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Amílcar de Castro de A a Z
Direito Internacional Privado, de Amílcar de Castro, este pode ser adiquirido no todo ou em parte pelo www.revistaforense.com.br
Inauguração Sala Especial Desembargador Amílcar de Castro
Nova Etapa do Projeto Desembargador Amílcar de Castro
Carlos Lacerda de A a Z
Entrevista do Presidente da Fundamar sobre Carlos Lacerda no Programa "Sintonia" do canal de TV da Câmara Federal em 2008
Reencontro com Carlos Lacerda - texto de Murilo Badaró
Relação dos livros de C. L. co-editados pela Fundamar
Feridos pelos mesmos espinhos - Carta de Juscelino a Carlos Lacerda
Arquivo Carlos Lacerda na UnB - História Resumida
Carlos Lacerda e a Educação no Brasil
Artigo de Márcio Moreira Alves em 11/01/1997
Prêmio da Fundação Abrinq
Iniciativa da Fazenda Escola Fundamar deve ser modelo - matéria da Abrinq
Prêmios Bem Eficiente recebidos de 1997, 2000, 2005 e 2006
Xadrez - Poema dos alunos da E.E. Fundamar
LIVROS E IMPRENSA
Matéria sobre a Fundamar, publicada pela Vale Rio Doce, no intervalo do Jornal Nacional
Quem Carrega o Pesado
O Rio Sapucaí: Anotações Para Uma Narrativa Histórica
Memorial Nildo Antonio de Paiva
A Saga do Café Fino – por Maria Lúcia Prado Costa
Um polemista muito bem relacionado
As cartas de Lacerda
O ESCRITOR E EDITOR CARLOS LACERDA
CERTIFICADO - IV SIMPÓSIO IBERO-AMERICANO DE HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA
O Rio Sapucaí: Anotações Para Uma Narrativa Histórica
Maria Lúcia Prado Costa - Fundação 18 de Março (FUNDAMAR)

A atual lei de recursos hídricos – lei federal n. 9.433/97 – incita os historiadores a repensar o espaço geográfico a partir do recorte das bacias hidrográficas, tendo como foco a identificação dos marcos temporais do protagonismo do rio na estruturação do seu entorno.

Diferentemente de outros rios que cortam o território mineiro, como o São Francisco, o Doce, ou o Jequitinhonha, cantados em prosa e verso, o rio Sapucaí não inspirou nossa literatura nem mereceu atenção dos historiadores que se dispusessem a construir uma narrativa sobre sua importância para o território por ele banhado.

Este texto apresenta alguns apontamentos para a construção dessa narrativa, só que restrita ao baixo vale do rio Sapucaí.

O rio Sapucaí não é um rio menor em termos hidrográficos. Com um leito original de 340km, nasce em Campos dos Jordão , na Serra da Mantiqueira, no estado de São Paulo e, antes do impacto de Furnas (1957), desaguava no distrito de São José da Barra, no então município Alpinópolis, em Minas Gerais, no leito do rio Grande, uma das principais bacias hidrográficas deste estado. Segundo o Comitê da Bacia Hidrográfica do Sapucaí (CBH-Sapucaí), hoje o leito do rio é de 248km e a bacia abrange um território de aproximadamente 8.824km². O baixo curso, ainda de acordo com o CBH, inicia-se a partir do encontro do rio Sapucaí-Mirim com o rio Sapucaí e segue até a foz deste na represa de Furnas, no município de Paraguaçu. Nesse trecho, sua extensão é de 143km.

Anteriormente ao barramento de Furnas, na década de 50, o baixo Sapucaí se estendia a jusante de Paraguaçu pelos territórios dos municípios de Fama, Elói Mendes, Três Pontas, Campos Gerais, Alfenas, Boa Esperança, Carmo do Rio Claro e Alpinópolis. E a montante de Paraguaçu, pelos territórios de Monsenhor Paulo, Machado, Poço Fundo, Carvalhópolis, Cordislândia, Turvolândia e São Gonçalo do Sapucaí.


No período colonial, o rio Sapucaí teve grande importância para a sobrevivência de tribos indígenas da nação cataguás; foi local de descobertos de ouro e fixação dos núcleos de povoamento a eles associados; referência para a definição de sesmarias; linha de delimitação de territórios administrativos e eclesiásticos disputados entre São Paulo e Minas; marco para instalação de registros fiscais; espaço de sedições contra as autoridades metropolitanas, conflitos estes que se confundem com o dos quilombos do Sapucahy – tema sempre recorrente na historiografia sobre a escravidão.

No período imperial, o desenho do rio determinou os traçados ferroviários, disputados entre fluminenses e paulistas – trajetos esses associados à navegação. A efetivação dos projetos ferroviários para o sul de Minas, contudo, se fez por outros caminhos, definidos por interesses mais políticos do que de viabilidade técnica, fragilizando o potencial do rio como rota de transporte, comércio e comunicação.

No período republicano, o uso do Sapucaí como hidrovia até meados da década de 40 foi definitivamente suplantado na década seguinte pelos projetos de energia e transporte do governo desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961): a construção da então maior hidrelétrica do Brasil, a Usina de Furnas (1957) e da rodovia Fernão Dias (1959), focados no desenvolvimento do parque industrial do estado de São Paulo.

1. O baixo Sapucaí no período colonial

A historiografia informa a presença de tribos da nação Cataguás no baixo vale do Sapucaí. Pesquisas arqueológicas realizadas pelo Prof. Ondemar Dias Júnior na década de 70 indicaram vestígios da cerâmica Sapucaí, notadamente nos municípios de Carmo do Rio Claro , Alfenas e Paraguaçu. Estes sítios arqueológicos foram tombados pelo Instituto Histórico do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) embora sem a devida proteção como bem patrimonial.

Na rememoração dos embates entre os índios e os primeiros exploradores do vale do Sapucaí são citados os ferozes índios lopos, que deram inclusive denominação à serra da cordilheira da Mantiqueira, bastante referida na cartografia do século XVIII: a Serra do Lopos.

Atribui-se aos índios a designação do nome do rio, escolhido em função da abundância das árvores de sapucaias então existentes em suas margens, e hoje em extinção.

Eurico Teixeira, autor de “Frutas do Brasil”, de 1954, traz o seguinte elogio à sapucaia:

Não vou cantar em hinos o valor da sapucaia, mas ... seu fruto é todo aproveitado: a caçamba é marmita, pote, vasilha, enfim: a polpa é comível, medicinal, altamente alimentícia; as sementes ou castanhas-de-sapucaia têm bom paladar, dão magnífico óleo, são alimento substancial; a folha em cinzas emprega-se como bom adubo; as raízes têm aplicação terapêutica. (TEIXEIRA apud SILVA, 1996, p. 224)

Dizem que a expressão popular “macaco velho não bota mão em cumbuca” refere-se ao coco da sapucaia mais afeito à “mão” dos macacos jovens.

A descoberta do rio Sapucahy é atribuída a diversos bandeirantes paulistas, em expedições datadas desde a última década do século XVI até meados do século seguinte, e presume-se que tenha sido concomitante à descoberta do rio Verde. Teriam chegado ao vale do rio Sapucaí, as expedições de João Botafogo (1596), Martim Correa de Sá, Padre João Farias, Matias Cardoso de Almeida (1664), entre outros, havendo inclusive hipóteses sobre eventuais encontros entre algumas dessas bandeiras.

Mas a conquista do vale do Sapucaí como território mineiro foi objeto de duras disputas entre autoridades metropolitanas e forasteiros e bandoleiros que já exploravam o ouro deste território anteriormente à ocupação oficial. Disputas essas acirradas pelo conflito entre as próprias autoridades metropolitanas, civis e eclesiásticas, notadamente entre paulistas e mineiros.

A partir da Guerra dos Emboabas (1708/1709), os conflitos pela posse das minas desencadeiam uma séria de medidas administrativas visando assegurar a presença nos sertões das autoridades metropolitanas. Em 1714 foram criadas na região das Minas, comarcas, entre elas a Comarca do Rio das Mortes, tendo como sede a Vila de São João del Rey . Para contestar a delimitação dessa comarca ao sul, autoridades paulistas fixaram novo marco em Caxambu, que foi removido pelos mineiros em 1731, inaugurando uma série de conflitos violentos em que as ordens régias pouco valiam.

Os impactos ambientais da exploração do ouro nos rios eram intensos.

As descobertas de ouro, [...], foram a principio mais freqüentes nos ribeiros que nos rios. [...] No começo era muito facil a exploração do ouro nos leitos dos rios e córregos [...]. Poucos annos, porem, depois estes se foram cobrindo de lama, de sorte que se tornou mais difficil a exploração dos depósitos mais ricos de ouro, que se iam sempre afundando [...]. O represamento e o desvio das águas atravez dos baixios próximos de depósitos de alluvião é que conduziu á descoberta do ouro nas margens dos rios e nessas baixadas (taboleiros). (SILVEIRA, 1927, p. 52)

A legislação sobre o uso da água remonta ao século XVIII, com a Provisão das Águas ou “Regimento das Águas” de 1720, determinada pelo Conde de Assumar, na Capitania das Minas e São Paulo . Por esta ordenação,

[...] se concedia ao mineiro o direito às águas enquanto tem terra para trabalhar, e acabando o lavor, tornam as águas para a repartição do guarda-mor, e por isso, o mineiro empossado das águas não as pode dar nem vender a outrem, nem também mineiro algum pode apropriar-se das águas sem ter concessão delas por escrito do guarda-mor, o que regularmente chama-se de ‘provisão das águas’. (QUEIROZ, 1999, p. 729)

Há quem entenda este documento como um marco na regulação dos recursos hídricos no Brasil, e veja similitudes entre ele e um dos princípios da atual Política Nacional de Recursos Hídricos: o direito de outorga.

O bando de aditamento ao Regimento de Minerar, de 1736, declarou os sertões como áreas proibidas e, portanto, fechadas à ocupação. Paradoxalmente, no ano seguinte o ouvidor de São João del Rey, Cypriano José Rocha, marca oficialmente a posse do rio Sapucahy para as autoridades da Capitania de Minas. Nas cartas em que narra a “descoberta” do rio Sapucahy, “só conhecido pela tradição dos paulistas”, o ouvidor descreve Campanha como um arraial já estruturado, o que sugere que o povoamento do baixo Sapucaí já vinha acontecendo apesar das vistas grossas das autoridades da Capitania de Minas – separada da Capitania de São Paulo desde 1721.

A partir do reconhecimento oficial da região pelas autoridades mineiras, são efetivados os descobertos de ouro em São Gonçalo do Sapucaí (1739) e Santana do Sapucaí (1746). A posse canônica do segundo descoberto em 1750 teria ensejado conflitos entre o Bispado de Mariana, de Minas Gerais e o Bispado de Guaratinguetá, de São Paulo. Tais conflitos já vinham desde 1747, quando da “Questão das Cinco Igrejas”, em que os bispados disputavam a jurisdição eclesiástica sobre as igrejas de Aiuruoca, Baependi, Campanha, Carrancas e Pouso Alto. O rio “Sapucahy” era a linha divisória entre as duas dioceses.

A cartografia da época sobre os limites entre as capitanias evidencia os conflitos entre ambas.

No mapa “Demonstração de P.te da Diviza desta Capitania com a de S. Paulo”, produzido por volta de 1800, encontra-se representada a divisa entre Minas Gerais e São Paulo, bem como a rede de caminhos entre essas duas capitanias, tendo os rios Paraíba, Baependi, Aiuruoca, Verde e Sapucahi [Sapucaí] e a Serra da Mantiqueira como referências. (COSTA. A., 2007, p. 158)

Este mapa apresenta uma curiosa inversão na representação cartográfica tradicional entre o Norte e o Sul, sendo a capitania de São Paulo desenhada na parte setentrional e a capitania de Minas, na porção meridional. Nesta porção figura parte do vale do rio Sapucahy. Foram assinalados a posteriori, seguindo as indicações da legenda do mapa, o registro de Itajubá (n. 7); a Vila de Campanha (n. 10), criada em 1798; o Arraial de São Gonçalo (n. 11) e o Morro do Lopo (n. 16).  

O combate das autoridades mineiras aos conflitos “de Campanha”, do “rio Verde” e do “Sapucaí” – denominações dadas pela historiografia provavelmente ao mesmo episódio – se confunde com a questão do combate ao “quilombo do Sapucahy”. Segundo a historiadora Carla Anastasia (2005), a expressão quilombo aparece na documentação da época significando indistintamente tanto os agrupamentos de escravos fugidos quanto os motins.

Os códices do Arquivo Público Mineiro que tratam do combate ao quilombo do Sapucahy dão margem aos dois sentidos da expressão quilombo. O primeiro é a carta de 03 de dezembro de 1751 sobre o levante provocado pelo chefe do quilombo Sapucahy em que foram expulsos os donos das lavras. Este códice ainda inclui a petição para que sejam capturados os alevantados . Segundo a carta, o levante teria ocorrido “no districto de São Gonçalo do Rio Verde, junto ao Ryo Sapucahy”.

O segundo documento, datado de 14 de novembro de 1759, é a carta do Governador José Antonio Freire de Andrade sobre as providências tomadas quanto à destruição do quilombo do Campo Grande e às dificuldades para a destruição do quilombo do Sapucahy.

E o terceiro é a carta referente à destruição do quilombo do Sapucaí, datado de 26 de novembro de 1760.

A principal referência da cartografia histórica sobre os quilombos do Sul de Minas, o “Mapa do Capitão França”, provavelmente de 1765, seria posterior à destruição do quilombo do Sapucaí. Entre os inúmeros quilombos assinalados nos vales do rio Sapucaí e Verde, o mapa já não identifica nenhum quilombo com a designação de Sapucaí.

Mas o combate ao “quilombo do Sapucay” parece ter mobilizado grande volume de recursos tanto da Metrópole Portuguesa quanto das principais vilas da Capitania de Minas, o que sugere tratar-se mais de um motim do que de um quilombo de escravos. Mas a dúvida persiste, haja vista o verbete “quilombo do Sapucaí” do Dicionário Histórico Brasil Colônia e Império (2002).

O Dicionário informa, sem citar a data, que o combate ao quilombo do Sapucaí foi financiado pelos Senados da Câmara de Vila Rica, de Mariana, de São João del-Rei, de São José [Tiradentes], Sabará e Vila Nova da Rainha [Caeté]. Para esta expedição, as câmaras contribuíram com 2750 oitavas de ouro, ficando responsáveis pela manutenção dos integrantes, enquanto o rei de Portugal forneceu as armas, pólvoras e balas. Segundo a mesma fonte, estima-se em 600 negros o número de habitantes do Quilombo do Sapucaí, considerado o mais antigo da Capitania. (BOTELHO; REIS, 2002).

Os conflitos entre paulistas e mineiros prosseguem, sendo impossível a escolha de um marco topográfico de consenso entre os litigantes. Em 1765, atendendo a reclamações dos paulistas, o Vice-rei do Brasil, Conde da Cunha, D. Antonio Álvares da Cunha (1763-1767), teria cedido a eles a margem esquerda do Rio Sapucahy.

Mas ao que indicam as fontes, a determinação não foi cumprida, pois nesta mesma data a Capitania de Minas concedia sesmarias do lado esquerdo do rio Sapucaí.

O Padre Hiansen Franco apresenta em seu livro, “Fama – subsídios para sua História” (2008), uma série de sesmarias que tinham como delimitação o rio Sapucahy no sertão de Três Pontas, entre 1764 e 1801, segundo consulta ao Catálogo de Sesmarias do Arquivo Público Mineiro. Outros pesquisadores de Paraguaçu, Machado e Três Pontas também identificaram sesmarias concedidas pela Câmara de São João Del Rei para o território desses municípios à margem esquerda do rio.

Paralelamente aos conflitos entre as capitanias, as autoridades coloniais mineiras instalavam próximos aos cursos d’água “registros” ou “passagens” para cobrança de impostos. Há dúvidas quanto aos registros instalados no baixo curso do rio Sapucahy. As referências a eles feitas pelo historiador Waldemar de Almeida Barbosa e pela Seção Memória da Receita Federal não convergem.

O mapa de 1777 de José Joaquim da Rocha (Ca 1740 – 1804), militar e cartógrafo português, marca a “passagem do Sapucahy” em algum ponto entre São Gonçalo da Campanha (São Gonçalo do Sapucaí) e Santana do Sapucahy (atual Silvianópolis) corroborando a informação de Monsenhor Lefort sobre a criação em 1750 do registro de Caruaçu, hoje Volta Grande. (LEFORT, 1996)

Neste mapa foram assinalados a posteriori a foz do rio Verde no Sapucaí, a foz deste no rio Grande e ainda o Morro do Lopo, marco de uma das muitas divisões entre a capitania de Minas e a de São Paulo. Foram também indicadas por setas, a “Passage” do rio Grande e a “Passage” do Sapucahy.

2. O baixo Sapucaí no Império

No segundo império, o Sapucaí também inspirou um projeto frustrado de divisão administrativa do território brasileiro.

Em 1862, projeto do deputado mineiro Cruz Machado (1820-1905) propunha a reorganização territorial do país, que incluía a constituição da Província do Sapucahy. Cruz Machado viria a ser um dos sócios da Cia. Estrada de Ferro Sapucaí, criada em 1.887, por Luiz Matêus Maylasky, (1838-1906), visconde de Sapucaí. Mas o projeto de nova divisão territorial não se concretizou.

Os vales do rio Verde, Sapucaí e Muzambinho inspiraram trajetos ferroviários para o Sul de Minas, notadamente a partir de 1870, e eram em geral consorciados aos projetos de navegação fluvial. As disputas políticas, entretanto, fizeram com que seus traçados tivessem sentido perpendicular ao do leito desses rios. Tanto a Minas and Rio Railway Co. (1880), quanto a E. F. Muzambinho (1887) e também a Cia. E. F. Sapucaí (1887) tiveram seus projetos originais modificados por ingerências políticas. Questão sempre latente na definição dos trajetos ferroviários era a disputa pela ligação da região ou a São Paulo ou ao Rio de Janeiro, capital do Império - disputa essa efetivamente ganha pelos paulistas quando da chegada dos trilhos da Estrada de Ferro Mogiana, de capital paulista, em Poços de Caldas em 1886 e em Guaxupé em 1904.

A figura 4 traz o mapa dos traçados ferroviários do sul de Minas adaptado do livro de Vasco de Castro Lima, de 1934, intitulado “A Estrada de Ferro Sul de Minas: 1884-1934”.

Projeto de ramal, não efetivado, da Estrada de Ferro Sapucaí entre Pouso Alegre e Alfenas , no baixo vale do Sapucaí, datado de 1892, evidenciava o potencial da região como exportador de gado vacum, cavalar e suíno, notadamente em Pouca Massa, uma das estações projetadas e hoje distrito de Guaipava, às margens do rio Sapucaí em Paraguaçu.

Além do transporte ferroviário, a Estrada de Ferro Sapucaí tinha por objetivo a exploração da navegação a vapor do rio Sapucaí entre Pouso Alegre e Campanha.

3. O baixo Sapucaí na República

Referências à navegação a barco no rio Sapucaí aparecem esparsamente nas fontes do século XIX ao lado da expectativa com a inauguração das linhas fluviais por barcos a vapor, quando se discutiam os projetos ferroviários para a região

A navegação do rio Sapucaí no baixo vale apresentava dois trechos navegáveis, interrompidos pelas cachoeiras da Escaramuça ou Cubatão (Paraguaçu). Um trajeto ia do Porto Sapucaí (estação da E. F. Sapucaí em Santa Rita do Sapucaí) a Cubatão. O outro, de Fama a Porto Carrito no Carmo do Rio Claro. Ali a navegação era interrompida por duas cachoeiras: Cruzes e Itapecerica.

Assim como a história dos trajetos ferroviários, também a recuperação das marchas e contramarchas da navegação a vapor na região não é tarefa simples. Em nossas pesquisas identificamos um fac-símile de uma ação da Companhia Navegação Sul Mineira, datada de 1893, com o capital de Rs 150:000$000, divididos em 750 ações de 200$000, e sede no Carmo do Rio Claro.

As fontes consultadas indicam para 1894 a primeira data de efetivo trajeto entre Fluvial, estação da Estrada de Ferro Muzambinho e porto do rio Verde, em Elói Mendes, seguindo pelo Sapucaí até Porto Carrito, no Carmo do Rio Claro.

Em 1926 Victor da Silveira identificava duas empresas no transporte fluvial do Sapucaí: a Rede Sul Mineira e a Navegação Fluvial do Rio Sapucahy. Em 1934, Vasco de Castro Lima identificava três empresas: uma no trajeto a montante de Cubatão e duas no trajeto a jusante de Fama.

O mesmo autor relata sobre a inviabilidade econômica das empresas de transporte fluvial no rio e a incorporação de uma delas pelo estado. Não há clareza nas fontes consultadas sobre a data de extinção da navegação a vapor no rio Sapucaí. Ana Beraldo e autoras de livro jornalístico sobre o rio Sapucaí (1992) informam a data de 1940. Lei estadual de 1946 conferindo subvenção à navegação do rio Sapucaí sugere ao menos uma tentativa de revitalização desse serviço em data posterior a indicada por Ana Beraldo.

O Código de Águas de 1934 regulamenta o papel da União em fiscalizar a produção, a transmissão, a transformação e a distribuição de energia hidroelétrica.

A ascensão de Juscelino Kubitscheck (JK) ao governo federal (1956-1961) marca a definitiva superação do rio Sapucaí como protagonista de seu entorno. Para viabilizar o binômio “energia e transporte”, pilar de seu projeto desenvolvimentista, JK construiu a maior usina hidrelétrica do país no período, Furnas (1957), no rio Grande, e a rodovia Fernão Dias (1959).

Furnas inundou uma área de 1.406,23km² de 31 municípios sul-mineiros, segundo revisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), em 2001. O leito do rio Sapucaí, afluente do rio Grande, foi alterado desde sua foz até Paraguaçu – coincidindo com o trecho navegável de Fama ao Carmo do Rio Claro. Os historiadores das cidades atingidas informam a truculência com que Furnas teria agido sobre os interesses da população afetada, decepcionando inclusive seus aliados políticos locais. Muitas das promessas de compensação da região não se efetivaram. A epopéia da construção de Furnas é tema ainda remanescente na memória dos moradores das regiões atingidas, mesmo passados cinqüenta anos.

A construção da rodovia Fernão Dias, cortando o território sul-mineiro para interligação entre o principal pólo industrial do país, São Paulo, e Belo Horizonte, a capital de Minas Gerais, teria marcado o fim do protagonismo do rio Sapucaí no ordenamento de seu entorno.

O esforço da engenharia nacional para a realização do binômio “energia e transporte” de sustentação do projeto desenvolvimentista da JK teria superado o condicionamento do meio físico à ação antrópica. O rio Sapucaí já tinha cumprido o seu papel.

REFERÊNCIAS
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BERALDO, Ana Beraldo et al. Sapucaí, o caminho das águas. Trabalho produzido como projeto experimental para conclusão do curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo da Faculdade de Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Eugênio Pacelli”, Pouso Alegre (MG), 1992. 119p. Il.

BOTELHO, Angela Vianna; REIS, Liana Maria. Dicionário histórico Brasil colônia e império. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2002. 302 p. Il

COSTA, Antônio Gilberto. (Org.). Roteiro prático de cartografia: da América Portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.

DEMONSTRAÇÃO de p.te da diviza desta CAPITANIA [Minas Gerais] com a de S. Paulo. c. 1800. 21,0 x 32,0 cm; Manuscrito e aquarela; APM (SC-010). Fotografia: Tibério França. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro prático de cartografia: da América Portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. P. 160.

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JABLONSKY. Tibor. Rio Sapucaí no município de Paraguaçu (MG). Arquivo Fotográfico Ilustrativo dos Trabalhos Fotográficos de Campo. 1958. Disponível em: < http://biblioteca.ibge.gov.br/fotografias_detalhes.php?id=12845>. Acesso em: 30 jul. 2010. 1 fotografia P&B.

LEFORT, Monsenhor José do Patrocínio. O Sul de Minas e as Bandeiras. Trabalho histórico apresentado no Congresso de História do Bandeirantismo, por ocasião do tricentenário da bandeira de Fernão Dias, ocorrido a 21 de julho de 1974. Centro de Estudos Campanhenses Mons. Lefort/ Prefeitura Municipal de Campanha. (Série Campanhenses Ilustres) n. 8. Campanha, Minas Gerais. Novembro de 1996.

LIMA, Vasco de Castro. A Estrada de Ferro Sul de Minas: 1884-1934. Trabalho histórico-descritivo, organisado pelo Secretario da Estrada [...]. São Paulo: COPAG, 1934. 272 p. Il.

ROCHA, José Joaquim da. Mappa da Comarca do rio das Mortes pertencente a Capitania de Minas Gerais. 1777. Disponível em: < http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart530294.jpg> Acesso em 10. abr. 2010.

ROMEIRO, Adriana; BOTELHO, Ângela Vianna. Dicionário Histórico das Minas Gerais. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

QUEIROZ, Renato da Silva. Caminhos que andam: os rios e a cultura brasileira. In: REBOUÇAS, Aldo da Cunha; BRAGA Jr., Benedito P. F.; TUNDISI, J. G. (Org.) Águas doces no Brasil. São Paulo: Escrituras, 1999.

SILVEIRA, Victor (Org.). Minas Geraes em 1925. Bello Horizonte: Imprensa Official, 1926. 155p. il.

TEIXEIRA, Eurico. Frutas do Brasil In: SILVA, Silvestre. Frutas no Brasil. Texto de Helena Tassara. São Paulo: Nobel, 2001.
 
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