da escravidão ou da meia escravidão do salário mínimo a vida a fora. Temos que dar educação a todos os jovens que constituem a metade (1960/1970) da população brasileira”. (Seleção de Luiz Carlos Lisboa, Jornal da Tarde de 03/05/1978). TRABALHO - “se você não acredita no que está fazendo é melhor não fazer nada”. (“Palavras e Ação” discursos da campanha para Governador). TRAIÇÃO – “E a traição é o único titulo de glória a que se pode almejar quando se é vítima, ou de que se pode vangloriar quem a pratica; pois nesta caso paga o prêmio”. (“O Cão Negro”, página 14). TV – “A geração que cresce com os olhos pregados na Televisão, ouvindo a voz de estranhos mais do que a do pai, da mãe ou da professora, tem o direito de esperar que façamos da eletrônica um instrumento de educação e não de cretinização. A TV não é e nem pode ser um meio de alguns senhores ganhar dinheiro, com intervalo lúcidos”. (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 79). UDN I- "Depois na luta contra a ditadura, após a derrota eleitoral em 1945, a imagem que dele conservo - o cigarro no canto da boca, num ar de afetada displicência, riscando num caderninho de armazém, desses usados pelas crianças nas escolas, tudo o que havia vendido de seu para ajudar a campanha do Brigadeiro da UDN, partido de ricos, minado de nascença pelo reacionarismo e o personalismo dos "realistas" que a infestaram e se atiraram contra a ditadura quando esta já não tinha mais nada para lhes dar - a postura de Virgílio (de Mello Franco) é a do romântico precursor, o que enxerga mais longe do que os outros e por isto mesmo os outros não o toleram enquanto não podem evitá-lo, mas livram-se dele com desafogo, e preferem explorar a sua memória, contando que esteja morto, a segui-lo em vida pelo muito que detestam da sua intolerável superioridade". ("O Cão Negro", 2a edição Nova Fronteira, 1971, página 100). UDN II – “Nessa ocasião explodiu como uma espécie de estuário de tudo isso a UDN, que nunca foi um partido. Era muito mais uma posição tomada em face da ditadura, até por pessoas que haviam servido a ela e por outros que sempre mantiveram uma posição contraria. Os udenistas dificilmente poderiam se entender entre si porque falavam uma línguas diferentes. Vinham de origens e caminhavam para fins diversos”. (Páginas Amarelas da revista Veja de 08 de maio de 1974). UNIVERSIDADE GRATUITA - "Chegamos à perfeição de dar ensino gratuito na Universidade, isto é, gratuito maneira de dizer, porque o ensino quando é gratuito é também caro, apenas não o paga o estudante, pagam muitas vezes, os pais que não tem onde por os filhos numa escola primária. Mas chegamos a perfeição de ter universidade gratuita onde não há escolas primárias para todas as crianças... Que significa isto? Significa apenas que a Nação subvenciona rapazes para que eles se formem mal, em profissões que exercem mal, e que para poder ganhar a vida têm que ir para outras profissões, principalmente para o serviço público, depois de um curso universitário. E os professores quando falam em salário integral parecem estar falando um absurdo qualquer...". ("Palavras e Ação”, Distribuidora Editora Record, 1966, página 85). UNIVERSIDADES - "A Universidade se queixa de não ter vagas para os estudantes. Os governos quando chegam querem ser populares, mandam esticar as salas para caber mais estudantes. A questão me parece não ser esta. A questão não é haver estudantes. Enquanto for a produção de crianças a mais florescente atividade nacional, não haverá problema em ter estudantes. A questão é haver onde, como e o que estudar. Estudar para ter o diploma é sintoma de incapacidade. Estudar para saber é que é importante. Precisamos de gente que saiba fazer as coisas, não de gente que tenha papel dizendo que saber fazer algumas coisas e sempre as mesmas”. “Rosas e Pedras", página 60). UTOPIAS – “Os donos da utopia voltam-se para a natureza e os socialistas viram ecologistas. Perdem o ímpeto de pioneiros e vão na retaguarda da humanidade gritando que ela caminha para o abismo. Seu esforço, na medida que não sejam levados a sério, é útil. Seu pessimismo não.” (“Em vez”, editora Nova Fronteira 1976, 2a edição, página 176). VAIDADE I - “Há os que barram, por ascese, todas as vias de desabafo. Ficam, então, reduzidos à vaidade essencial, que é um abismo vertiginoso: o orgulho intelectual. É a pior forma de vaidade, a que se manifesta em estado puro, descarnado. É o pecado em sua essência.” (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, página 18). VAIDADE II - “A vaidade acompanha naturalmente a estupidez, pelo simples motivo de que uma precisa da outra, a ponto de torná-las inseparáveis. Há pessoas inteligentes que por força de se deixarem adular se tornam estúpidas. É mais comum do que se pensa, esse fenômeno. Não quer isto dizer que a inteligência seja incompatível com a vaidade. E há casos, como se dizia em Lisboa ao tempo de Gervásio Lobato, em que o tipo de muito valor não consegue dispensar o reconhecimento público e insiste e é insistente dessa valia. Mas, valor não é sinônimo de inteligência; além disto os casos de degenerescência da vontade, do seu progressivo amolecimento, da emoliente ação da lisonja, não invalidam a regra que se assim se enuncia: a ação da lisonja é tanto mais eficaz quanto maior o potencial de estupidez. A inteligência desconfia da lisonja e acaba por descobri-la. A lisonja se confia da lisonja e acaba por encobri-la. A estupidez se confia à lisonja, com a qual pensa encobrir-se.” (“Em vez...”, 2a edição da Nova Fronteira em 1975, página 16). VENCEDOR E VENCIDO - "Sou dos que preferem estender a mão ao vencido do que curvar a cabeça ao vencedor" (*) VENCEDORES – “Quem sabe têm razão os timoratos, os virtuosos por definição, os esterilizante, os barbitúricos, os chatos, os pomposos, os tartufos, os impostores, pois dão certo, ganham tudo e, afinal, são os que governam. Lá venho eu com zombaria, arma branca de combatentes extenuados. Não, quem tem razão é o que reflete primeiro, quase por intuição. (“Crítica e Autocrítica”, edição 1966, página 38). VERDADE I – “Faz tempo que penso escrever sobre a psicanálise na crise contemporânea. É uma preocupação cíclica, constantemente contornada, sempre adiada na medida que parece pretensioso escrever sobre um tema em que sou hóspede ocasional, quanto tanto dos seus pensionistas silenciam. E mais uma vez, me arriscar a incompreensão e me expor, como uma espécie de São Sebastião leigo e pecador ( e também cassado), às flechas dos inevitáveis ainda que condignos desafetos; tudo o que resta, afinal, a quem se propõe procurar a verdade, e julgando tê-la encontrado se dispõe a sustentá-la a tempo e a contra tempo, afrontando a impostura e, pior, enfrentando a confusão”. (“Em Vez ...”, 2a edição da Nova Fronteira de 1975, página 57). VERDADE II - “Pois a verdade não nos pertence e por isto mesmo temos o dever de procurá-la, e a encontrando, proclamá-la. Nem que seja para retificá-la depois na busca incessante”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, s/d, página 23). VERDADE III - "Pois quem não é dado a enfrentar a verdade e se recusa a recebê-la como um mandato imperativo, não merece o sacrifício do que as procuram e, quando julgam encontrá-la, depois das mais humanas hesitações, vestem-se dela como de uma túnica, tomam-na sobre os ombros como uma cruz, necessária e redentora". ( "O Cão Negro", edição Nova Fronteira,1971, página 18). VERDADE. QUE é a VERDADE ? - "PILATOS representa o mundo limitado e mesquinho. Cristo é a generosa encarnação da eternidade. Pilatos se agarra à vida tanto teme a morte‚ a vida curta e a morte certa. Cristo que morre pelos outros, deixa a todos por herança, a ressurreição. Pilatos é o medo mal disfarçado. Cristo o temor bem assumido. Pilatos é a submissão incondicional. Cristo a obediência esclarecida. Pilatos é hipocrisia, versão humana da egolatria, pela qual o homem se considera Deus. Cristo é a sinceridade e a dedicação, sinônimo terreno da devoção, que é divina"(*) VIDA ETERNA - "Numa palavra, a maior parte dos que aplaudem a posição social e política das últimas encíclicas não acredita em Deus e só acredita no Papa à medida que julga que ele está confirmando a tendência que cada qual tem para acreditar na utopia, em vez de acreditar do que a muitos parece tão difícil, e é bem fácil de crer na vida eterna. Pois é mais fácil acreditar na vida eterna fora daqui do que na perfeição aqui. Em suma, tenho às vezes a impressão de que a parte do ensinamento e da militância da Igreja Católica para reconquistar a massa e se pôr, como sempre, no espírito do tempo, sofra excessivamente a influência do Vento da História. O tempo ‚ importantíssimo, mas não o é menos, e sim mais, a eternidade". (“Rosas e Pedras e Pedras do Meu Caminho”, página 185). VIDA I - "Há pessoas, porém, que nascem para sofrer e, por isso, não se importam de morrer. São as que mais pena me dão porque não sabem o que a vida vale quando se descobre que a melhor razão de viver é viver. Aos 20 anos, cortei o pulso para acabar com a vida, porque tudo me parecia acabado. E, aí, tudo começou. Tudo o quê? Tudo. As pessoas sem imaginação não entenderiam. Mas é para as outras que escrevo. Não escapei apenas de atentados dos outros, senão também os que cometi eu mesmo. Penso que escapei porque encontrei boas razões para viver. São tantas que dariam para várias vidas. Gosto da vida que Deus criou. O trabalho não é um castigo, é um treino para bem-aventurança. Não Lhe peço o que desejo, mas apenas o que Ele me queira dar. Ele tem me dado tanto que fico sem saber se é modéstia ou orgulho dizer". ("Rosas e Pedras do meu Caminho", co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 99). VIDA I – “Declaro a vida uma procura incessante do seu próprio sentido, esforço penoso, mas essencialmente insensato; se é preciso procurar a razão de existir é porque a simples existência, por si só, não basta; desde que não baste, bastar com ela é uma possibilidade sempre à vista, um recurso do qual sempre se pode lançar mão”. (“O Cão Negro, página 13). VIDA II – “Perdoa-me por ter nascido excessiva”, desculpa-se Magda.(*) Excessiva não é o termo, pois se há alguma coisa de que não é capaz é exatamente o excesso. A questão é que a dose justa para ela é o que daria para afogar de angústia ou desaminar muitas pessoas. Ela é do grupo, bastante reduzido, dos frágeis resistentes, dos caniços pensantes; no caso se diria, melhor do que Pascal, dos caniços frementes. Toda ela é um frêmito de vida, um contentamento de existir contido por vaga melancolia, uma espécie de tédio inexpresso pelo que sabe que as pessoas vão fazer: repetir erros, reproduzir pequenos truques, multiplicar momentos de fealdade, que no entanto se apagam com um simples sorriso, uma frase de espírito”. (“Em vez”, editora Nova Fronteira, 2a edição de 1976, página 122). VIDA III – “Vivo em confiança, de improviso, por conta de algo que deve ocorrer e, ainda que não ocorra, só por ter podido ocorrer, compensa e remunera. Mas que é chato, ele é. Que é insensata ela é. VIDA III - "Declaro a vida uma incessante procura do seu próprio sentido; esforço penoso, mas essencialmente insensato; se é preciso procurar a razão de existir é porque a simples existência, por si só, não basta; e desde que não baste, bastar com ela é uma possibilidade sempre à vista, um recurso do qual sempre se pode lançar mão". ( "O Cão Negro", 2a ed/Nova Fronteira/1971, página 13). VIDA IV – “Esta é uma das razões que me aborrece ao saber que, feitas as contas, a vida é curta. Pois gostaria estar no mundo quando o homem tiver coisa mais interessante a fazer do que fincar uma bandeira americana na lua antes que os russos plantem”. (“Em vez”, editora Nova Fronteira, 1976, 2a edição, página 186). VIDA V – “Às vezes me acusam de apressado. Se não fosse tão curta a vida, teriam razão. Mas há tanto o que fazer. O mundo está cheio de atrações e há tão pouco tempo para divertir-se em todas elas. Não perdi o senso lúdico, isto é, o gosto de fazer com gosto o que outros chamam o cumprimento do dever. Dever, sim, mas por gosto, quase diria, por divertimento. Isto é que me faz perdoar, isto muito mais do que humildade ou sentimento assim tão nobre. A vida é infinitamente variada e numerosa, não tenho tempo de odiar, que é uma forma de marcar passo. Vou andando.”. (“Crítica e Autocrítica”, editora Nova Fronteira, 1966, página 17). VIRTUDE –“Não me considero tão virtuoso que não possa conviver com o vício e não tão vicioso que possa perder tão facilmente a virtude.” (“Crítica e Auto Crítica”, editora Nova Fronteira, página 34). VISÃO - "Trata-se apenas de situar o problema nos devidos termos. Uma obra de governo é antes de tudo, uma obra de inspiração. O que se chama de equipe não existe sem comando. E comando exige intuição ou, se quiserem lhe dar esse nome tão barateado, visão. Visão do conjunto e do pormenor. Presença. Contato. Dedicação integral. Alta, pura, necessária ambição". (“Rosas e Pedras”, pagina 295). VISÃO POLÍTICA - "No auge do conflito entre as Forças Armadas e grande parte da opinião pública de um lado, e de outro, o Presidente João Goulart e as forças que o apoiavam, propus publicamente - como candidato a Presidente da República - ao então candidato Juscelino Kubstcheck, um entendimento público para contermos a ameaça da não realização de eleições e evitarmos a necessidade da intervenção militar. Quero crer que, confiante demais na sua força própria e certo de que carecia muito do apoio do Presidente João Goulart para a sua eleição, o Sr. Juscelino até zombou da minha proposta, em declarações que pelo menos lhe foram atribuídas nos jornais. Depois que o inevitável ocorreu, e lhe cassaram os direitos políticos o ex-Presidente manifestou que o seu pensamento evoluíra a propósito da idéia de um entendimento nacional". ("Crítica e Autocrítica", edição de 1966, pela Nova Fronteira, página 78). VIZINHOS - "Basta conhecer a lenda búlgara em que um gênio promete ao camponês: "pede o que quiseres, e terás; mas aviso-te, o teu vizinho receberá o dobro do que receberes". Então o camponês búlgaro pede ao Gênio: "Arranca-me um olho". ( Prefácio às 3 Peças: "O Rio", “Uma bailarina solta no mundo” e “Amapá ou o Lobo Solitário”,. co-edição Fundamar-Fub, 2002. VOZ DA CONSCIÊNCIA - "Durante o ano e pouco que durou a guerra de nervos de me cassarem os direitos políticos por dez anos, ou não, a única coisa que me preocupou não foi a cassação. É incomodo, é. Mas me livraria de uma série de obrigações que sou chamado a cumprir. Ficaria despojado de direitos, mas também de deveres. ( ....) Creio que a minha única força real é que estou sempre pronto a perder o que tenho e lutar para ter mais, a ser tido como um réprobo ou um herói, a sofrer a injúria ou receber o elogio, com mesma relativa indiferença - desde que esteja em bom entendimento com essa voz interior, que muitas vezes vi chamada de "voz da CONSCIÊNCIA. No momento não sei como preferem chamá-la. Talvez afirmação de personalidade". (“Rosas e Pedras do Meu Caminho”, co-edição UnB-Fundamar, 2001, página 56), WALTER MOREIRA SALES - "A articulação dos fundos necessários foi feita por Walter Moreira Sales, que no governo Dutra, por influência de Assis Chateaubriand, foi feito diretor de uma carteira do Banco do Brasil de onde partiu para se tornar uma figura internacional como embaixador e ministro de vários governos diferentes, sendo hoje o principal instrumento de interesses estranhos. Walter serviu-se de todos os governos e abandou todos eles, de Vargas a Castelo Branco - e agora prepara, com um banquete de admiradores pagos por ele próprio, a suar entrada no Governo Costa e Silva". ("Rosas e Pedras do Meu Caminho", pagina 239).
(*) “Está ela novamente na ordem do dia entre nós com o projeto de Carlos Lacerda (Diário do Congresso Nacional de 14 de junho de 1955, página 3.190). Esse combativo parlamentar voltou a pedir essa supressão só nas ações de sociedades anônimas. Invocou na respectiva justificativa a necessidade da nação conhecer os verdadeiros administradores ou controladores dessas empresas de vulto; aludiu também à evasão fiscal” (Revista Forense, n. 171, Rio de Janeiro página 53 do ano de 1957). [1] Tom Jobim (*) Raul Giudicelli afirma que este aparte foi dado a Elói Dutra e não à Ivete Vargas. (*) Reportagem enviada para o Brasil na Conferência de Paz realizada em Paris, no Hotel Luxemburgo (*) A sua participação na Revolta do Forte de Copacabana de 1922 que deu origem ao “tenentismo”. (**) Refere-se o Autor aos desatinos praticados pela ditadura militar implanta pelo AI 5 em 1968 no Brasil 15 “mandado à Câmara pelo Governo Dutra, em 1946 e ali tão boicotado que foi até perdido” [2] Discurso ao Presidente Leopoldo Senghor do Senegal, o Africano, em 19.09.1964. (*) John Fitzgerald Kennedy, Presidente do Estados Unidos da América do Norte (*) Ao que tudo indica a referência é ao Brigadeiro Eduardo Gomes como relatado em “Depoimento”, editora Nova Fronteira, 1977, página 109, quando o íntegro político empenhou-se pela nomeação de uma pessoa despreparada. (* Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”. 18 - 190 (*) Na América Latina. [3] - Isto nos primeiros dias depois da guerra vencida pelas nações democráticas em 1945. [4] - Livro e escrito pelo General Spíndola , “Portugal do Futuro”, publicado no Brasil 197 com prefácio de Carlos Lacerda e com insinuações de muitos, sempre negadas por ele, de ser o prefaciador o verdadeiro autor (*) Entrevista concedida a Otto Lara Rezende em 07.12.1963, na revista Manchete n. 607 (*) Discurso de paraninfo aos jornalistas (*) Reportagem enviada para o Brasil na Conferência de Paz realizada em Paris, no Hotel Luxemburgo (*) Trecho do longo improviso proferido em 22.11.1964, no Instituto da Educação do antigo Estado da Guanabara. [5] Roberto Campos, Ministro do Planejamento do Governo Castelo Branco e autor da objurgatórias contra Carlos Lacerda (*) Milton Campos, Prado Kelly, Adauto Cardoso, Carvalho Pinto, este em São Paulo mencionados em “Depoimentos”, editora Nova Fronteira, 1977, (página 254) (*)(Discurso em homenagem a Raul Brunini em março de 67, apud Mauro Magalhães, in “Carlos Lacerda – O sonhador Pragmático”, editora Civilização Brasileira, 1993, página 267) (*)As edições registram o nome do autor Marcos, um dos pseudônimos Lacerda. Esse livro traz uma dedicatória esplêndida: “Rio Paraíba, rio da escravidão, cujas águas profundas, tropeçando nas pedras do teu caminho, vão levando generosas a mancha da escravidão / Rio Paraíba, que não te fizestes navegável para não servir aos opressores dos meus irmãos escravos / Rio Paraíba da minha infância, cujas enchentes afogam a miséria dos meus irmãos camponeses / Rio Paraíba que vais correndo para não ver a miséria que vive pelas tuas margens, / Este livro é teu.” (***) Antonio de Oliveira Salazar que chefiou o governo de Portugal com mão de ferro desde 192 a (*) Carta ao Embaixador Batista Luzardo sobre o livro deste editado pela Nova Fronteira. Uma dos últimos textos escrito por Carlos Lacerda. (*) “A VIA SACRA” Primeira Estação – Obra inacabada/1978 - Editora Revista Liturgia e Vida. Este serviço de espiritualidade foi pedido por uma amiga que realizava trabalho pastoral. Estava revendo a publicação quando a morte colheu o Autor (*) Magdalena Tagliaferro, a grande pianista brasileira em entrevista para a revista Manchete
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