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                                                        | As cartas de Lacerda |  
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                                                        | CARTAS DE LACERDA 
 Ubiratan Brasil
 
 "As cartas de Lacerda", copyright O Estado de S. Paulo, 18/06/05
 
 "Um dos bens mais estimados por Carlos Lacerda (1914-1977) era um baú onde
 costumava guardar cópias das cartas enviadas para diversos interlocutores,
 além das respostas. E não eram poucos documentos - em contato constante
 com personalidades do mundo político e artístico, tanto no Brasil como no
 exterior, o homem que comandou a ferrenha campanha contra Getúlio Vargas
 em 1954, culminando com o suicídio do então presidente, colecionava quilos
 de papéis, certamente já preocupado com sua biografia.
 
 'Essa intensa troca de cartas tem tal dimensão que dificilmente será
 suplantada por qualquer outro arquivo em quantidade e na qualidade',
 acredita o historiador Túlio Vieira da Costa, que comandou uma equipe
 responsável pela seleção da correspondência que integra os dois volumes da
 obra Minhas Cartas e a dos Outros, lançados agora pela Editora da
 Universidade de Brasília (333 e 358 páginas, respectivamente, ao preço de
 R$ 54 cada). Os originais foram escolhidos entre os quase 60 mil itens que
 integram o Fundo de Arquivo Carlos Lacerda, acervo entregue pela família
 do político à UnB, em 1979. Em meio a um material tão vasto, Costa decidiu
 escolher cartas de épocas marcantes da vida de Lacerda. Além disso,
 resolveu ainda selecionar também as missivas recebidas de escritores e
 políticos, estabelecendo um proveitoso diálogo.
 
 Lacerda construiu uma carreira de grande importância histórica. Segundo o
 historiador José Honório Rodrigues, trata-se da personagem civil que
 possivelmente mais influenciou com eficácia nos rumos da história
 brasileira entre 1945 e 1968. Participou, por exemplo, na deposição de
 cinco presidentes da República: Getúlio Vargas (duas vezes), Carlos Luz,
 Café Filho, Jânio Quadros e João Goulart. Cinco, se for levada em conta a
 queda da ditadura salazarista, em Portugal. 'Por conta disso, decidimos
 deixar de lado as cartas trocadas com familiares, concentrando a atenção
 em nomes mais conhecidos', explica Costa, que só publicou as cartas de
 terceiros depois de conseguida autorização de seus familiares ou
 detentores dos direitos legais.
 
 É o que explica, por exemplo, a ausência da adaptação que Lacerda e Edgard
 Cavalheiro fizeram do Sítio do Pica-Pau Amarelo para um programa levado ao
 ar pela Rádio Gazeta de São Paulo, em 1943 - segundo Costa, os herdeiros
 de Monteiro Lobato se negaram a consentir a publicação. 'Mesmo assim,
 selecionamos alguns documentos que fazem referência ao programa', comenta.
 Por outro lado, Costa escolheu trechos que revelam um relacionamento
 intenso com os escritores, especialmente depois que fundou a editora Nova
 Fronteira que, recentemente, negociou a metade de seu controle acionário
 com a Ediouro.
 
 Foi pelas cartas, por exemplo, que Lacerda descobriu ter em Carlos
 Drummond de Andrade um admirador e não um desafeto."
 
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